Câmara de SP tem maior bancada feminina da história, mas busca por consensos é desafio

Com 20 vereadoras, nova composição inclui desde bolsonaristas aguerridas, como Zoe Martinez e Sonaira Fernandes, até parlamentares de esquerda, como Amanda Paschoal e Luna Zarattini

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Foto do author Bianca Gomes
Atualização:

A Câmara Municipal de São Paulo deu posse neste dia 1º à maior bancada feminina de sua história. A Casa passou a contar com 20 representantes mulheres, um aumento de 53,8% em relação a 2020, quando foram eleitas 13 vereadoras — recorde até então.

O plenário da Câmara Municipal de São Paulo Foto: André Bueno/CMSP

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A nova bancada feminina do Legislativo paulistano apresenta uma composição ideológica diversa. Das 20 vereadoras eleitas, 7 são de partidos de esquerda — PT, PSOL, Rede e PSB —, representando 35% do total de eleitas. As outras 13, que compõem 65% da bancada, estão distribuídas entre partidos de centro, como MDB e PSD, e de direita, como o PL.

O grupo conta tanto com bolsonaristas raiz, como Sonaira Fernandes (PL) e Zoe Martinez (PL), apadrinhadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), quanto com representantes do campo progressista. Entre elas, Amanda Paschoal (PSOL), a travesti mais votada para a Câmara, eleita com o apoio da deputada federal Erika Hilton (PSOL), e Luna Zarattini, apoiada por lideranças do PT, como o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT).

O perfil diverso da nova bancada feminina evidencia que a busca por consensos será desafiadora. Sonaira Fernandes, ex-secretária de Políticas para a Mulher na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), se declara “antifeminista” e contrária ao aborto, mesmo nos casos previstos em lei. Em contrapartida, Luna Zarattini se destacou por criticar a restrição ao acesso ao aborto legal em hospitais da capital paulista. Amanda Paschoal tem como bandeira o programa “Respeito desde a Escola”, que visa promover uma cultura de acolhimento e respeito à diversidade no ambiente escolar. Já Zoe Martinez se posiciona contra discussões sobre identidade de gênero nas escolas.

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Zoe diz que espera uma relação respeitosa na bancada, com embates apenas no âmbito político, e não pessoal. “Respeitarei todos os meus colegas independentemente de partido ou gênero, mas não me furtarei a defender os ideais pelos quais fui eleita”, diz ela. A vereadora eleita afirma não acreditar na “divisão entre homens e mulheres que a esquerda prega”. O foco de seu mandato será a educação básica, com propostas que incluem a criação de novos Centros Educacionais Unificados (CEUs) e a implementação de disciplinas de educação financeira e empreendedorismo nas escolas.

Luna vê com preocupação a renovação da Câmara e o crescimento da “extrema direita”, mas ressalta que buscará caminhos para avanços em prol das mulheres, especialmente as mais pobres, negras e quilombolas. “Será necessário diálogo e conversas com as novas vereadoras eleitas”, afirma ela.

A vereadora recorda sua atuação na CPI contra a violência e o assédio sexual: “Mesmo com uma composição diversa, nós, mulheres, chegamos a consensos sobre a necessidade de melhorar os equipamentos públicos, como as delegacias que não ficam abertas 24 horas. É possível encontrar acordos e consensos entre mulheres de diferentes partidos”, completa a petista, que pretende trabalhar em prol de políticas de cuidado e combate à fome por meio das cozinhas solidárias.

Amanda Paschoal acredita que a diversidade de ideias é parte do processo democrático. “Enquanto a bancada feminina estiver atuando para defender os direitos de mulheres, do povo e combatendo a desigualdade, estaremos juntas”, diz ela, que faz questão de pontuar: “Mas não estarei do lado de quem quiser excluir mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres trans, mulheres periféricas de políticas públicas, e sabemos que parte da bancada feminina, com integrantes da extrema direita, está do lado de um projeto de cidade nefasta e desigual”.

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A parlamentar do PSOL lista como prioridades para o seu primeiro mandato a apresentação de um projeto que garantirá auxílio emergencial para pessoas e famílias vítimas de eventos extremos, como enchentes e ondas de calor, e outro que assegurará o investimento obrigatório de R$ 3 bilhões na Cultura, com ênfase nos territórios periféricos e garantia de apoio a projetos da comunidade LGBTQIA+.

A vereadora eleita Amanda Vettorazzo (União Brasil), coordenadora nacional do Movimento Brasil Livre, também diz que buscará diálogo com toda a bancada feminina e vê possibilidades de convergência em pautas como o combate à violência contra a mulher. Entre suas propostas está a criação do botão antipânico, um dispositivo com geolocalizador que permite que mulheres vítimas de violência acionem a Guarda Civil Metropolitana (GCM) caso seus agressores se aproximem.

Amanda elenca como prioridades para seu primeiro mandato o Projeto Nova York, que flexibiliza a Lei Cidade Limpa e permite a instalação de telões luminosos pela cidade nos moldes da Times Square, promovendo investimentos em publicidade nos espaços públicos, além da revogação de uma lei que proíbe feiras de adoção em praças e vias públicas.

Rute Costa (PL), reeleita para mais um mandato, minimiza as divergências ideológicas na bancada. “Em qualquer parlamento, existem diferenças ideológicas, mas a democracia fala sempre mais alto.” Segundo ela, as pautas femininas atualmente giram em torno de temas como a violência contra a mulher e a exploração sexual. “Temos que criar políticas públicas que proporcionem a estas mulheres alcançar saúde e sucesso numa sociedade que ainda é muito voltada à figura masculina nos cargos de liderança.”

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Avanço da representatividade nos legislativos municipais foi tímida

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A bancada feminina empossada neste ano é a maior da história da Câmara Municipal de São Paulo. Com 20 cadeiras, as vereadoras vão representar 36,3% do total de cadeiras da próxima legislatura. Entre os cinco nomes mais votados na capital paulista, dois são de mulheres: Ana Carolina Oliveira (Podemos), mãe de Isabella Nardoni, conquistou quase 130 mil votos e foi a segunda mais votada, enquanto Amanda Paschoal, com 108 mil votos, ficou na quinta posição.

No panorama nacional, o avanço da representatividade feminina nos legislativos municipais ainda foi tímido. Como mostrou o Estadão, em mais de 700 cidades do País, nenhuma mulher foi eleita vereadora. Em 2020, 83,87% das cadeiras eram ocupadas por homens, enquanto apenas 16,13% pertenciam a mulheres. Na eleição deste ano, a participação masculina caiu para 81,76%, e a feminina subiu para 18,24%. São Paulo, cidade com o maior colégio eleitoral do País, se destaca por ter a maior proporção de vereadoras entre todas as capitais.

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