Boulos formaliza candidatura em ato com Lula, que vê eleição em SP como chave na disputa nacional

Candidato do PSOL será o primeiro a ter seu nome confirmado, no sábado, e passará a uma nova fase da campanha; PT aposta em Marta, Erundina e Haddad no palanque para resgatar ‘legado’

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Foto do author Zeca  Ferreira
Foto do author Bianca Gomes
Atualização:

Uma das principais apostas da esquerda para a disputa eleitoral de 2024, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) será o primeiro a formalizar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo na convenção partidária marcada para este sábado, 20. O evento vai contar com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reforçando a importância da eleição paulistana para os futuros planos do presidente. Com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com possível adversário e liderança à direita em 2026, e o apoio do Jair Bolsonaro a Ricardo Nunes (MDB), uma vitória na capital paulista é considerada estratégica para Lula, que, por causa disso, determinou que seu partido abrisse mão da candidatura em prol do psolista, considerado mais viável em seu campo.

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Ex-prefeitos pelo PT em São Paulo serão estrelas do evento. Marta Suplicy (PT), vice na chapa de Boulos, também estará presente na convenção. Além dela, são esperados outros dois ex-ocupantes do cargo: a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), que governou a capital paulista de 1989 a 1992, e um dos homens fortes do governo federal, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, que administrou São Paulo entre 2013 e 2016. Outros ministros do governo Lula também são esperados no evento.

Parte da estratégia eleitoral de Boulos consiste em resgatar o legado dos ex-prefeitos de esquerda. A gestão de Erundina foi marcada por projetos de habitação social, enquanto a de Haddad se destacou pelo Plano Diretor. Marta é reconhecida pela implementação do bilhete único. Apesar disso, Haddad e Marta não conseguiram a reeleição, e Erundina, que governou quando o mecanismo ainda não existia, não conseguiu eleger seu sucessor (veja mais abaixo).

Segundo o calendário eleitoral, os partidos devem realizar as convenções entre 20 de julho e 5 de agosto. Já as candidaturas devem ser registradas na Justiça Eleitoral até 15 de agosto.

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Deputado Federal, Guilherme Boulos, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de anúncios relativos ao Novo PAC Seleções em São Paulo  Foto: Ricardo Stuckert/PR

Histórico de administrações petistas

Eleger Boulos prefeito de São Paulo é uma das prioridades de Lula nas eleições municipais deste ano. Os petistas temem que uma eventual vitória do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) possa ser interpretada como um triunfo do bolsonarismo na maior cidade do país e um prenúncio do retorno da direita ao poder em 2026.

Embora Nunes não seja um candidato propriamente bolsonarista, e inclusive faça parte de um partido que integra o governo petista, o prefeito recebeu o apoio de Bolsonaro para sua reeleição e é um aliado de primeira ordem do governador Tarcísio de Freitas.

A estratégia de campanha de Boulos se apoia fortemente em sua associação com o presidente Lula. Segundo pesquisa Datafolha divulgada este mês, Lula é avaliado como ótimo ou bom por 34% dos moradores de São Paulo, enquanto o mesmo percentual o considera ruim ou péssimo. Em contraste, Tarcísio recebe uma avaliação positiva de 34%, com 27% dos entrevistados vendo seu governo de forma negativa. A pesquisa foi realizada presencialmente com 1.092 pessoas de 16 anos ou mais em São Paulo, entre os dias 2 e 4 de julho, com uma margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Apesar de ter governado a cidade em três ocasiões, o PT tem um histórico de desafios na maior cidade do país. Luiza Erundina deixou a gestão com apenas 19% dos paulistanos avaliando sua administração como ótima ou boa. Não havia reeleição na época de Erundina. Porém, ela não conseguiu eleger seu sucessor. Fernando Haddad, por sua vez, tinha uma aprovação de apenas 14% nos meses finais de seu mandato. Mesmo sentado na cadeira de prefeito, Haddad, hoje ministro da Fazenda, foi derrotado por João Doria, então um outsider do PSDB que se tornou o primeiro candidato a vencer no primeiro turno em São Paulo desde 1992, quando passou a ter segundo turno.

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Marta Suplicy, apesar de ser reconhecida atualmente como a melhor prefeita que São Paulo já teve por 16% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha, não conseguiu se reeleger e perdeu para Gilberto Kassab.

Mesmo com sucessivas derrotas petistas, há uma expectativa em torno da aparição dos três ex-prefeitos de esquerda no palanque de Boulos. A demora na realização desse encontro pode ser atribuída aos embates passados entre Marta, Erundina e Haddad. Em um evento com Boulos, Erundina afirmou que a volta de Marta ao PT, após nove anos afastada do partido, foi um equívoco.

Marta deixou o PT em 2015, fazendo críticas à legenda, e votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Seu retorno, formalizado em fevereiro, foi articulado pelo presidente Lula para que ela fosse vice na chapa de Boulos. O principal adversário do psolista na corrida municipal atualmente é o prefeito Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A campanha do PSOL espera um público de 10 mil pessoas para o evento, que vai começar às 14h no Expo Center Norte, na Vila Guilherme, zona norte. Na prática, será a convenção dos sete partidos que apoiam Boulos na disputa: PCdoB, PDT, PMB, PSOL, PT, PV e Rede. Além de oficializar a coligação, o encontro vai formalizar os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador para as eleições de outubro.

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Lula será a principal estrela da convenção que confirmará o nome de Guilherme Boulos como candidato a prefeito de São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Propostas de campanha

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Também nesta semana, a campanha de Boulos inicia uma nova fase, dedicada à apresentação das propostas. Duas áreas devem ganhar destaque: Saúde e Segurança Pública. Essa nova etapa marca o encerramento da fase de plenárias, encontros temáticos realizados com especialistas e a sociedade civil para coletar demandas e propostas para o plano de governo. No total, foram 14 reuniões, com a participação de aproximadamente 5 mil pessoas ao longo de quase meses, segundo a campanha do líder sem-teto.

A ideia da campanha é que, a partir desta semana, realizada a convenção, Boulos passe a apresentar aos eleitores propostas que vão figurar em seu plano de governo. A escolha por priorizar Saúde e Segurança Pública é ancorada em pesquisas internas da campanha que mostram esses dois temas no topo da lista de preocupações dos paulistanos

A ênfase é corroborada por um levantamento recente do Datafolha, segundo o qual 23% dos paulistanos apontam a segurança como o maior problema da cidade, seguida pela saúde, com 16%. O levantamento, realizado presencialmente nos dias 7 e 8 de março, ouviu 1.090 pessoas e possui margem de erro de três pontos, para mais ou para menos.

Na área de Segurança Pública, duas propostas já foram definidas: dobrar o efetivo da Guarda Municipal de São Paulo (GCM) e equipar os guardas com câmeras corporais. Segundo integrantes da campanha ouvidos pelo Estadão, Boulos deve se concentrar em questões de competência da prefeitura, evitando debates que possam gerar algum tipo de desgaste, como a descriminalização das drogas.

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Já em Saúde, Boulos pretende lançar o “Mais Médicos Especialidades”, uma versão paulistana do programa federal. A proposta é abrir editais em caráter de urgência para suprir a demanda por especialistas na cidade.

A campanha de Boulos prevê apresentar ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) uma primeira versão do programa de governo na próxima semana.

“O plano de governo que vamos apresentar nas próximas semanas é fruto de um amplo processo de escuta com toda a sociedade paulistana, que envolveu a população dos bairros, especialistas e ex-gestores de diferentes áreas. Teremos propostas ousadas, que trarão soluções inovadoras, com algumas delas já testadas em metrópoles ao redor do mundo, para os principais problemas vividos em nossa cidade”, diz a economista Camila de Caso, coordenadora do plano de governo de Boulos e Marta Suplicy (PT).