No sábado, 9 de julho, o bolsonarista Jorge Guaranho matou o petista Marcelo Arruda na sua festa de 50 anos, em Foz do Iguaçu (PR). No domingo, dia 10, o bolsonarista Eduardo Bolsonaro, o 03, festejava seus 38 anos com um bolo que diz tudo: um revólver “tresoitão” (de calibre 38).
Como dito aqui no domingo, essas coisas não são coincidência, têm relação direta de causa e efeito. No próprio sábado do assassinato, enquanto Arruda, casado, quatro filhos, preparava a sua festinha em Foz Iguaçu, o 03 participava da marcha “ProArmas, pela Liberdade”, a partir da Catedral de Brasília. O que armas que matam têm a ver com liberdade e com Deus?!
A pergunta do papai Jair Bolsonaro, presidente da República, porém, é outra: “O que eu tenho a ver com o episódio?” Referia-se ao assassinato a tiros do petista Arruda, que reduziu a uma “briga de duas pessoas”. Ele e seus seguidores reclamam de quem chama o assassino de “bolsonarista”. Por que será? Só porque o assassino faz campanha para Bolsonaro e entrou na festa armado e gritando que “aqui é Bolsonaro”? Só porque a vítima era petista e a festa tinha motivos do PT e do ex-presidente Lula?
Há muito petista metido a machão e adepto da violência, mas é evidente que, neste caso, a responsabilidade é de Bolsonaro, pelo discurso de ódio, pela louvação às armas e por atiçar milicianos – como Guaranho, agente penitenciário –, a partir para o ataque.
Objetivamente, o presidente, que tem vários projetos para liberar geral o uso e a posse de armas, desautorizou pela internet três portarias do Exército para monitorar o armamento de civis. Assim, o número de armas se multiplicou e as Forças Armadas perderam o controle sobre elas.
Subjetivamente, Bolsonaro faz apologia de revólveres e fuzis, usa crianças para fazer “arminha” com as mãos, prestigia propagandistas de armas e, na live da quinta-feira antes do assassinato de Marcelo, convocou: “Você sabe o que está em jogo, sabe como deve se preparar”. E frisou: “Antes da eleição”.
No ambiente jurídico, o clima é de pavor. No político, há uma divisão: os bolsonaristas insistem que é “cedo” para conclusões e aderem à tese de “uma briga de duas pessoas”, um crime passional, por dinheiro ou por motivos “mundanos”.
A realidade, porém, está documentada e tem testemunhas: o bolsonarista foi à festa sem ser convidado, aos gritos contra Lula e o PT, e avisou que voltaria para acabar com “a raça” dos petistas. Voltou e matou Marcelo. A motivação, as circunstâncias, as falas e a loucura ideológica são tão gritantes que não há o que discutir. O País colhe o que Bolsonaro plantou.
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