Mesmo com o início da propaganda eleitoral e com maior exposição na TV, o desempenho dos candidatos à Presidência nas pesquisas de intenção de votos se manteve estável. O cenário polarizado entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revela resistência na vantagem do ex-presidente.
A maior exposição de candidatos como Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), porém, em sabatinas e debates, é avaliada como um dificultador da escolha pelo voto útil ainda no primeiro turno, o que pode levar a eleição para uma segunda rodada em outubro.
Por isso, analistas ouvidos pelo Estadão observam tendência de estabilidade nas intenções de voto do petista no primeiro turno, enquanto para Bolsonaro a perspectiva é de alta discreta, já que houve discreta melhora do desempenho da economia do País. Em reunião com eurodeputados na semana passada, Lula chegou a afirmar que a eleição no Brasil “não está ganha”.
Informações do Agregador de Pesquisas do Estadão mostram que Bolsonaro está próximo de seu teto nos levantamentos, considerando-se o quanto ele alcançaria nas simulações de segundo turno. Já Lula tem uma maior margem de alcance, mas enfrenta o desafio de conquistar votos que, no primeiro turno, serão disputados por outros candidatos e podem deixá-lo estagnado.
Desde o início da campanha, Bolsonaro oscilou dois pontos para cima, chegando em 34%, enquanto Lula ficou em 45%. O principal crescimento do chefe do Executivo nas intenções de voto ocorreu, entretanto, antes de agosto, quando pré-candidatos como Sérgio Moro (União Brasil) e João Doria (PSDB) desistiram da disputa. Em março, Lula pontuava 44% e Bolsonaro, 25%.
A cientista política Carolina Botelho, do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), recorda que, historicamente, as eleições presidenciais no Brasil são decididas no segundo turno, e, embora Lula apresente chance de vitória na primeira rodada, pode ocorrer crescimento no desempenho de candidatos como Simone Tebet e Ciro Gomes.
Economia
Para o cientista político Christopher Garman, diretor executivo para as Américas da Eurasia, a grande pergunta dessa eleição é o quanto a melhora no ambiente econômico vai se traduzir em votos a favor do presidente.
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Parte dessa percepção de melhora econômica pode ser resultado do pacote de bondades aprovado por Bolsonaro, com a distribuição de auxílios próximos ao período eleitoral, mas ele não se traduz automaticamente em votos, entende Garman. Segundo ele, “62% dos eleitores interpretam as medidas econômicas como agenda eleitoral e não para ajudar a vida do povo.”
“Em 7 a cada 8 eleições o candidato mais forte na principal preocupação do eleitorado leva a eleição. Olhando as pesquisas sobre a natureza (desse pleito) é uma mistura de econômico com social. Não é estritamente emprego e inflação”, pontuou.
Nesse cenário, Lula costuma ser identificado pelo eleitor como um candidato que tem desempenho melhor nesses temas, o que Bolsonaro tenta rivalizar com a perspectiva de melhora econômica do País. “Existe a possibilidade de que Lula possa dirimir os seus passivos e vender uma mensagem de esperança muito eficaz. O que segura essa subida é que o cenário econômico está melhorando, e isso ajuda o governante”, afirmou Garman. O resultado, para ele, é um viés de baixa na capacidade de vitória do petista no primeiro turno.
Variável
Segundo o analista, dado um contexto de estreitamento devido a essa melhora econômica, esse é o tipo de eleição onde a campanha pode ser uma variável importante. “Se você tem uma melhora no cenário econômico, erros ao longo da campanha podem ser importantes. É o tipo de campanha que temos que ficar de olho na eficácia das mensagens.”
Na prática, não é o que se vê aplicado pelas campanhas eleitorais. Como mostrou o Estadão, o desempenho de Lula e Bolsonaro no primeiro debate da Band TV foi considerado ruim perto de outros candidatos, como Simone Tebet e Soraya Thronicke.
O cientista político Alberto Carlos Almeida avalia que a melhora de Bolsonaro nas pesquisas está colada no aumento da avaliação positiva do governo, que pode ser ser reflexo do arrefecimento da pandemia da covid-19 e a melhora dos indicadores de emprego. “O fato é que o acontecimento determinante para o encurtamento da distância entre os dois candidatos foi a melhoria da avaliação do governo Bolsonaro”, argumentou. “É uma soma de fatores. Desde fevereiro vem melhorando muito lentamente.”
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