Carta de Lula garante liberdade de culto e acena com participação de evangélicos em eventual governo

Candidato lembra sanção da Lei de Liberdade Religiosa e criação do Dia da Marcha para Jesus; leia íntegra

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Foto do author Eduardo Gayer
Atualização:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou na manhã desta quarta-feira, 19, da leitura de sua carta aos evangélicos, em evento com lideranças religiosas, e reafirmou o compromisso, se eleito, com a liberdade de culto no País. O texto diz que os evangélicos são bem-vindos para participar do Executivo e fala de medidas do petista ao segmento enquanto foi presidente, como a sanção da Lei da Liberdade Religiosa e a criação do Dia da Marcha para Jesus.

“Mantenho o mesmo respeito e compromisso”, diz Lula na carta. O ex-presidente também diz que seu eventual governo “não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de culto” e lamenta o “triste escândalo do uso da fé para fins eleitorais”.

A carta, assinada por Lula, foi lida diante do petista, pelo ex-ministro Gilberto Carvalho. A leitura foi feita em evento com pastores em um hotel em São Paulo. Participaram do encontro os deputados federais eleitos Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marina Silva (Rede-AP), além de lideranças petistas.

Carta de Lula aos evangélicos é divulgada em evento com pastores em um hotel em São Paulo Foto: Beatriz Bulla

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“Posso lhes assegurar, portanto, que meu governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de culto e de pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos templos”, afirma o documento. “É bem-vinda a participação de evangélicos nas diversas formas de participação social no governo, como conselhos setoriais e conferências públicas”, acrescenta.

No texto, Lula se compromete a jamais usar os símbolos da fé para fins políticos-eleitorais, em uma crítica indireta ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), e ainda reitera ter a família como um valor central na sua vida. “Lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos”, afirma o petista. “Para mim, a vida é sagrada, obra das mãos do criador”, afirma.

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Lula é católico, assim como muitos petistas do seu entorno. A última pesquisa Datafolha mostrou que a opção política de evangélicos e católicos foi acentuada no segundo turno. Bolsonaro é o preferido de 65% dos evangélicos, enquanto Lula tem a aprovação de 57% dos católicos. O petista tem buscado melhorar a avaliação que tem entre os evangélicos.

Uma das principais responsáveis por convencer a equipe de Lula a divulgar a carta de compromisso aos evangélicos, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse que, com o ato de hoje e a divulgação da carta, Lula reafirma o compromisso com os evangélicos e combate às fake news. “É um momento de reflexão e de avaliação porque estamos tratando de um povo que tem diferenças (…) e que hoje, nas mais variadas avaliações, estão entre 70 e 80 milhões de brasileiros”, avaliou. “Qualquer família tem um evangélico”, disse a senadora.

Desinformação

Após a leitura da carta, Lula fez discurso no qual voltou a contestar a informação de que ele, se eleito, obrigaria crianças a usar banheiros comuns para meninos e meninas. “Gente, eu tenho família, tenho filha, netas, bisnetas, só pode ter saído da cabeça de satanás a história de banheiro unissex”, disse.

Lula lembrou que o PT já divulgou outras mensagens aos evangélicos em processos eleitorais. “Toda eleição há uma quantidade de mentiras neste país que precisamos fazer carta, ora para a Igreja Católica, ora para a igreja evangélica, ora para outros setores da sociedade”, disse o ex-presidente, que disse ter publicado a carta “por respeito” aos religiosos.

Ele também criticou a quantidade de mentiras nas eleições direcionadas a ele. “Eles têm uma fábrica monstruosa de produzir mentira e a gente não pode ganhar uma eleição produzindo mentira”, disse Lula. A campanha petista já teve de desmentir que Lula pretende fechar igrejas e que ele tem um pacto com o diabo. Lula chamou Bolsonaro de “psicopata e mentiroso compulsivo”.

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O petista recebeu a benção de uma criança e afirmou que os evangélicos prestam “trabalho social excepcional” em muitos locais do Brasil. Também recebeu uma Bíblia e recebeu bênção de religiosos ao final do evento e disse que não considera pastores aqueles que mentem.

“Tem muita gente séria que exerce função de pastor para tratar da espiritualidade das pessoas”, afirmou. “Eu não considero um pastor que mente pastor”, afirmou Lula, que sugeriu que religiosos que querem fazer política devem entrar para a política. “A pessoa pode querer escolher o Bolsonaro para presidente, não tem nenhum problema, mas a pessoa não pode mentir.”

Em aceno aos conservadores, Lula afirmou que, para ele, a família é sagrada: “Quando vejo as pessoas colocarem em dúvida nossa relação com a família, eu fico ofendido”.

Veja a carta aos evangélicos na íntegra:

“Meus Amigos e Minhas Amigas, nesta reta final do segundo turno, decidi escrever esta Carta Pública ao Povo Evangélico. A grande maioria dos brasileiros e brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República, sabe que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela Liberdade Religiosa. Como todos devem se lembrar, no período de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa. Destaco a Reforma do Código Civil assegurando a Liberdade Religiosa no Brasil, o Decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos.

Mantenho o mesmo respeito e o mesmo compromisso que me motivou a apoiar essas conquistas do povo evangélico. E o nosso Povo sabe também que cuidei, com especial carinho, dos mais pobres e injustiçados e assim, sob as Bênçãos de Deus, meu governo contribuiu para melhorar a vida de milhões de famílias brasileiras. Sempre penso, neste sentido, no trecho bíblico que diz: “a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades...” (Tiago, 1,27) Vivemos, entretanto, um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa fé, e afastálas do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende.

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Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País. Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até tiveram condições de enviar missionários para outros países. Não há por que acreditar que agora seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu Governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de Culto e de Pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos Templos.

Envio-lhes esta mensagem, portanto, em respeito à Verdade e ao apreço que tenho a esse Povo crente no Verdadeiro Deus da Misericórdia e a seus dedicados pastores e pastoras. Se Deus e o povo brasileiro permitirem que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e famílias brasileiras. Sei muito bem que em todas as regiões do Brasil há Igrejas com Irmãos e Irmãs que trabalham ativamente nas suas comunidades com a propagação do Evangelho e com o cuidado do povo, dedicando-se a tornar mais leve os fardos espiritual e social de milhões de pessoas. Declaro meu respeito e minha admiração pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência. Da mesma forma é bem-vinda a participação de Evangélicos nas diversas formas de participação social no Governo, como Conselhos Setoriais e Conferências Públicas.

Em meio a este triste escândalo do uso da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da Fé. Esse é um ensinamento que a própria Bíblia nos dá: andar pelo caminho da Paz com todos. Jesus nos mostra que a casa dividida não prospera. A religião é para ser respeitada e vivida de acordo com a livre escolha de cada pessoa.

Portanto, a tentativa de uso político da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho. Jesus Cristo nos ensinou Liberdade e paz, respeito e união, disso precisamos. E os cristãos evangélicos têm dado mostras, ao longo da História, de seu compromisso com a paz, seguindo o que Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus” (Mateus, 22,21).

Outro compromisso que assumo: fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas. Nós queremos nossa Juventude na escola, na iniciação profissional, realizando atividades esportivas e culturais para que tenham mais oportunidades e exerçam cidadania de forma produtiva, saudável e plena. O respeito à família sempre foi um valor central na minha vida, que se reflete no profundo amor que dedico à minha esposa, aos meus filhos e netos. Por isso compreendo o lugar central que a família ocupa na fé cristã. Também entendo que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, em a interferência do Estado. A preocupação com as Famílias Brasileiras deve ser integral.

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O povo brasileiro está numa condição de desespero, e precisaremos muito da ajuda das Igrejas para, o quanto antes, reverter esta situação. De nada adianta se dizer defensor da Família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular. Queremos dar às famílias, prosperidade e segurança. O Lar é a garantia de proteção. É inaceitável que milhões de brasileiros e brasileiras não tenham um teto. Por isso, vamos retomar o vitorioso programa Minha Casa Minha Vida, com toda intensidade, para que todas as Famílias brasileiras tenham uma casa onde possam viver com segurança e dignidade.

Nosso governo implementará políticas públicas consistentes para que nenhuma família brasileira enfrente o flagelo da fome. Sobretudo, não pouparei esforços para que possam adquirir os necessários e suficientes meios, para viver dignamente por seu trabalho, sem ter que depender da ajuda do Estado. Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional.

Meus Queridos e Minhas Queridas, peço que recebam essas palavras como uma demonstração de meu desejo sincero de servir, de ajudar e trabalhar pelo bem de nosso país. E estejam certos de minha estima e meu compromisso com todo o povo cristão de nosso país. Reitero meu compromisso, que é o mesmo de vocês: paz, união e fraternidade entre todos os brasileiros e brasileiras. Com as bênçãos de Deus, haveremos de honrar nossa dupla condição, de cidadãos e cristãos, pois não há contradição entre elas quando o propósito é servir, buscando a paz e o entendimento. E digo tudo isso com muito amor pelo nosso querido Brasil e pelo Povo Brasileiro: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes Amor uns pelos outros!” (João,13,35). JUNTOS PELO BRASIL! "

Luiz Inácio Lula da Silva

São Paulo, 19 de outubro de 2022.

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