Após perder força política e deixar de comandar a prefeitura da capital e o governo do Estado, o PSDB de São Paulo tenta reunificar a sigla e pôr fim a uma disputa interna na legenda. A tarefa não é simples: a um ano da eleição municipal de 2024, o comando do diretório paulistano é reivindicado por dois grupos rivais e os tucanos, que tiveram candidato a prefeito de São Paulo em todas as eleições desde 1988, não têm um nome competitivo para encabeçar a chapa na maior cidade do País. Recentemente, a cúpula partidária fez gestos para se reaproximar do prefeito Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato a reeleição após ser vice de Bruno Covas (PSDB), morto em 2021.
Presidente nacional do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), nomeou uma comissão provisória, que será presidida pelo ex-secretário municipal Orlando Faria, para gerir o diretório da capital. Faria terá como tarefa principal acabar com a conflagração no partido, mas a própria criação da comissão deve aprofundar a disputa judicial que assola o PSDB. A Justiça do Distrito Federal anulou no início de setembro o mandado de Leite à frente do diretório nacional e há questionamentos se ele teria tinta na caneta, do ponto de vista legal, para criar a comissão provisória.
Apesar do impasse, o novo presidente municipal já começou a atuar e uma das primeiras providências foi se reunir com Nunes para tentar reconstruir pontes. A relação entre os dois estava estremecida após o novo presidente do PSDB paulistano ter divulgado, em abril, uma carta pública com cobranças ao emedebista. “(Isso) Já foi superado”, disse Orlando Faria ao Estadão. “O objetivo do encontro com o prefeito foi sinalizar que o movimento que houve (a nomeação da comissão provisória) foi uma questão interna do partido e não tem nada a ver com sucessão municipal”, afirmou.
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O PSDB nacional publicou uma resolução que determina que os tucanos terão candidatura própria em todas as cidades com mais de 100 mil habitantes e que eventuais alianças com candidatos de outras legendas terão que obter o aval de uma comissão eleitoral formada por governadores, ex-governadores e lideranças.
Tucanos reconhecem, porém, que não há nomes competitivos na legenda para disputar a Prefeitura de São Paulo, embora não descartem o surgimento de um candidato até o início das convenções partidárias em meados de 2024. Enquanto isso, os vereadores do PSDB defendem o apoio à reeleição do atual prefeito.
“Essas conversas são uma prova que a gente caminha para apoiar o prefeito Ricardo Nunes”, disse o vice-presidente da Câmara Municipal, Xexéu Tripoli (PSDB), sobre o encontro entre o prefeito e Orlando Faria. “Foi uma conversa sobre como está o governo, dar uma arredondada no que foi esse tempo”, afirmou. O apoio ao prefeito foi comunicado a Eduardo Leite pelos vereadores durante conversas antes da escolha da comissão provisória.
Essas conversas são uma prova que a gente caminha para apoiar o prefeito Ricardo Nunes.”
Vereador Xexéu Tripoli (PSDB), vice-presidente da Câmara Municipal de São Paulo
Internamente, também foi citada a possibilidade de o PSDB filiar a deputada federal Tabata Amaral (PSB) e lançá-la como candidata. Segundo o prefeito Ricardo Nunes, Leite disse a ele que essa articulação está descartada. “Conversei um pouco com ele (Leite), ele me relatou que não tem essa possibilidade (da Tabata no PSDB)”, disse o prefeito a jornalistas em um evento na sexta-feira, 6.
Legalidade de comissão é questionada por prefeito de São Bernardo do Campo
Embora Orlando Faria já atue como presidente do diretório paulistano, a nomeação dele é considerada ilegal pelo prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), e por aliados do presidente anterior do diretório, Fernando Alfredo (PSDB). Morando argumenta que Eduardo Leite teve o mandato anulado e portanto não tem poder para nomear uma comissão provisória.
Ao Estadão, Morando afirmou que protocolou uma representação judicial para que a Justiça reafirme que cabe ao governador gaúcho apenas convocar novas eleições para a Executiva nacional.
“A representatividade política do Estado está contra Eduardo Leite, o que deixa clara a forma coronelista e golpista pela qual ele quer se impor em São Paulo”, afirmou o prefeito de São Bernardo do Campo. Ele cita uma carta assinada por oito vereadores e cinco deputados estaduais que pedem à Executiva estadual que valide a convenção municipal que reelegeu Fernando Alfredo para o comando do PSDB paulistano.
O entendimento da cúpula do PSDB é outro. Como mostrou a Coluna do Estadão, a interpretação é que a Justiça do Distrito Federal ordenou apenas a realização de novas eleições e não a destituição do comando do partido. Dessa forma, dizem aliados, Leite continua no cargo e tem legitimidade para nomear a comissão provisória. A eleição para o comando nacional do partido está prevista para a segunda quinzena de novembro.
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Ata de reunião gera acusações de falsificação
Mesmo suspensa pela Executiva estadual em meio às denúncias de que Fernando Alfredo teria promovido filiação em massa de aliados e suspendido membros que não o apoiavam, a convenção municipal foi realizada. Circula entre os tucanos uma ata de uma reunião da Executiva estadual no dia 28 de setembro que teria reconhecido, por 14 votos a 0, que o resultado da convenção que reelegeu Alfredo é válido.
A veracidade do documento é contestada. “Deputados e vereadores partiram de uma premissa falsa (de que a votação ocorreu) e podem ter sido levados ao erro (ao assinar a carta)”, disse o prefeito de Santo André, Paulo Serra, que integra a Executiva nacional e é aliado de Leite. “É muito difícil a gente responder para o tipo de pessoa cuja visão de mundo se limita a um espelho”, acrescentou ele, se referindo à declaração de Morando sobre o governador do Rio Grande do Sul.
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Já Orlando Faria afirma que a reunião de 28 de setembro ocorreu, mas que não houve votação para validar o resultado da convenção municipal de São Paulo. “Aquela decisão que a carta cita é falsa. Eu sou tesoureiro estadual, participei da reunião e aquela decisão não existiu. A pauta discutida era outra, sobre São José dos Campos”, disse.
Presidente do núcleo sindical do PSDB, Gilberto Pereira afirma que a votação sobre o resultado de São Paulo aconteceu. “Eu não pude participar de manhã, somente à tarde. Foi tudo tranquilo. Votamos eu e mais três ou quatro sobre São Paulo e São José dos Campos. Abriu-se a palavra e eu fui o quarto a votar”, disse.
O Estadão questionou a Executiva estadual se a ata assinada por seu presidente, Marco Vinholi (PSDB), é verdadeira. “A Executiva Estadual do PSDB de São Paulo esclarece que tratam-se de questões internas, as quais o partido não comenta, no intuito de preservar seus filiados e diretrizes”, respondeu o órgão partidário. Também procurado, Fernando Alfredo não se manifestou.
Após a publicação desta matéria, a Executiva Estadual do PSDB enviou novo posicionamento às 13h54 desta segunda-feira, 9, na qual esclarece “que a ata da reunião realizada pelo Diretório em dia 28/09/2023 foi aprovada por unanimidade.”