Carta da Fiesp em defesa da democracia ganha assinatura de oito entidades ligadas ao agronegócio

Adesão ao manifesto, porém, não foi consenso entre entidades do setor; OAB prepara documento próprio

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Foto do author Isadora Duarte
Atualização:

Ao menos oito entidades empresariais ligadas ao agronegócio estão entre as signatárias da carta pró-democracia articulada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – mais de 100 entidades endossam o documento. A assinatura ou não da carta, porém, não foi consenso entre entidades do setor.

O manifesto da Fiesp foi publicado na edição desta sexta-feira, 5, em jornais de grande circulação e pede a estabilidade democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento como o “sentido maior” do 7 de Setembro deste ano. O texto também reitera um compromisso com “a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto”, a independência dos Poderes e a importância do Supremo Tribunal Federal (STF).

Prédio sede na Fiesp, na Avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Julia Moraes/Divulgação

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O manifesto da Fiesp não é o mesmo elaborado pela Faculdade de Direito da USP, que já recebeu mais de 700 mil assinaturas. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não assinou a carta da Fiesp e pretende publicar manifesto pró-democracia, na segunda-feira, 8, durante reunião do Conselho Federal.

As entidades ligadas ao agronegócio justificam a assinatura dizendo que a democracia é fundamental para sociedade civil e que é dever da sociedade defendê-la. “A Ibá entende que as instituições democráticas são essenciais para os brasileiros, com influência, inclusive, nas relações internacionais”, disse a Ibá, em nota enviada à reportagem.

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Assinam a carta da Fiesp a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), o Sindicato Nacional da Indústria de Café Solúvel (Sincs), a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola (Abracal), o Sindicato da Indústria de Calcário e Derivados para Uso Agrícola do Estado de São Paulo (Sindical) e o Sindicato da Indústria do Milho, Soja e Seus Derivados no Estado de São Paulo (Sindmilho & Soja) confirmaram a assinatura ao Broadcast Agro.

Algumas destas entidades já tem relação ou são associadas à Fiesp. O presidente da Abimapi, Claudio Zanão, e o presidente da Abics, Fabio Sato, compõem a diretoria da divisão de Produtos de Origem Vegetal do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Fiesp. O diretor executivo da Abracal, Euclides Francisco Jutkoski, e o presidente do Conselho Fiscal da Abracal, Fábio Ramos Vitti, integram a divisão de insumos do Deagro da Fiesp. O diretor-executivo da Abiove, André Nassar, é conselheiro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp.

Carta da Fiesp cita o Supremo Tribunal Federal (foto) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foto: Dida Sampaio/Estadão

Divergência

A adesão do setor à carta não foi consenso. Lideranças do agronegócio afirmam que o principal receio para assinatura foi quanto ao “tom político” da carta e possíveis embaraços que podem ser gerados junto ao governo federal pelo endosso do documento.

A reportagem apurou que a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Croplife Brasil, que representa indústrias de sementes e defensivos, e a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) foram procuradas, mas não assinaram o documento.

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No ano passado, após o recuo da própria Fiesp, que adiou a publicação da sua “carta pela democracia”, entidades do agronegócio divulgaram um manifesto próprio defendendo o Estado Democrático de Direito garantidor da “liberdade empreendedora” e criticando “qualquer politização ou partidarização nociva” que agravaria os problemas do País. Na ocasião, o movimento foi liderado pela Abag, Abiove e Ibá.

A menção indireta ao processo eleitoral também desagradou a representantes do setor, que consideram que a carta “entra” em território político eleitoral. A polarização também preocupa os dirigentes, que temem cisão interna entre suas empresas associadas.