Cotado para substituir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) condenou a indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. Na época, ele afirmou que a nomeação do petista era uma estratégia do Partido dos Trabalhadores para garantir foro privilegiado a Lula, que já era investigado pela Operação Lava Jato. Sabino apagou o post após o Estadão publicar a informação nesta segunda-feira, 12.
“Aconteceu o que era previsto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de ser empossado como novo ministro da presidente Dilma, ele assume a Casa Civil. Sem ouvir o clamor das ruas, sem observar aquilo que os cidadãos e cidadãs brasileiras pedem. A chefa do Executivo nacional aceitou a manobra do seu partido para garantir o foro privilegiado ao homem que poderia ser preso por crimes como lavagem de dinheiro para não citar outros. Assim caminha a atual conjuntura política brasileira”, disse no Facebook em 2016.
O post foi apagado do perfil do deputado no Facebook nesta segunda. No link, a mensagem disponível agora é que a publicação “pode ter sido removida”.
Na prática, com a nomeação ao ministério, Lula passaria a ter foro privilegiado e seria julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Ou seja, ele sairia do alcance da investigação da Lava Jato na primeira instância, liderada pelo ex-juiz Sérgio Moro. As apurações sobre o petista passariam a ser de responsabilidade do procurador-geral da República na época, Rodrigo Janot.
Entretanto, esse cenário durou pouco. O Palácio do Planalto anunciou a nomeação do petista no dia 16 de março de 2016. Dois dias depois, o ministro do STF, Gilmar Mendes, suspendeu a decisão, devolvendo o processo contra Lula à Vara Federal de Curitiba.
A possível indicação de Sabino ao ministério do Turismo não seria a primeira nomeação à Esplanada dos Ministérios de críticos do passado - a exemplo do ex-rival e hoje vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), além de outros titulares de pastas que chegaram a votar a favor do impeachment de Dilma. Mas declarações nem tão duras quanto as do deputado também já levaram ao veto de vários outros indicados a cargos na atual gestão.
Publicações em redes sociais de apoio à Lava Jato, ao ex-juiz Sérgio Moro e ao ex-procurador Deltan Dallagnol levaram o ministro da Justiça, Flávio Dino, a cancelar a indicação de Edmar Camata para a diretoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF). A pediatra Ana Goretti Kalume Maranhão também foi barrada pelo Palácio do Planalto para chefiar o então recém-criado Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde. O veto partiu da Casa Civil, pasta que dá a palavra final sobre escolhas para cargos comissionados. O ministério alegou que ela fez postagens com críticas ao PT e em defesa da Operação Lava Jato, o que configuraria uma “restrição partidária”.
Ao lado de Bolsonaro
Em meados de 2020, quando ainda era filiado ao PSDB, Sabino participou de uma comitiva do ex-presidente Jair Bolsonaro em visita ao Pará, Estado que o elegeu. O ex-chefe do Executivo decolou de Brasília rumo a Belém para participar da inauguração da primeira etapa das obras do Porto Futuro, espaço de lazer e turismo no centro da cidade, e levou alguns deputados no avião presidencial. A foto de Sabino com o ex-presidente na ocasião, entretanto, também não está mais nas redes sociais do parlamentar.
“Não sei a razão de a reportagem não encontrar as fotos que procura, vou checar com a minha assessoria e com a plataforma, mas reitero que, ao longo da minha vida, já apoiei, Lula, Dilma, Aécio (Neves), (Geraldo) Alckmin e Soraya (Thonicke) para presidente”, afirmou ao Estadão. “Estive como deputado federal no mandado passado enquanto Bolsonaro era presidente. Sou um soldado do meu partido e guardo a lealdade com meus colegas de bancada”, completou.
Ainda antes de apagar a publicação sobre o atual chefe do Executivo no ministério de Dilma, Sabino evitou comentar suas críticas anteriores, mas ressaltou que, como candidato a deputado estadual, já havia apoiado a candidatura da petista Ana Júlia ao governo do Pará. A reportagem também solicitou os links das publicações anteriores e o deputado informou que enviaria, mas não houve retorno até o momento.
Quem é Celso Sabino?
Evangélico praticante, Sabino ocupa uma cadeira do Pará na Câmara dos Deputados. Filiado ao União Brasil, ele conquistou 142 mil votos (3,14% dos votos válidos) nas eleições de 2022, se elegendo pela segunda vez consecutiva.
Sabino se elegeu pela primeira vez em 2011, como suplente de deputado estadual no Pará, filiado ao antigo Partido da República (PR). No ano seguinte, atuou como secretário estadual de Trabalho, Emprego e Renda. Em 2013, migrou para o PSDB e, no ano seguinte, conquistou uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado. Foi também nas eleições de 2014 que ele apoiou a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República na disputa com Dilma.
Em 2021, Sabino anunciou sua saída do PSDB após conflitos internos entre diferentes alas do partido, principalmente após ele ter se alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. No ano seguinte, foi escolhido presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) na Câmara dos Deputados, sendo o primeiro parlamentar do seu Estado a chegar ao posto.
O Ministério do Turismo, ocupado hoje por Daniela Carneiro, é alvo de pressão por integrantes do Centrão e do União Brasil; a titular da pasta pediu desfiliação da sigla e o União Brasil reivindica o cargo como parte de sua cota no governo Lula.
A reportagem procurou a Presidência da República para falar sobre a nomeação e os posicionamentos do parlamentar, mas não houve resposta até o momento.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.