A disputa para a prefeitura de Campinas (SP) deste ano pode seguir os moldes da eleição de 2020, especialmente se as atuais pré-candidaturas se solidificarem após as convenções partidárias, que acontecem entre 25 de julho e 5 de agosto. Até o momento, nomes conhecidos da política local, como Dário Saadi (Republicanos), Rafa Zimbaldi (Cidadania), Pedro Tourinho (PT) e Laura Leal (PSTU), já foram confirmados como pré-candidatos por seus respectivos partidos e também concorreram ao Palácio dos Jequitibás nas eleições anteriores.
Neste ano, as maiores mudanças no cenário político da cidade ficam com a movimentação de Zimbaldi, que trocou o PL, de Jair Bolsonaro, pelo Cidadania, para lançar sua candidatura à prefeitura, e de outros dois nomes de siglas menores que emergem como pré-candidatos já confirmados: Paulo Gaspar (Novo) e Edson Dorta (PCO). Dorta tentou concorrer ao cargo 4 anos atrás, mas enfrentou um revés quando sua candidatura foi indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido à falha do partido em apresentar o CNPJ necessário para a prestação de contas da campanha à Justiça Eleitoral.
Mesmo assim, o nome lançado este ano pelo PCO já concorreu no pleito municipal em 2016, quando obteve 0,06% dos votos válidos. Por conta de irregularidades nas prestações de contas do partido em relação à essa campanha, no entanto, sua tentativa de candidatura para o governo do Estado em 2018 foi barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
Uma pesquisa realizada pelo Instituto RealTime Big Data/Record, divulgada no início do mês, revelou que Saadi e Zimbaldi lideram as intenções de voto com 36% e 28%, respectivamente. Tourinho vem em seguida, com 14%, na frente de Dorta, com 4%, e Laura, com 2%. O levantamento foi feito com mil eleitores da cidade e a margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TSE como SP05954/2024.
Outro levantamento divulgado no dia 28 de maio, realizado pela Paraná Pesquisas, mostra Saadi a frente em todos os cenários pesquisados, seguido por Zimbaldi e Tourinho. O petista lidera numericamente, porém, a taxa de rejeição, com 24,9% contra 24,1% do candidato do Republicanos, que aparece em segundo lugar. Zimbaldi aparece na última posição, com 18,9%, depois de Laura, Dorta e Gaspar. Além disso, 59,4% dos entrevistados responderam que aprovam a gestão do atual prefeito, contra 36,6% que desaprovam. O estudo mediu também a aprovação do governo estadual, em que 64,3% aprovam o governo Tarcísio, enquanto 32% dos eleitores desaprovam. O cenário se inverte quando é medida a avaliação do governo federal. A taxa de aprovação de Lula é de 41,8% em Campinas, contra 55,1% de desaprovação. A pesquisa foi realizada com 800 eleitores da cidade e a margem de erro é de 3,5% para mais ou para menos. O levantamento está registrado no TSE como SP04249/2024.
No primeiro turno das eleições municipais de 2020, os dois que aparecem à frente na última pesquisa também encabeçaram a disputa, com 25,78% e 21,86% dos votos, respectivamente. Na sequência, vieram Tourinho, com 20,49%, Artur Orsi (PSD) com 16,72%, Wilson Matos (Patriota), com 3,20%, e, mais adiante, Laura e Dorta com 0,11% e 0,03%, respectivamente. No segundo turno, Saadi venceu a disputa com 57% dos votos. Assim, as três principais forças políticas do último pleito continuam nos mesmos lugares, até o momento, para a corrida eleitoral deste ano.
Saadi conta com o apoio do governador de São Paulo
Outro destaque das eleições municipais de Campinas deste ano é a posição do atual prefeito, do Republicanos, que conta com o apoio significativo do governador Tarcísio de Freitas, da mesma sigla, que assumiu o governo do Estado. Esta aliança partidária representa um potencial trunfo para a campanha de reeleição de Saadi. Contudo, ainda há expectativas de que Tarcísio migre para o PL, conforme apontado por Valdemar Costa Neto em declaração ao Estadão.
O presidente do PL sugeriu que a mudança de partido do governador poderia acontecer “lá para junho”, e que o partido entende que “ele (Tarcísio) está fazendo campanha para candidatos do Republicanos em São Paulo. Precisa ajudar o partido que elegeu”. Internamente, a manobra é interpretada como uma forma de ‘pagamento de dívidas’ por parte do governador junto ao seu partido atual. Essa percepção sugere que ele se dedicará a participar ativamente de diversas campanhas municipais em todo o Estado, oferecendo suporte aos candidatos da sigla liderada por Marcos Pereira.
Na última quarta-feira, 29, Tarcísio participou de um evento que arrecadou doações para as vítimas das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul. No encontro estavam presentes, afora o governador do Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o prefeito de Campinas, Dário Saadi, além de outros políticos e personalidades ligadas à direita. Como adiantou o Estadão, Tarcísio estava na cidade para assinar o contrato de concessão do trem Intercidades, que ligará São Paulo a Campinas. A informação também foi reforçada pelo mandante estadual no Summit Mobilidade, maior evento sobre mobilidade do País, que ocorreu um dia antes.
Polarização na cidade pode ser dividida entre apadrinhados de Lula e Tarcísio, com incertezas para Zimbaldi
Durante o mandato de Saadi, se o Republicanos passou a governar o Estado de São Paulo depois de 28 anos de liderança do PSDB, o PT voltou a ter o cargo de presidente da República. O cientista político da Unicamp Otávio Catelano, afirma que Tarcísio tenta “criar capilaridade” a partir de sua forte influência política no interior, onde teve votação expressiva em 2022. Já o PT, por outro lado, tem mais interesse em uma polarização, de acordo com Catelano, pois Tourinho está bem atrás de Zimbaldi, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto.
Tarcísio deve ter grande atuação na campanha de Campinas e Lula deve seguir a mesma estratégia, considerando a importância de Campinas, que é considerada a ‘capital do interior paulista’, e possui o 12º maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Com isso, o candidato do Cidadania ficaria sem um ‘padrinho político’ de importância no jogo.
Em entrevista ao Estadão em janeiro, Tourinho disse que a avaliação é de que sua candidatura, depois da eleição de Lula, é mais viável nas eleições deste ano, prevendo uma “unidade progressista” na disputa. Catelano também concorda que o momento para o candidato apoiado pelo presidente da República é outro: “Se a polarização ficar entre Dário e Pedro, o petista tem mais chance de chegar ao segundo turno e ‘fazer valer’ seu nome, diferentemente do que aconteceu em 2020, quando o Rafa foi testado contra o atual prefeito e perdeu.”
A conjuntura eleitoral apresenta desafios particulares para Zimbaldi. Atualmente filiado ao Cidadania, seu partido é federado com o PSDB-Campinas, que anteriormente considerou a possibilidade de apoiar a candidatura à reeleição de Saadi. No entanto, o antigo deputado do PL conta com o respaldo de algumas lideranças tucanas no âmbito estadual. O dilema central para o pré-candidato reside em consolidar sua posição como uma alternativa viável diante da possível tendência de polarização Saadi x Tourinho, após o início oficial das campanhas, delineando o cenário eleitoral de Campinas. “Ele tem um eleitorado mais à direita, só que esse eleitor também vai estar com o Dário. Ele vai ter que conquistar um público de centro que, hoje em dia, tem cada vez menos representatividade. Nesse cenário, pode ser que o petista tenha mais chances de ‘deslanchar’ do que o Rafa nessa disputa”, avalia Catelano.
Veja os pré-candidatos à Prefeitura de Campinas:
- Dário Saadi (Republicanos), atual prefeito
- Rafa Zimbaldi (Cidadania), deputado estadual
- Pedro Tourinho (PT), ex-vereador
- Laura Leal (PSTU), petroleira e militante do partido
- Edson Dorta (PCO), agente postal
- Paulo Gaspar (Novo), vereador
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