BRASÍLIA - A oito meses do primeiro turno das eleições municipais, o cenário em Goiânia é de indefinição de candidaturas e de disputa acirrada sem um franco favorito até o momento. As pesquisas de intenções de voto mais recentes, divulgadas entre julho e dezembro do ano passado, apresentaram quatro candidatos na dianteira do páreo, com nomes que vão do PT ao PL e do PSD ao Republicanos.
O atual prefeito Rogério Cruz (Republicanos) apareceu em baixa nas mais recentes pesquisas eleitorais. A desaprovação do político está relacionada a problemas na administração da cidade, como falta de coleta de lixo, alagamentos, asfalto em condições precárias e criminalidade.
O consultor de marketing político Marcos Marinho, que faz campanhas eleitorais em cidades de Goiás, avalia que o prefeito “patinou demais até arrumar a casa” e “não conseguiu estabelecer uma marca de gestão”. Cruz foi eleito vice-prefeito na eleição de 2020 e assumiu o controle da cidade após a morte do ex-prefeito Maguito Vilela em decorrência da covid-19. Após assumir, o novo prefeito rompeu com o MDB de Vilela e passou a enfrentar dificuldades na Câmara Municipal.
“Ele não conseguiu criar uma estrutura sólida de governança e isso, na avaliação da população, denota fragilidade”, afirmou Marinho. “O mandato do Rogério ficou muito deficitário em questão de comunicação e entrega”, prosseguiu. “A figura do prefeito é palatável, mas a gestão dele é muito fraca na avaliação das pessoas. A cidade está malcuidada”, completou.
As pesquisas mostram que os candidatos que melhor conseguiram capitalizar a fragilidade do prefeito para impulsionar as suas candidaturas foram o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que apareceu em primeiro lugar em algumas sondagens, e a deputada federal Adriana Accorsi (PT). Ela surge como figura consolidada na segunda colocação nos principais levantamentos realizados até o momento pelos principais institutos.
Outro postulante que aparece bem posicionado em pesquisas de intenções de voto é Gustavo Mendanha (MDB), ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, cidade vizinha à capital. Contudo, ele não poderia concorrer na principal cidade de Goiás porque foi eleito duas vezes consecutivas em Aparecida. Ele renunciou ao mandato para disputar as eleições estaduais de 2022. Sem chances de concorrer em 2024, ele passou a apoiar Jânio Darrot (MDB), ex-prefeito de Trindade, como candidato na capital.
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Na avaliação de especialistas, a candidatura de Accorsi é a mais consolidada até o momento. Ela foi delegada-geral da Polícia Civil de Goiás e empunha a bandeira de combate à criminalidade. Nem mesmo a filiação ao PT é vista como um empecilho para a candidata chegar ao segundo turno. Nas eleições de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve apenas 36% dos votos na capital de Goiás e foi derrotado por Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a Paraná Pesquisas, o petista é desaprovado por metade dos goianos. Mesmo assim: “Aqui em Goiânia se especula se no segundo é a Adriana contra quem”, afirmou Marinho.
“Há uma ranço ao PT muito forte em Goiânia, mas a Adriana é um quadro político que não carrega tanto a rejeição ao PT por causa das atuações que ela já teve enquanto delegada e chefe da Polícia Civil. Ela goza de prestígio e de uma palatabilidade muito boa para o cidadão goianiense”, avaliou. “Ela pode se tornar a maioria da minoria”, completou em referência à fragmentação do eleitorado de direita.
Deputado bolsonarista não desponta
No rol de pré-candidatos apresentados até o momento ainda há o nome do deputado federal Gustavo Gayer (PL). Mesmo com desempenho aquém dos primeiros colocados, o parlamentar atrai olhares por causa da sua ligação com Bolsonaro.
Mas, para a professora Denise Paiva, que dá aulas de Ciência Política na Universidade Federal de Goiás (UFG), a pecha de bolsonarista não deve ser suficiente para o parlamentar se tornar viável. “O deputado Gustavo Gayer representa o bolsonarismo raiz. Mas ele não é um candidato tão competitivo, embora Goiânia seja um local em que o bolsonarismo tem se mostrado muito forte”, afirmou.
O nome do deputado federal Major Vitor Hugo (PL) também figurou em pesquisas como possível candidato do campo bolsonarista, mas, até o momento, a candidatura não ganhou tração e deve ser desbancada internamente no PL pela campanha de Gayer.
Indicação do governador deve embaralhar disputa pela prefeitura
Especialistas ouvidos pelo Estadão fizeram a ressalva de que o pré-candidato que deve embaralhar a corrida sequer foi definido. Eles se referiam ao nome que deve ser apoiado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que tem 72% de aprovação, segundo pesquisa AtlasIntel divulgada em dezembro.
A popularidade do governador do Estado é tida como um fator que deve tornar competitivo qualquer candidato ungido por ele. Apesar da expectativa dos políticos goianienses, Caiado não decidiu quem receberá o apoio. Havia a expectativa de que o seu homem de confiança na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), o presidente da Casa Bruno Peixoto (União Brasil), fosse o escolhido. O deputado estadual já se apresentava como pré-candidato, mas desistiu de concorrer no último dia 17 de setembro.
Com a desistência de Peixoto, todos os olhares do campo “caiadista” se voltaram para o ex-prefeito Jânio Darrot (MDB), que governou a cidade de Trindade, mas que sequer havia sido considerado pelos institutos de pesquisas nas rodadas mais recentes de sondagem de intenções de voto. As pesquisas eleitorais apresentavam o nome da advogada Ana Paula Rezende como candidata do MDB. Ela é filha do ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende, mas desistiu da candidatura em agosto do ano passado.
Ao Estadão, o governador Caiado afirmou que “não vai tirar candidato de bolso de colete” e que a definição do nome para disputar a Prefeitura de Goiânia é uma “construção coletiva”.
“Vou iniciar na próxima semana uma rodada de discussões com os presidentes dos partidos que formam nossa base aliada. O nome tem que ter o perfil desejado pelo eleitor, alguém que tenha capacidade de empreender uma boa gestão e também ter a aceitação do nosso grupo político”, disse.
“Acho que até o próximo mês vamos afunilar na definição de uma pré-candidatura para que o nome tenha tempo de trabalhar. Mas não estabeleci prazos, será o que for necessário até as convenções”, completou.
Embora o apoio de Caiado mobilize a política goiana, um tabu persiste há 20 anos no Estado e gera incertezas sobre os rumos da disputa em 2024. A eleição de 2000 foi a última em que um candidato a prefeito apoiado pelo governador venceu na cidade. Naquele ano, o candidato Pedro Wilson (PT) venceu Darci Accorsi com o apoio do governador Marconi Perillo (PSDB). Desde então nenhum governador teve sucesso em eleger o seu aliado na capital.
O atual governador minimizou a sina que persiste na política goiana e destacou as taxas de aprovação obtidas pela sua gestão. “Um candidato que esteja alinhado com esses princípios, que tenha esse compromisso com as pessoas, e que tenha naturalmente nosso respaldo, certamente sai muito competitivo”, afirmou Caiado.
Diante do cenário colocado neste início de ano, a professora Denise Paiva avaliou que a disputa eleitoral está completamente aberta. Ela frisou que a candidatura de Accorsi é a mais consolidada, mas avalia que há espaço para outros concorrentes crescerem. “A cidade tem apresentado muitos problemas. Um candidato ou candidata que se disponha a discutir os problemas da cidade vai ter muitas chances”, afirmou.
Levantamento realizado pelo instituto Goiás Pesquisa aponta que três em cada quatro eleitores da capital estão indecisos sobre quem vão votar em outubro deste ano.
A eleição de 2024 na capital será a primeira sem a participação direta ou indireta de dois políticos históricos de Goiás: Maguito Vilela e Iris Rezende, que faleceu em novembro de 2021. Os dois emedebistas ditaram os rumos da política local desde 2004, quando Rezende voltou a ser eleito prefeito de Goiânia após 38 anos da primeira vitória.
Os especialistas afirmam que a ausência de figuras de peso do MDB e também do PSDB, que sempre foram fortes no Estado de Goiás, tornam a disputa na capital ainda mais incerta.
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