Por que o caso do batom gera tanta repercussão? Por que tamanha indignação na sociedade, afinal não sendo Débora a única entre os agentes do 8 de janeiro a ter apontada contra si punição desproporcional aos atos praticados?
Porque é absurdo. Tão absurdo que vira símbolo do vício. Expressão de que algo corre à margem da Lei na administração dos pesos entre os nossos heróis togados salvadores da pátria.

Porque a condenação de Débora Rodrigues dos Santos, se confirmados os 14 anos, encarna o esculacho. Ode – pela corte constitucional do delegado Xandão – a este tempo em que as nuances não têm vez. A barbaridade do caso berrando por comparação àquilo que empreenderam, ora em evidência, os verdadeiros golpistas – Bolsonaro e seus associados.
Porque a tal dosimetria sobre esta mulher é – para citar o exercício de humildade judicial de Fux – “exacerbada”. Beira o justiçamento – e as pessoas entendem o troço assim e se colocam no lugar do outro.
Porque a pena projetada é injusta. Obviamente injusta. Uma injustiça – de percepção fácil – executada pela Justiça. Sentimento que tem o condão de impor revisão em série de sanções, daí por que tão na defensiva estiveram o acusador Moraes e seus assistentes.

Todo mundo sabe que Débora foi denunciada por múltiplos crimes. Não apenas por aqueles relacionados à depredação da estátua da Justiça. Essa é a questão. O julgamento à baciada, o STF indiferente à individualização das condutas. O Supremo indiferente ao cidadão – para lembrar de novo o humilde Fux. Insustentável sendo pregar que aquela mulher tenha tentado dar um golpe e abolir o estado democrático de direito.
Se você acredita na existência do movimento golpista, razão maior não haverá a que cobre a condução equilibrada dos processos mantidos sob os onipresentes e infinitos inquéritos xandônicos. Razão maior não havendo – porque já ficou tarde, porque esse gênio não voltará à lâmpada – a que fiscalize e denuncie a tocada justiceira dos bichos até aqui.
A delação de Cid não caberia – alô, anulador-geral Dias Toffoli! – na categoria “pau de arara do século XXI”? São vários os furos, não poucas as censuras. Né, ministra Carmen Lucia, a do “cala a boca já morreu”?
Uma coleção de arreganhos, que planta precedentes e franqueia brechas, em defesa da nossa liberdade. Que a rapaziada admite por conveniência. Porque contra o capeta. Porque nada se aprendeu com a Lava Jato e com a maneira como os ventos mudam sobretudo no Supremo – o que significa que, da mesma forma que reabilitados hoje vão os corruptos, amanhã poderão ser os golpistas.
Papo reto: a saúde do Brasil – a vitória sobre a depressão em que nos afundamos – depende da compreensão de que coexistem, inaceitáveis ambas, a empresa golpista de Jair Bolsonaro e a gestão processual autoritária de Alexandre de Moraes.