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Campanha em SP vai ser refém da baixaria até quando? Veja as alternativas dos especialistas

Professor de marketing político sugere que candidatos organizem o próprio debate e excluam Pablo Marçal; horário político na rádio e na TV é esperança para discutir os reais problemas de São Paulo

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Foto do author Gabriel de Sousa


BRASÍLIA - O debate realizado neste domingo, 1º, pela TV Gazeta e pelo MyNews foi repleto de cenas de ataques e insultos entre os candidatos. Os eleitores de São Paulo acompanharam um encontro sem discussão de propostas. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, cabe aos concorrentes à Prefeitura decidir se vão manter o baixo nível até a data do primeiro turno, em 6 de outubro.

Debate da TV Gazeta e do MyNews realizado neste domingo, 1º, foi marcado por ataques pessoais entre os candidatos à Prefeitur de São Paulo Foto: Vitoria Vitorino/TV Gazeta

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Mais uma vez, o candidato do PRTB, Pablo Marçal, transformou o debate sobre os desafios de São Paulo pelos próximos quatro anos em briga na lama. Diferentemente dos outros encontros, onde ele atacou sozinho, os demais concorrentes decidiram responder no mesmo nível.

Marcelo Vitorino, professor de marketing político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), sugere que os outros candidatos devem criar acordos para evitar novos encontros pautados pela baixaria proposta por Marçal.

Uma das ideias dele é a criação de um debate produzido pelos próprios candidatos que, diferentemente dos encontros organizados por emissoras de televisão, não exige que todos os candidatos com representação no Congresso Nacional ou elevada intenção de voto participem. Segundo Vitorino, os danos de excluir Marçal deste encontro é menor do que as acusações de isolamento que vão ser disparadas pelo ex-coach.

“Tem que pegar os candidatos de São Paulo que são sérios, que estão ali de fato com uma visão para a cidade, e organizar debates não televisionados, abrindo o sinal para portais de notícias que não seguem a mesma regra das televisões. (...) Ele vai reclamar de que está sendo isolado, mas a imagem do outro candidato não vai estar ali”, afirmou.

Segundo Vitorino, os candidatos também podem se comprometer a não responder às provocações de Marçal em outros debates. Para o professor de marketing político, ressaltar a necessidade de experiência política através da discussão de propostas pode mudar o rumo da campanha em São Paulo, afastando as polêmicas de cunho pessoal.

“Você precisa levar o eleitor a entender o que está em jogo. Não é quem faz mais like, quem tem mais compartilhamentos ou quem dá a resposta mais rápida. O que está em jogo é o destino da maior cidade do País. Você nunca deve brigar com um porco porque, na pior das hipóteses, ele é mais experiente que você em chafurdar na lama e vai te vencer”, disse.

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Cientista político aposta em debates de propostas na propaganda eleitoral

Segundo Leandro Gabiati, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), uma alternativa à baixaria é a divulgação de políticas públicas através do horário eleitoral gratuito na rádio e na televisão. Isso ocorre porque Marçal não tem tempo de propaganda política, já que o PRTB não tem representação no Congresso.

“Os outros candidatos têm tempo de propaganda eleitoral gratuita. Eles podem aproveitar para sair desse debate conflitivo e passar para as propostas. O Marçal não tem propaganda e provavelmente não tem propostas de formulação de política pública, de forma coerente e racional”, explica Gabiati.

O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De acordo com Gabiati, a baixaria nos debates pode ser combatida mediante estratégias feitas pelos produtores dos encontros. O especialista aponta que o número elevado de direitos de resposta, como os concedidos no encontro da TV Gazeta e MyNews, favorece o conflito entre dois candidatos, deixando de lado os reais interesses do eleitor paulistano.

“Se os diferentes produtores dos debates perceberem que os direitos de resposta incentivam a baixaria, talvez eles passem a criar regras mais rígidas justamente para que os candidatos se enfrentem menos e tenha mais espaço para apresentar propostas”, afirma o cientista político.

Interferência judicial ou recado dos eleitores pode mudar rumo da campanha

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Para Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma mudança da postura dos candidatos pode ser provocada por interferências externas. Essas ações, segundo a especialista, podem ser por meio de uma intervenção da Justiça Eleitoral ou por um recado direto dos eleitores.

“Dificilmente esse cenário vai mudar sem que haja uma intervenção externa, porque os atores dependem desse tipo de atenção. Isso ainda é mais agravado com a presença de um ator que tem maestria na disputa do eleitor por essa lógica”, explica a professora da UFRJ.

Segundo Goulart, as pesquisas de intenção de voto também podem mudar o tema da campanha. Se o crescimento das intenções de voto de Marçal se estagnar ou cair, as equipes dos demais candidatos podem interpretar um esgotamento da postura bélica do ex-coach.

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“A redução das intenções de voto do Marçal pode ser interpretada, pelos outros atores, que ele chegou no topo das intenções de voto. Eles podem interpretar que essa estratégia de ataques não se esgotou e sim que ele alcançou todo o eleitorado disponível para ele. Mas é claro que esse recado da cidadania é interessante para que os outros concorrentes dialoguem”, afirma Goulart.