Caças F-39 Gripen entram em operação na FAB após 16 anos de projeto

Os primeiros 4 dos 40 caças comprados pela FAB serão entregues ao 1.º Grupo de Defesa Aérea; Aeronáutica deve adquirir mais 26

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Foto do author Marcelo Godoy
Atualização:

Após 16 anos desde o lançamento do projeto FX-2, o caça sueco F-39 Gripen E/F entra em operação amanhã na Força Aérea Brasileira (FAB). Trata-se da mais moderna aeronave em operação na América Latina, que vai equipar o 1.º Grupo de Defesa Aérea (1.º GDA), localizado em Anápolis (GO).

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“O recebimento das primeiras aeronaves F-39 Gripen simboliza um marco para a Força Aérea Brasileira, É a concretização de um projeto de longo prazo, que se traduz agora em capacidades operacionais que o País nunca teve”, afirmou o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, comandante da FAB.

A renovação da aviação de caça é um dos principais projetos estratégicos do Ministério da Defesa. Inicialmente ele previa a compra e a entrega até 2027 de 36 Gripen por US$ 3,77 bilhões ou R$ 20 bilhões em valores atuais. Mas outras quatro aeronaves foram acrescidas neste ano ao contrato em vigor, totalizando 40 caças que serão produzidos pela Saab em parceria com a Embraer. A FAB estuda ainda adquirir mais 26 Gripen por meio de um segundo contrato.

“Considero que, diante das dimensões continentais que o País possui, a aquisição de um segundo lote é uma necessidade que deve ser imediatamente analisada”, afirmou o comandante da FAB. Para ele, apesar das dificuldades fiscais do País, é necessário que seja assegurado o fluxo de recursos para que o projeto mantenha “uma cadência de entregas adequada”.

As quatro primeiras unidades fabricadas na Suécia e trazidas para o Brasil em navios serão incorporadas amanhã ao 1.º GDA. As 15 últimas do primeiro lote de 36 caças serão construídas no Brasil. “As parcerias formadas entre Brasil e a Suécia garantem uma ampla transferência de tecnologia, que tem resultado em benefícios significativos em toda a cadeia produtiva envolvida”, disse o Baptista Junior.

F-39 Gripen sobrevoando Rio de Janeiro; acordo de compra prevê transferência tecnológica para o Pais Foto: SGT BIANCA/FAB - 12-12-2020

O acordo para a compra do Gripen prevê a transferência de tecnologia para o Brasil e o treinamento de dois anos para 350 profissionais que vão cuidar da montagem das aeronaves na planta da Embraer, em Gavião Peixoto (SP).

Foi ali que pilotos de prova da FAB, da Embraer e da Saab executaram ensaios em voo, parte do programa de transferência tecnológica, para que os caças recebessem a licença inicial de operação. Só então os quatro aparelhos puderam ser transferidos para a Base Aérea de Anápolis (BAAN), onde foram entregues ao 1.º GDA.

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Reforma

A base passou por três obras para poder abrigar as novas aeronaves. A primeira foi no hangar de manutenção, a segunda nos chamados hangaretes da linha de voo – as garagens de aeronaves – e a última nas instalações do 1.º GDA, cujo prédio foi dividido em duas grandes alas, uma administrativa e outra operacional, para abrigar os sistemas de missão e de suporte do Gripen, com a montagem de simuladores de voo e estações de planejamento de produção de imagens digitais.

Por enquanto, os F-39 ficarão em Anápolis, mas o comando da Força Aérea estuda a possibilidade de distribuir o Gripen em outras bases, de acordo com a necessidade operacional, a disponibilidade de infraestrutura e a posição geográfica. É que o Gripen vai substituir paulatinamente os F-5M, caça de fabricação americana que entrou em serviço no Brasil em 1975 e cuja modernização, executada pela Embraer, terminou em 2020.

Atualmente, o F-5M é operado nas bases de Anápolis, de Canoas (RS) e do Rio. A entrada em operação dos Gripen marcará ainda o último grande ato do atual comandante da FAB, Baptista Junior. Ele pretendia passar o comando da Força quatro dias depois, em 23 de dezembro, para seu sucessor, o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que indicou Damasceno. Baptista Junior acabou convencido pelo futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, a ficar no cargo até janeiro, a exemplo dos comandantes das outras Forças.

Concorrência

Foi em uma concorrência com os caças F-18 Hornet americano e Rafale francês que o Gripen foi escolhido pela FAB para equipá-la pelas próximas décadas. “O conjunto formado pelo novo vetor e os modernos armamentos adquiridos coloca a defesa aeroespacial brasileira em um elevado patamar, com um poder dissuasório inédito”, afirmou Baptista Junior.

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Segundo a FAB, o avião pode receber mísseis ar-ar de curto e de longo alcance, mísseis ar-superfície e bombas guiadas por laser ou GPS para emprego contra alvos na terra e no mar. A carga em armamentos externos pode ser de até sete toneladas – a aeronave pode decolar com um peso máximo de 16,5 toneladas para missões de defesa aérea, ataque e reconhecimento sem precisar voltar para a base e mudar a sua configuração.

Embaixo de suas asas, o Gripen pode carregar até sete mísseis BVR Meteor e dois mísseis infravermelhos Iris-T simultaneamente. Ambos foram comprados recentemente pela FAB, após o abandono do projeto em parceria com a África do Sul para o fornecimento de mísseis. No futuro, o Gripen poderá disparar mísseis cruzeiro desenvolvidos pela Avibrás.

De acordo com a FAB, o Gripen voará com sua capacidade completa no início de 2025. Só então todos os sistemas da nova aeronave estarão integrados, testados e prontos para serem empregados em combate. São sistemas que contaram com a participação de empresas brasileiras no desenvolvimento de diversos pacotes de trabalho, da produção de peças estruturais e aviônicos – a eletrônica de bordo dos aviões – no Brasil, além da previsão de suporte logístico para atividades de manutenção no País.

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Um deles foi o desenvolvimento do Wide Area Display (WAD) pela empresa AEL, uma solução tecnológica que, de acordo com a FAB, foi adotada pela Força Aérea Sueca, transformando o fabricante brasileiro em fornecedor para os F-39 Gripen E/F produzidos para os dois países – a Suécia adquiriu 60 desses caças.

Treinamento

Segundo a Aeronáutica, os pilotos brasileiros selecionados para voar o Gripen fazem um treinamento de seis meses na Suécia voando o Gripen C/D, uma versão mais antiga do caça, atualmente em serviço ali e nas forças aéreas da África do Sul, Hungria, República Tcheca e Tailândia. Após essa etapa, o treinamento é concluído no Brasil, já com o novo Gripen E, modelo adotado pela FAB, que será a primeira a operá-lo.

Aqui, a Aeronáutica está terminando de criar o pacote de treinamento para os pilotos com experiência de voo nos F-5M e nos caças-bombardeiros A-1M ( fabricados pelo consórcio ítalo-brasileiro AMX). Ele vai durar um ano, incluindo a parte teórica dos sistemas do avião, o treinamento no simulador e os voos reais.

O maior desafio para os pilotos será aprender a gerenciar os múltiplos sistemas embarcados no Gripen de forma quase simultânea. É que o caça é uma aeronave com múltiplas funções e armamentos inexistentes na FAB. Além disso, ele tem potência e manobrabilidade superiores aos das aeronaves atuais e equipamentos de última geração, como o radar eletrônico capaz de encontrar alvos a distâncias superiores, inclusive com detector passivo por infravermelho.

Para executar suas tarefas, o piloto do Gripen contará com um sistema de controle de voo e de piloto automático, o que permitirá que sua atenção seja voltada mais para os sistemas de combate, sem ser sobrecarregado com o trabalho necessário para o voo básico.

O custo da hora de voo do F-39 é de US$ 4,5 mil, bem menor do que os US$ 15 mil de seu concorrente francês, o Rafale. É com esse avião “barato” que a FAB pretende recuperar sua capacidade de defesa do espaço aéreo em um entorno estratégico que abriga o caça russo Sukhoi SU-30, da Venezuela, e o americano F-16, do Chile.

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