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Opinião | Haddad reclama, mas pacote oficial é o mesmo que vazou, com corte de receitas e não de gastos

O 2024 de dólar alto impõe a realidade da água baixando para que se possa ver o corpo natimorto do arcabouço fiscal

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Foto do author Carlos Andreazza

A moeda ianque se plantou – diria o craque Bruno Henrique – em outro patamar. Esse é o dólar – pouco condicionado pela volatilidade – que faz especial carga na inflação. Na inflação de alimentos – que implica em humor e voto. Na inflação da carne. O povo come dólar. Não apenas no valor do trigo que virará pão.

O dólar, percebido em nova altitude, encorpa os preços todos. Inflação. Que comerá a renda do mais pobre. Que comerá agora a gordura de quando quem ganha menos não mais pagar imposto de renda. Talvez em 2026. A mordida, certeza, já veio; já está.

Ministro da Fazenda reclamou que houve "vazamento" de pacote que gerou interpretação equivocada Foto: Wilton Junior/Estadão

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Esse real desvalorizado é produto da leitura de que a dívida pública avança sem controle. Avança mesmo. Ao que o governo respondeu com o pacote de corte de gastos que não corta gastos; que corta receitas – renúncia fiscal sem compensação arrecadatória equivalente.

O cara que financia a conta que-não-fecha de Lula cobra mais caro. Juro. O custo do pacote pente-fino requentado que promete poupança de R$ 70 bilhões entre 2025 e 26 – número insuficiente que as medidas apregoadas só alcançam na calculadora da Fazenda. Não deveria haver surpresa.

O bicho é coerente com a trajetória deste Dilma 3. Enganou-se quem quis com 2023; quem fez sumir da história os artifícios da PEC da Transição, que despejou R$ 150 bilhões na economia, extravagância que transformaria Haddad em Malan.

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Este 2024 impõe a realidade – a água baixando para que se possa ver o corpo natimorto do arcabouço fiscal. Este 24 em que se alteraram as metas fiscais de 25 e 26, e em que se pedala a regra para tentar conseguir fechar o ano com buraco de somente R$ 30 bilhões. Meta fiscal, exercício de fantasia, tornou-se um fim em si mesmo. O mau humor demorou a se estabelecer.

A entrevista do ministro à Record News mostrou que o mau humor dele tem endereço trocado:

“Não adianta se queixar do mercado. Ah, o mercado leu errado. Cuida da comunicação. Não deixa a informação vazar. Quando vazar, tem uma autoridade constituída para explicar, e aí você não vai ter problema. Mas, de fato, o que me contrariou é o fato de não ter sido explicado de maneira correta. É o fato de você permitir uma leitura muito equivocada do que estava sendo proposto.”

Ninguém leu errado. Cuidada ou descuidada a comunicação, o que foi proposto o foi no vazado e no oficial. Igualzinho. No vazamento e na TV, o equívoco “explicado de maneira correta”. Isenção fiscal sem compensação à altura.

O vazamento é problema interno petista. Não se vazou algo que não integraria o anúncio. Mesmo com tudo que as reações ao vazamento informaram, ainda assim a “autoridade constituída” apresentou o pacote de corte de gastos que, sem cortar gastos, corta receitas. Mais rombo. O vazamento que contraria de fato.

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Opinião por Carlos Andreazza

Andreazza foi colunista do jornal O Globo e âncora da Rádio CBN Rio, além de ter colaborado com a Rádio BandNews e com o Grupo Jovem Pan. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, escreve às segundas e sextas.

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