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Opinião | Legado de Lira será gestão autoritária de emendas com deputados transformados em vereadores federais

Parlamentares que votem como mandados, sem nem saber detalhes do texto se quiserem recursos para apadrinharem em suas paróquias

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Foto do author Carlos Andreazza

Reflitamos sobre o significado de presidentes da Câmara eleitos por aclamação. Foi assim com Arthur Lira. Será assim com Hugo Motta, tudo o mais constante.

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A constante: a operação do orçamento secreto, engenharia absolutista sob domínio dos donos do Parlamento. Operação que veio para ficar. Que já ficou. Que cala bocas. A atividade política aterrada pela imposição de um Estado imperial de poder materializado na gestão autoritária de emendas parlamentares. Esse será o legado de Lira.

Aclamado o rolo-compressor. Abastardado o Legislativo que subordina a sua natureza de representação – de contraditório – às ordens dos senhores das emendas. Esse será o legado de Lira.

Arthur Lira comanda com mãos de ferro a Câmara dos Deputados, enquanto parlamentares precisam aceitar ordens para ter emendas Foto: Bruno Spada/Agência Câmara

Deputados e mesmo senadores, sobretudo oportunistas, rebaixados a vereadores federais, autorizados a ser padrinhos de emendas pelos patronos do Congresso. Em troca de inexistirem. Garantidos os seus dinheiros, aquinhoadas as suas paróquias, retribuem com silêncio-aval às urgências artificiais, à supressão de comissões, ao desmonte dos mecanismos de obstrução, à depauperação do debate.

Legisladores que aprovam projetos sem lhes conhecer os textos, em cujos corpos são metidos contrabandos – tudo empurrado aos 48 do segundo tempo, para votação remota, deserto o plenário.

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O repórter Daniel Weterman ilustrou a prática. Votava-se, na última terça, projeto sobre dívida dos Estados quando de repente, noite já avançada, malocou-se jabuti de interesse do governo, a pedido do governo – que não é vítima. Puxadinho para que a Fazenda possa gastar em 2025 mesmo se não aprovada a LDO. Quantos deputados sabiam do que se tratava? É o preço.

Se quer as suas emendas, vereador federal, vote como mandado. Esse é o legado de Lira.

Será assim na próxima semana. A agenda vai andar. Veremos a multiplicação dos votos pró-governo, até ontem inexistentes. Dino liberou o pagamentos das emendas e o Planalto começou a pagar os bilhões. A Lei Complementar 210 ignora as determinações do STF e formaliza as bases para a prosperidade do orçamento secreto no ano que vem. Todos fingirão que o ministro fez grandes exigências e que a portaria do governo disciplinou-moralizou algo.

Dino liberou. A insatisfação era porque o governo não pagava. Pagando, ajeita-se.

O deputado Júlio Arcoverde, presidente da CMO, aquele que definira como “direito adquirido” da classe legisladora a forma corrente de administração de fundos orçamentários, explicou tudo: “Tem que começar a pagar [as emendas] porque o povo que faz obra está desempregado. O importante é liberar o que está bloqueado este ano, e todo mundo se adapta para o que vem”.

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O importante está acontecendo. E todo mundo se adaptará no ano que vem. Inclusive o Supremo.

Opinião por Carlos Andreazza

Andreazza foi colunista do jornal O Globo e âncora da Rádio CBN Rio, além de ter colaborado com a Rádio BandNews e com o Grupo Jovem Pan. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, escreve às segundas e sextas.

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