A candidatura presidencial da senadora Simone Tebet foi razoavelmente tardia. Sob o ângulo cronológico, a emedebista foi o último nome a ser especulado como a representante da “terceira via”, ou seja, de uma candidatura que organiza superação da polarização Lula-Bolsonaro, a partir do olhar liberal. O ponto de partida do seu projeto presidencial pareceu bastante desafiador; a senadora sofre com a divisão do seu próprio partido e não conseguiu encontrar palanques estaduais em importante colégio eleitoral. A demora na montagem do projeto nacional certamente dificulta o convencimento do eleitor em uma disputa marcada por dois nomes com taxa de conhecimento bastante elevada, ajudando a explicar a forte cristalização da intenção de voto na corrida presidencial de 2022.
O desafio mais urgente do projeto do MDB é aumentar a taxa de conhecimento da senadora. As pesquisas sugerem que algo como sete em cada dez brasileiros não conhecem a candidata, o que torna improvável aumento da sua intenção de voto. Apenas dois em cada dez indivíduos entre o eleitorado de renda baixa afirma conhecer a candidata. A ausência de uma imagem minimamente consolidada, contudo, aumenta o grau de liberdade da sua comunicação na construção da personagem de candidata a presidente.
A sabatina ofereceu amplo espaço para a apresentação da candidata ao eleitor. Tal espaço foi resultado da ausência de polêmicas em sua biografia política e histórico do poder. Assim, Simone Tebet conseguiu imprimir sua preocupação com o social, especialmente com os mais jovens e, em diversas oportunidades, reforçar a associação da sua candidatura com o projeto liberal. As referências a condição feminina também foram reforçadas.
A parte desafiadora da sabatina foi resultado da política. As evidências das dificuldades de mobilizar apoio do projeto do centro-democrático são abundantes e reforçadas ao longo da entrevista. No limite, o projeto presidencial de Tebet parece ser quase um voo solo em meio as divisões no interior da sua coalizão. Tal fraqueza dificulta que as ideias apresentadas cheguem aos destinatários.
Na verdade, a candidatura de Tebet parece olhar mais para o longo prazo. Sob essa ótica, o grau de sucesso da emedebista em mobilizar a sociedade em torno das suas ideias, pode ter impacto na configuração da direita no sistema político brasileiro. O eventual fracasso pode, de fato, consolidar o bolsonarismo como expressão desse campo no país. O jogo de Tebet parece ser mais usar a eleição presidencial como um passaporte para liderar um projeto com maior musculatura no futuro.
Rafael Cortez é sócio da Tendências Consultoria é Doutor em Ciência Política (USP)
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