Centrão quer tirar o Ministério da Saúde das mãos de Nísia Trindade; entenda os motivos

Emendas e cargos regionais são visados por Arthur Lira e aliados; nas redes sociais, internautas fazem campanha pela manutenção da ministra na pasta

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Foto do author Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA - O interesse do Centrão pelo Ministério da Saúde é um dos temas centrais nas articulações entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reivindicam o controle da pasta chefiada por Nísia Trindade em troca de apoio nas pautas do governo Lula. Com orçamento de R$ 189 bilhões, o ministério é alvo do desejo dos parlamentares que vislumbram emendas, cargos e projeção eleitoral.

Nas redes sociais, a hashtag “Nísia Trindade fica”, em que os internautas pedem a manutenção da cientista social na chefia pasta, tem mais de 50 mil publicações até o início da tarde desta segunda-feira, 26. Os parlamentares do Centrão já cogitam o nome do deputado federal licenciado e atual secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Dr. Luizinho (PP-RJ), para ocupar o cargo.

Nísia Trindade, ministra da Saúde, é cientista social e não tem perfil político Foto: Wilton Junior/Estadão

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A liberação de emendas pela Saúde e a distribuição de cargos nos Estados estão entre as principais reclamações dos parlamentares sobre a Saúde, de acordo com lideranças ouvidas pelo Estadão. Com a pasta nas mãos, a distribuição tanto de recursos quanto de postos regionais estaria condicionada às decisões do chefe do ministério.

A destinação das verbas da Saúde para Estados e municípios é um tema caro aos congressistas, pela capilaridade da pasta no País. Eles veem nos recursos a possibilidade de ampliar a interlocução com governadores e prefeitos e angariar apoio popular de olho nas próximas eleições.

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Ambição pelo passado

Com essa pressão, o PP espera retomar o controle do ministério. Durante o governo de Michel Temer (2016-2018), o partido de Lira comandou a pasta com dois ministros: Ricardo Barros e Gilberto Occhi.

Para o doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Leandro Gabiati, o antigo vínculo da legenda com a área motiva Lira a recuperar a Saúde no momento em que o Planalto mostra ter dificuldades para agradar o Legislativo com quadros ministeriais.

Gabiati ressalta que ter o controle do ministério atende também aos interesses próprios do Lira. Ao lado de Lula, o presidente da Câmara é um ator político chave na República, falando “de igual para igual” com o chefe do Executivo.

O mandato como presidente da Casa, porém, vai até 2025, e ter um ministério do prestígio da Saúde pode ser uma boa opção quando ele deixar o cargo. “Se o PP tiver o controle da Saúde, quando o Lira sair da Câmara, ele pode eventualmente negociar com Lula”, afirmou.

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Lula não quer abrir mão da Saúde

Lula resiste a trocar o comando da pasta. O presidente pediu que interlocutores informassem aos parlamentares que “de jeito nenhum” tiraria Nísia Trindade do Ministério da Saúde. Em entrevista na semana passada, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, negou a possibilidade de saída de Nísia.

“Não vejo nenhum movimento político que pudesse justificar uma mudança no ministério estratégico. E quem como titular uma ministra que tá fazendo um grande trabalho”, afirmou Pimenta à GloboNews na segunda-feira, 17.

Quem é Nísia Trindade?

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, é cientista social de formação e não é filiada a partido político, sendo uma das indicações técnicas de Lula. É a primeira mulher a chefiar a pasta desde a sua criação em 1953, durante o governo de Getúlio Vargas. Desde então, passaram pelo cargo 50 homens. Ela já havia sido a primeira a ocupar a presidência da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) – em 120 anos da instituição – em 2017.

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