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Caiado enfrenta desafios em eleições das três maiores cidades de Goiás e mede forças com PT e PL

Cenário em Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia é incerto e em alguns casos desfavorável para os candidatos apoiados pelo governo do Estado, mas Caiado pode quebrar tabu na capital

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Foto do author Weslley Galzo

BRASÍLIA - As eleições municipais deste ano são decisivas para o futuro do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), em sua pretensão de disputar a Presidência daqui a dois anos. A leitura corrente entre políticos e pesquisadores goianos é que o caminho de Caiado para se projetar nacionalmente passa antes por consolidar a sua base no Estado e acomodar aliados com vistas a ter a política goiana sob controle na formação de alianças e definição de estratégias no próximo ciclo eleitoral.

Esses fatores tornam as disputas nas três maiores cidades de Goiás ainda mais importantes para o “caiadismo”. Mas é justamente na trinca formada por Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis que o governador se depara com alguns dos cenários mais adversos.

O Governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Foto: WILTON JUNIOR

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A capital é onde o candidato do governo vai melhor, mas não está garantido no segundo turno. Caiado tirou o ex-deputado federal Sandro Mabel da aposentadoria política e o filiou ao União Brasil em abril deste ano, após fracassar a tentativa de lançar o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Bruno Peixoto (União Brasil), por divergências na base caiadista.

Mabel não exerce cargo público desde 2015 e chega à eleição em Goiânia sem “recall” ou capital político próprio. Ainda assim, o candidato tem apresentado uma curva ascendente nas pesquisas de intenção de voto e chega a liderar a disputa nos levantamentos mais recentes. A pesquisa publicada pela Quaest na última segunda-feira, 17, mostra Mabel com 24% das intenções de voto. A mesma sondagem mostra a deputada federal Adriana Accorsi (PT) com 22%.

O desempenho positivo de Mabel é atribuído quase que inteiramente ao seu padrinho político, na leitura de observadores da eleição em Goiânia. Caiado ostenta a maior popularidade entre os governadores do País. São 86% de aprovação do seu mandato, de acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada em julho deste ano.

O ex-deputado federal Sandro Mabel (União) e a deputada federal Adriana Accorsi (PT) Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Outro levantamento do instituto Genial/Quaest, do início de setembro, mostra que Caiado é o político com maior poder de conversão de votos para os seus aliados na capital Goiânia. 38% dos eleitores goianenses afirmam votar em um candidato apoiado pelo governador, mesmo sem conhecê-lo. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, só consegue transferir 29% dos votos a um desconhecido e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apenas 15%.

Mas, contraditoriamente, é esse apoio do governador que acende o sinal amarelo na campanha de Mabel. Os moradores de Goiânia nunca elegeram um prefeito alinhado ao governo estadual, o que tem forçado a comunicação caiadista a minimizar o peso desse tabu no imaginário popular.

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O Governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Foto: WILTON JUNIOR

A perspectiva de quebra do tabu por Caiado pode ser barrada tanto por Adriana Accorsi quanto pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD), que figura em terceiro lugar com 15% das intenções de voto, segundo a Quaest mais recente. O parlamentar divide o eleitorado de direita com Mabel e disputou as últimas duas eleições municipais em Goiânia, o que lhe garante um recall eleitoral superior ao do adversário.

Na pesquisa Quaest realizada no início de setembro, Vanderlan e Mabel apareciam empatados na segunda colocação com 19% das intenções de voto. A candidata petista liderou a pesquisa naquele momento com 22% das intenções de voto. Apesar de ter sido ultrapassada pelo candidato de Caiado no último levantamento, Accorsi é considerada consolidada na disputa e deve estar no segundo turno contra um dos dois representantes da direita.

Independentemente do adversário, as chances de vitória da petista no segundo turno são consideradas baixas no atual cenário da disputa por causa da rejeição do seu partido na capital de Goiás. Ainda assim, a deputada federal se mantém competitiva, pois é vista como uma integrante “palatável” do PT devido ao seu histórico como delegada da Polícia Civil de Goiás.

Especialistas também avaliam que Vanderlan tem condições de recuperar a desvantagem para Mabel caso intensifique os atos de rua na reta final de campanha.

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“Se você analisar o perfil dos três candidatos, o recall de conhecimento dos outros dois (Accorsi e Vanderlan) é altíssimo. Eles estão na vida política. O Sandro Mabel tem 10 anos que não sai candidato. É uma diferença enorme. Agora que o povo está conhecendo e eu o estou levando para que o povo conheça”, reconheceu Caiado em entrevista ao Estadão.

O governador vai intensificar a presença na campanha do aliado na reta final para garantir a transferência de votos ao seu ungido. A estratégia de Caiado é colar na cabeça do eleitor, por meio de inserções de campanha e interações corpo a corpo, que Mabel é o candidato que goza do seu “total apoio”.

Na capital, o candidato apoiado por Bolsonaro figura em quarto lugar e sem chances reais de ir ao segundo turno, mas foi durante um comício do aliado Fred Rodrigues (PL) na última terça-feira, 24, que o ex-presidente fez um ataque direto a Caiado. Bolsonaro esteve em Goiânia e chamou o governador de “covarde” pela atuação do chefe de Estado durante a pandemia de covid-19.

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“Criaram um terror no Brasil. Nós, na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fiquem em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde! Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir do vírus”, disse o ex-presidente, sem citar Caiado nominalmente.

A fala de Bolsonaro foi uma demonstração de que, mesmo inelegível, não abrirá mão da liderança da extrema-direita e poderá dificultar a vida de outros candidatos direitistas, como Caiado, que tentem desafiar a sua hegemonia em 2026.

Candidato de Caiado se vê em desvantagem e tentar levar disputa para o segundo turno em Aparecida de Goiânia

Em Aparecida de Goiânia, cidade da região metropolitana da capital, o cenário é pior para o governador. Caiado escolheu Leandro Vilela (MDB) como o seu candidato em detrimento do correligionário e atual prefeito Vilmar Mariano, que aparecia estagnado em pesquisas internas realizadas pelo União Brasil. O emedebista é primo do vice-governador de Goiás, Daniel Vilela.

O apoio a um candidato alternativo ao atual prefeito não surtiu o efeito esperado no eleitorado. A sondagem mais recente do Instituto Paraná Pesquisas mostra Vilela em segundo lugar, com 33% das intenções de voto, na disputa contra o candidato professor Alcides (PL), que lidera com 42%. No dia 14 de setembro, o levantamento do DataUFG, instituto da Universidade Federal de Goiás, mostrou Alcides com uma vantagem ainda maior: 48,5% das intenções de voto contra 30,6% de Vilela.

“É uma composição que foi mal costurada. O candidato da base caiadista não seria o Leandro Vilela da forma como está posta”, avaliou o cientista político Guilherme Carvalho, professor da PUC-GO. “Em Aparecida, ao que tudo indica, as chances de derrota para o Caiado são muito grandes”, completou.

Pesquisas realizadas no início da campanha eleitoral apresentavam Alcides com possibilidade de vitória no primeiro turno. O levantamento do Instituto Real Time Big Data, de 29 de agosto, mostrava o candidato do PL com 55% das intenções de voto contra 23% de Vilela. Caiado e seus aliados avaliam que as pesquisas recentes comprovam uma espécie de derretimento da candidatura de Alcides e de crescimento de Vilela na esteira das inserções no horário eleitoral e comícios com a presença do governador.

“Não vou falar que o professor Alcides está em queda livre, mas se você ver a perda da pesquisa dele nos últimos dias e a curva ascendente do Leandro Vilela, aí você aposta em qual deles? O gráfico está falando por ele”, disse Caiado à reportagem.

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Para o consultor político e professor Marcos Marinho, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, a realidade não é igual à descrita pelo governador, pois não há elementos para se falar em derretimento do candidato do PL. Ele também avalia que a sobrevida da campanha de Vilela não pode ser atribuída a Caiado. “É óbvio que a participação do Caiado vai ter o seu peso, mas, especificamente em Aparecida, quem transfere mais votos não é o Caiado. É o Gustavo Mendanha (MDB) (ex-prefeito da cidade que renunciou ao cargo para concorrer ao governo do Estado em 2022)”, afirmou.

Na leitura de Marinho, um eventual segundo turno com Vilela seria uma vitória integral para o MDB, que controla a política local há anos, e relativa para Caiado. O governador teria um aliado no comando da segunda maior cidade de Goiás, mas que não seria identificado diretamente com a sua figura. “Na cabeça das pessoas de Aparecida, a força política é o MDB, por mais que o Caiado tenha cooptado algumas lideranças”, afirma Marinho.

A despeito de quem vai capitalizar uma eventual vitória, Caiado tem se dedicado a fortalecer a campanha de Vilela colando a sua imagem à do candidato em inserções no horário eleitoral e em carreatas. A prioridade imediata é forçar um segundo turno para intensificar a associação do candidato ao governo estadual.

Polarização PT-PL domina Anápolis e governador deve amargar derrota em sua cidade natal

Em Anápolis, cidade natal de Caiado, a equipe do governo reconhece haver chances altas de derrota. O governador escolheu Erizania Freitas (União Brasil), mas a disputa está afunilada entre Antônio Gomide (PT) e Márcio Correa (PL), que figuram na casa dos 40% e 33%, respectivamente. Os números são do levantamento publicado pelo Instituto Paraná Pesquisas no dia 5 de setembro.

Na sua cidade natal, os partidos políticos do presidente Lula e do ex-presidente Bolsonaro, reproduzem a polarização que Caiado enfrentará na corrida presidencial de 2026. As duas siglas tentam desafiar o capital político altíssimo do governador nas outras duas potências do Estado ao se apresentarem com candidatos competitivos que podem frustrar os planos de hegemonia local do governador.

“É uma eleição que para o Caiado tentar se mostrar como transferidor de votos não vale a pena. Foi uma opção difícil de entender. Não vai dar capital político a ele. O resultado da Erizania não vai ser muito expressivo e vai virar aquela coisa: ‘Na cidade do Caiado, a candidata dele não ganhou’. Lá de fato a polarização é o PT e o PL”, avaliou Marinho.

A candidata de Caiado ocupa a terceira posição com 7% das intenções de voto. Na pesquisa espontânea, apenas 2% dizem votar na apontada pelo Palácio das Esmeraldas. Os aliados do governador tentam minimizar uma eventual derrota, mas a cidade de Anápolis é a terceira maior do Estado e figura entre os grandes motores do agronegócio em Goiás, com indústrias da JBS e Piracanjuba.

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“A desvantagem da nossa candidata nesse primeiro momento é que a avaliação do governo municipal não está tão boa, então os outros dois trabalham numa posição de oposição como se ela fosse uma candidata da Prefeitura”, reconheceu Caiado.

Embora o governador tente dissociá-la da mal avaliada Prefeitura de Anapólis, Erizania foi secretária da atual gestão e pertence ao mesmo grupo político que governa a cidade.

Uma eventual vitória petista na cidade agropecuarista em que Caiado nasceu teria peso simbólico, avaliam especialistas. Caso o PL de Bolsonaro saia vencedor, o resultado também não agradaria os caiadistas. O governador de Goiás e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, vão medir forças nas eleições municipais deste ano. Os liberais se recusaram a fechar alianças com Caiado em diversas cidades, como Anápolis, e apostaram em candidaturas próprias, o que gerou rusgas na relação com o governador.

“Eu posso dizer com muita tranquilidade que faltou um pouco de maturidade para um diálogo maior já que nós tínhamos muitos pontos de convergência e o PL fez questão de soltar candidato próprio em todas as cidades. A boa prática política ensina que a gente sempre precisa estar aberto a um entendimento, parceria, coligação”, disse Caiado ao Estadão.

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