A ida do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva à COP-27, nesta semana, tem vários objetivos estratégicos, num mar de simbologia. Lula volta por cima ao cenário internacional, depois de dois mandatos e da prisão, e o Brasil recupera o protagonismo na preservação ambiental e sua imagem no mundo, jogados no lixo nos últimos quatro anos. Volta a brilhar, deixa de ser pária internacional.
Já no discurso da vitória, Lula deixou claras suas prioridades, como desenvolvimento, miséria e fome, questão climática, desmatamento zero e povos indígenas, questões não apenas desprezadas, mas ativamente atacadas na era Jair Bolsonaro – que nem sequer se dignou a ir à COP-26.
É isso que o mundo desenvolvido quer ouvir, é isso que Lula vai dizer no Egito, embalado por manifestações animadoras de Joe Biden e acenos claros – e aliviados – de parceiros tradicionais, como Alemanha, França e Noruega, que anunciam a volta ao Fundo da Amazônia.
Com Marina Silva e Izabella Teixeira, Lula vai lembrar que, na era PT, o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a assumir metas de redução de CO2, a se comprometer com um fundo para países vulneráveis, a atingir a maior redução de emissões de CO2 e 80% das áreas protegidas criadas no mundo de 2003 a 2008.
Mas assumirá também compromissos com o futuro, para recuperar os quatro anos perdidos e retomar os avanços para a sobrevivência do planeta. Não falará para a “bolha ambientalista” (que Bolsonaro, seus generais, diplomatas e olavistas acusam, pateticamente, de ser mero instrumento do comunismo mundial). Falará para o mundo.
Incluem-se, aí, os fundos investidores internacionais, que surpreenderam com nota contra a política, ou antipolítica, de Bolsonaro para a Amazônia. Nenhum país democrático, investidor sério e conglomerado responsável põe dinheiro e negocia com depredadores do ambiente. Preservar florestas, terra, mar e ar não é utopia, é pragmatismo, é vida.
”Last, but not least”, Lula leva a bordo Fernando Haddad, com assento garantido no voo e no governo. Sua assessoria o imaginava no recriado Ministério do Planejamento, o mercado e os economistas o temiam na Fazenda e Celso Amorim talvez tenha de assimilar alguém fora da carreira diplomática no Itamaraty. Sim, Haddad é cotado para chanceler. A ver.
Lula vai à COP, mas os problemas de arrumação continuam densos e intensos. Afinal, democracia é assim: divergências, busca pelo consenso, confronto de ambições. E, se Bolsonaro tem de saber perder, o PT precisa aprender a vencer. Até porque o novo governo é de união nacional. Ou não?
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