Boulos eleva tom e aposta em voto de protesto para atrair eleitores de Pablo Marçal no 2º turno

Candidato Guilherme Boulos (PSOL) vem adotando uma postura mais enérgica contra Ricardo Nunes (MDB) e apostando no discurso de “mudança”, com a avaliação de que parte dos votos em Marçal foram um gesto de protesto; além de prometer incorporar propostas que dialoguem com esse segmento

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Foto do author Hugo Henud

O candidato Guilherme Boulos (PSOL) tem apostado em diversas frentes para atrair o eleitorado de Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar nas eleições, conquistando 1,7 milhão de votos. Nos primeiros dias do segundo turno para a Prefeitura de São Paulo, Boulos prometeu incorporar propostas que dialoguem com esse segmento, além de adotar um tom mais enérgico, alinhado ao discurso de “mudança” — uma estratégia baseada na percepção de que parte dos votos direcionados ao ex-coach foram um gesto de protesto contra o sistema político tradicional.

Rejeitado por 92% dos eleitores de Marçal, segundo o último Datafolha, Boulos tem se colocado como o “candidato da mudança”, em oposição ao “mais do mesmo”, representado, em sua visão, por seu adversário no segundo turno, Ricardo Nunes (MDB) — apoiado, por sua vez, por 84% dos que votaram no ex-coach, de acordo com o mesmo levantamento.

Guilherme Boulos tiveram embate durante o debate do Estadão no primeiro turno Foto: Werther Santana/Estadão

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“O que está em jogo nesse segundo turno é o seguinte: só há dois caminhos. Quem quer que a cidade permaneça como está? Quem quer o mesmo grupo político no poder? Está com o meu adversário. Quem quer mudança? Se você sabe que precisamos de mudança, está com a gente”, afirmou Boulos em uma agenda de campanha na última sexta-feira, 11, no bairro da Brasilândia, Zona Norte da capital paulista.

O Estadão apurou que, para a campanha de Boulos, a adesão a Marçal foi motivada mais por um voto de protesto de eleitores descontentes com a política tradicional, representada por figuras como Nunes, do que por razões ideológicas. Assim, a estratégia do psolista passa por atrair esse segmento insatisfeito, reforçando sua imagem como uma alternativa de mudança e buscando conquistar parte dos votos que, até o momento, estão majoritariamente com o emedebista.

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Simultaneamente, Boulos tem adotado um tom mais enérgico, intensificando suas falas tanto em atos de campanha quanto em entrevistas. No pronunciamento logo após o resultado da votação no domingo, 6, ele já sinalizou a mudança de postura ao afirmar que Nunes “tem histórico de relação com o crime organizado, com tráfico de drogas, e botou o crime organizado no comando da Prefeitura de São Paulo.”

Durante o evento de campanha “Plenária Arrancada da Vitória”, realizado na quarta-feira, 9, Boulos criticou a gestão de Nunes em diversas ocasiões, chamando-o de “pau-mandado do Centrão”, em referência aos partidos que compõem a coligação do emedebista.

Poucas horas antes, na sabatina realizada pelo O Globo, o candidato do PSOL acusou seu adversário de fazer uso de “caixa dois”, prática ilegal de financiamento de campanha. Na sequência da mesma entrevista, Boulos aproveitou para rebater a percepção de que, neste início de segundo turno, estaria adotando um tom mais agressivo. “Onde talvez vejam estridência, eu vejo firmeza”.

Da mesma forma, no debate da Band, realizado nesta segunda-feira, 14, Boulos intensificou os ataques contra Nunes, especialmente em relação ao apagão que deixou mais de dois milhões de pessoas sem energia na região metropolitana de São Paulo após o temporal da última sexta-feira, 12. Em um dos intervalos, a equipe de Nunes chegou a reclamar com a produção, alegando que o candidato do PSOL estava utilizando a regra que permite movimentação pelo palco para se aproximar do emedebista com a intenção de intimidá-lo.

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Nas propagandas eleitorais, a campanha também tem buscado associar Nunes ao crime organizado, destacando, por exemplo, a relação de um servidor de carreira da Prefeitura com um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC).

O entorno de Boulos justifica o ajuste em seu comportamento em resposta à avaliação de que Marçal atraiu eleitores com uma postura mais incisiva, captando a indignação dos paulistanos em relação ao status quo político. Ao expor os casos relacionados a Nunes, a campanha busca, portanto, posicioná-lo como um político que representa o sistema e, ao mesmo tempo, aumentar a rejeição ao atual prefeito.

Em outra frente, o candidato também tem atuado no plano programático, prometendo incorporar uma das propostas de Marçal: as “escolas olímpicas”, que buscam equipar as instituições de ensino públicas para a prática de esportes olímpicos. Além disso, comprometeu-se a implementar iniciativas do plano de governo de Tabata Amaral (PSB), como o “Jovem Empreendedor”, que oferece crédito para jovens que desejam empreender e abrir seu próprio negócio, fomentando o empreendedorismo na capital — uma das principais bandeiras de campanha do ex-coach.

Estratégia pode aumentar rejeição

O cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública (DOXA), Bruno Schaefer, avalia que, embora a estratégia de Boulos seja válida, as sinalizações do candidato têm poucos efeitos eleitorais, já que Marçal escolheu Boulos como seu principal alvo, dificultando a transferência de votos nesta reta final.

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Schaefer também alerta que o tom mais elevado adotado por Boulos, embora necessário por estar atrás nas pesquisas, pode ser arriscado e aumentar ainda mais sua rejeição, que já está em 58%, segundo o último pesquisa do Datafolha.

Nunes quer consolidar eleitores de Marçal

Nunes, por sua vez, apesar de contar com o apoio natural desse segmento, promete um programa focado em empreendedorismo. Durante agendas na primeira semana do segundo turno, o prefeito evitou criticar diretamente Marçal, afirmando que pretende avaliar quais de suas propostas podem ser implementadas em sua gestão, caso seja reeleito.

Como mostrou o Estadão, o ex-coach não apoiará o prefeito e liberou seus eleitores para adotarem a posição que quiserem.

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