Carnaval de Lula na Bahia: conheça a base militar usada no descanso do presidente

Refúgios tradicionais de presidentes da República, estruturas servem de hospedagem em férias e feriados

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Por Ana Luiza Antunes e Gabriel Moura, Especiais para o Estadão

SÃO PAULO e SALVADOR – A 33 quilômetros de onde trios elétricos duelam pelo posto mais alto na escala de decibéis, há duas praias em Salvador onde a trilha sonora é regida pelo som das marolinhas da Baía de Todos os Santos chocando-se com a areia. Por causa da distância, o local é pouco frequentado por moradores da região central da capital baiana, e raramente consta em roteiros turísticos. Entretanto, um antigo frequentador do local resolveu voltar para passar o carnaval: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde o primeiro mandato, o petista costumava passar as folgas na praia privativa de Inema, localizada na Base Naval de Aratu, área militar controlada pela Marinha. Um muro a separa da praia de São Tomé de Paripe, essa aberta ao público em geral.

Muro separa a praia privativa de Inema, onde fica a Base Naval de Aratu, e São Tomé de Paripe, aberta ao público em geral. Foto: Gabriel Moura/ Especial para o Estadão

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Na maré baixa, uma faixa de areia aparece, abrindo a divisão entre as duas áreas, possibilitando o contato entre as pessoas de cada lado da barreira. Jair Bolsonaro, em 2019, foi até esse elo para cumprimentar e tirar foto com apoiadores.

O trajeto até o banho de mar mais distante da Salvador continental envolve duas rodovias, uma federal e outra estadual, além de cruzar o bairro de Paripe, um dos mais pobres e populosos da capital baiana. É justamente o percurso de quase uma hora saindo do Centro que garante o sossego da região.

O primeiro presidente a veranear no ‘Caribe da CBX’ – como propagandeia um vendedor ambulante, citando o carinhoso apelido da Cidade Baixa – foi Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990. Dilma Rousseff e Michel Temer também visitaram o espaço.

Dependências utilizadas por presidentes fica dentro da Base Naval de Aratu. Foto: Gabriel Moura/ Especial para o Estadão

Dentro da área restrita, os chefes de Estado se hospedam em uma casa em estilo neocolonial, construída no início do século 20 pela família Magalhães, antiga proprietária do espaço.

Em 2011, a mando de Dilma, a residência foi reformada. As obras, que custaram R$ 650 mil, serviram para a instalação de oito TVs de LCD, sete equipamentos de DVD, seis frigobares e um home theater, além de outros gastos em estrutura e decoração.

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Quando um presidente se hospeda no local, a segurança é reforçada, enquanto parte dos servidores e militares que atuam rotineiramente na base naval é dispensada. “Só fica na vila quem é necessário. E quem permanece é orientado a não interagir ou se aproximar do presidente. Antigamente, conseguíamos ver Lula de longe, que acenava para nós, é só”, lembra Bruno Conceição, de 36 anos, que serviu no local entre 2007 e 2008.

No passado, Lula já foi fotografado com um cooler na cabeça e tomando banho de chuveiro. Na estadia de 2023, a rotina do petista tem sido de breves banhos de mar e caminhadas. O petista chegou à base nesta sexta-feira, 17.

Lula, em 2010, de férias na Base Naval de Aratu. Presidente costuma frequentar local desde seus primeiros mandatos Foto: Marcio Fernandes/AE

Inema

A praia privativa recebe este nome por causa do termo em Tupinambá “y-nema”, que significa algo como águas fétidas, explica o professor José Eduardo, especialista na história do subúrbio de Salvador. Apesar do nome, no entanto, o mar não exala nenhum odor desagradável.

“Essa área era conhecida, principalmente, pela linha do trem que margeava todo o subúrbio, indo da Calçada até Inema. No fim do trilho, era onde se pegavam barcos até as ilhas da Baía de Todos os Santos, como a de Maré e dos Frades. A travessia náutica funciona até hoje, mas o trem foi extinto”, conta.

Banhistas aproveitam dia ensolarado na praia de São Tomé de Paripe, vizinho à praia de Inema. Foto: Gabriel Moura/ Especial para o Estadão

Antes do trem, nessa região existiam engenhos de cana-de-açúcar e, posteriormente, fazendas de plantação e pecuária. “Esse é um lugar importante para o eixo norte de Salvador desde o início da colonização em razão da localização privilegiada, no centro da baía, quase chegando ao Recôncavo Baiano. Há registros tanto de indígenas quanto da consolidação portuguesa no local. Há igrejas antigas e comunidades quilombolas na região, por exemplo”, relata o historiador Rafael Dantas.

Foi justamente a localização estratégica que fez o Exército dos Estados Unidos ajudar a financiar, após o fim da Segunda Guerra, a instalação da Base Naval.

Casas de praia

Além da unidade na Bahia, outras bases militares navais foram frequentadas por presidentes em exercício. Fernando Henrique Cardoso costumava aproveitar seus dias de descanso na base militar do Exército na Restinga da Marambaia, litoral do Rio, região privativa e administrada pelas Forças Armadas.

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Em 2011, Dilma passou o feriado de carnaval no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, base militar da Aeronáutica, localizada a cerca de 10 km do centro de Natal. O local é destinado para o lançamento de foguetes e atividades espaciais que apoiam a aeronáutica brasileira.

Já Bolsonaro costumava tirar férias no Guarujá (SP), onde ficava hospedado no Forte dos Andradas, local que abriga o quartel-general da 1.ª Brigada de Artilharia Antiaérea e da costa das regiões Sul e Sudeste do Exército Brasileiro.

O presidente Jair Bolsonaro foi cercado por banhistas em 2020, no Guarujá Foto: Reprodução/Facebook Jair Bolsonaro

O complexo bélico foi construído durante a Segunda Guerra, em 1942, e possui instalações que serviam para esconder canhões usados na defesa do Porto de Santos. Lula também já chegou a ficar hospedado na base durante seus dois primeiros mandatos.

Geralmente, os chefes de Estado ficam hospedados em uma casa destinada às autoridades, vigiada pela Marinha e com áreas de segurança e comunicação reforçadas. No caso da unidade em Aratu, o local é recuado da base militar, mas funciona como apoio logístico e estratégico para as três Forças Armadas.

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