Bolsonaristas bloqueiam rodovias em protesto contra vitória de Lula

Manifestações de apoiadores do atual presidente, inclusive caminhoneiros, ocorrem em ao menos 22 Estados e no DF, segundo a PRF; em São Paulo, grupo ocupa trecho da Marginal Tietê no sentido Ayrton Senna; acesso ao aeroporto de Guarulhos também está prejudicado

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Atualização:

Os bloqueios em diferentes estradas pelo País continuam nesta terça-feira, 1º, mesmo após a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) para liberar as vias. Motivados pela vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, manifestantes fecharam rodovias e pedem que os atos continuem para “impedir o comunismo de chegar ao poder”. Na manhã de hoje, por volta do meio-dia, a Polícia Rodoviária Federal informou que há cerca de 220 pontos bloqueados em 20 Estados e no DF. Segundo a corporação, foram liberados 314 pontos em todo o País.

Às 9h04, os pontos de interdições ou manifestações em rodovias do País caíram para 227. Na madrugada, eram 335.

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Também na noite desta segunda, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, mandou polícias acabarem com bloqueios e autorizou prisão de diretor da PRF em caso de desobediência. A Polícia Rodoviária Federal anunciou que deu início às operações para liberação das estradas. Às 4h30 da madrugada desta terça-feira, a PRF comunicou que 174 manifestações tinham sido desfeitas desde o início dos bloqueios.

Os caminhoneiros organizaram os protestos em grupos de WhatsApp, em que alegam ter apoio de empresários do agronegócio e também do comércio. Vídeos mostram carretas paradas nas estradas, pneus queimados e terra nas rodovias para interditar as vias. Parte dos manifestantes pede “intervenção militar”.

“Desde ontem, quando surgiram as primeiras interdições, a PRF adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo, direcionando equipes para os locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias priorizando o diálogo, para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos, como aconteceu em outros protestos”, disse a PRF.

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Em São Paulo, um grupo de manifestantes fechou a Marginal Tietê na segunda-feira, no sentido Ayrton Senna. Segundo a Companhia de Engenharia de Trafego (CET), a ação teve início por volta das 15h30.

Os manifestantes estenderam uma faixa contra o presidente eleito Lula e chegaram a bloquear todo o trânsito. A Polícia Militar acompanha o protesto. Em São Paulo, há registros de protestos em três pontos de duas rodovias federais, segundo a Polícia Rodoviária Federal.

Na BR-116, nos trechos próximos a Pindamonhangaba e Embu das Artes, o tráfego foi bloqueado nos dois sentidos, com registros de pneus incendiados. Já no trecho próximo ao município de Jacareí cerca de 30 manifestantes interromperam a pista sentido norte. A PRF negocia a liberação de uma das faixas.

Na BR-153, na região de São José do Rio Preto, 30 manifestantes se concentram à margem da rodovia.

Santa Catarina foi um dos Estados que registrou o maior número de ocorrências. A concessionária Arteris informou que ao menos 24 pontos seguiam interrompidos ao final do dia, o que gerou filas quilométricas e lentidão em diversos pontos.

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Moradores de municípios como Joinville, Chapecó e Florianópolis relataram ao Estadão que tiveram passagens de ônibus canceladas, e não conseguiram se locomover entre cidades até para estudar. No Paraná, uma das principais vias de acesso ao Porto de Paranaguá, a BR 277, foi totalmente bloqueada em ao menos sete pontos. Nota enviada pela Portos do Paraná indicou que a atividade portuária ainda não havia sido afetada.

A vitória de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno foi declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pouco antes das 20h. Até a tarde desta segunda-feira, Bolsonaro não havia se pronunciado ou reconhecido a vitória de seu adversário.

Caminhoneiros realizam bloqueio nos dois sentidos da Rodovia Presidente Dutra, na altura do Km 281, em Barra Mansa. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Vídeos publicados em redes sociais desde a noite de domingo, 30, mostram caminhoneiros fechando pontos de estradas. Nos grupos de WhatsApp, eles afirmam que as manifestações têm apoio de empresários do agronegócio e também do comércio. Vários vídeos mostram carretas paradas nas estradas, pneus queimados e caminhões jogando terra nas rodovias para interditar as vias. Eles aguardam um comunicado de Jair Bolsonaro, como se esperassem um comando para agir. Há opiniões para todos os gostos: alguns não acreditam que o presidente vá tomar alguma providência. Outros dizem que é questão de horas.

Mas, alguns líderes que já participaram de outras manifestações, disseram ao Estadão que isso é só “fogo de palha de reacionários”. Sobre o apoio de empresários, dizem que todas as manifestações têm a participação deles nos bastidores.

Carros paralisaram a BR-101 em frente à loja Havan, em Palhoça (SC) Foto: Reprodução

O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, que liderou a greve dos caminhoneiros de 2018, disse nesta manhã, em vídeo, que não é hora de parar o País. Ele criticou as paralisações pontuais que estão sendo feitas em algumas localidades nesta segunda-feira. “Quero reconhecer, através da Abrava, a eleição, a democracia desse País, parabenizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua vitória”, disse o líder caminhoneiro, informando que tem sido procurado nesta manhã sobre as paralisações que estão ocorrendo em alguns pontos do País.

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“Não é o momento de parar esse País, vamos aceitar, isso é democracia”, afirmou. Ele disse que pretende ter um alinhamento com o próximo governo e que vai continuar lutando pelo segmento de transporte e destacou o Projeto de Lei 1.205, do senador Lucas Barreto, que dispõe sobre o transporte de cargas. “Isso sim vai trazer um ganho para a categoria. Nesse momento, parar o País vai prejudicar muito a economia, precisamos ter reconhecimento da democracia desse País, a vitória do presidente, muito apertada sim, mas se fosse ao contrário a esquerda também teria que entender e aceitar a vitória ao contrário “, ressaltou.

Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, também vê os protestos como pontuais. “Eu acredito que tenham o direito de protestar, só que eles têm que aceitar a democracia e não ficar travando a pista, porque está atrapalhando a vida de todo mundo. Assim como aceitamos a vitória do Bolsonaro em 2018, agora eles têm de aceitar a vitória do Lula”, disse. “Se for uma paralisação para reivindicar algum direito da classe, a classe terá meu apoio. Se for uma paralisação política, para atrapalhar o governo do Lula, não terá o meu apoio. Acho que autoridades têm de tomar providências porque não pode cercear o direito de ir e vir das pessoas que estão na via. É assim que os bolsonaristas falavam quando a gente ia reivindicar alguma coisa contra o governo Bolsonaro.”

Diretor-presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias disse que não há indício de paralisação ampla de caminhoneiros autônomos. “Vi alguns vídeos e são pessoas desconhecidas e acho que também nem são caminhoneiros”, apontou.

“Com base em nosso monitoramento identificamos que não se trata de uma greve/ movimento exclusivo de caminhoneiros, são movimentações individuais, .pontuais e de cunho ideológico sem coordenação de entidades ou lideranças”, afirmou a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA).

Em nota oficial, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) diz defender a democracia e “respeitar o resultado soberano das urnas”. “Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos de não aceitação do resultado das urnas. Precisamos respeitar o que o povo decidiu nas urnas: a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Esse projeto que está foi derrotado ontem”, afirma o diretor da CNTTL, o caminhoneiro autônomo de Ijuí-RS, Carlos Alberto Litti Dahmer.

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A Confederação Nacional do Transporte (CNT) se manifestou contrária à paralisação. “Além de transtornos econômicos, paralisações geram dificuldades para locomoção de pessoas, inclusive enfermas, além de dificultar o acesso do transporte de produtos de primeira necessidade da população”, diz o comunicado.

Bloqueio na Rodovia Presidente Dutra. Foto: PRF

MPF

O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informe as medidas adotadas para desmobilizar os bloqueios de caminhoneiros nas estradas após a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL). O objetivo é mapear as medidas tomadas para coibir eventual omissão.

A PRF afirmou que acionou unidades regionais da Advocacia-Geral da União (AGU) para garantir o fluxo das estradas. A corporação também disse que “adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo”. Também argumentou que suas equipes estão em locais onde há bloqueios ou aglomerações para negociar a liberação das rodovias, “priorizando o diálogo”.

O objetivo, registrou, é garantir “trânsito livre e seguro” e “o direito de manifestação dos cidadãos, como aconteceu em outros protestos”.Já a AGU disse que ajuizará as ações citadas, mas que “a Polícia pode atuar sem demandar autorização”. “É importante destacar que existem pareceres jurídicos da instituição que autorizam atuação de ofício das Polícias, sem demandar autorização judicial, como ocorreu em 2018, por ocasião da greve dos caminhoneiros”, registrou a AGU.

Para o criminalista Fernando Augusto Fernandes, não é necessário ordem judicial para que as forças do Estado, incluindo as polícias locais, tomem ações para desobstruir as estradas. “É possível até ter certa parcimônia para que isso seja feito sem a realização de violência, mas após determinado tempo essas forças policiais terão que agir”, disse.

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