BRASÍLIA - Em meio ao rearranjo de forças nos ministérios, o líder do PSB na Câmara, Felipe Carreras (PE), afirmou que a entrada de partidos do Centrão na Esplanada é decisiva para a governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Broadcast/Estadão, o deputado disse, no entanto, que “não seria inteligente” tirar de Geraldo Alckmin, seu correligionário, a pasta do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, movimento que é especulado nos bastidores.
Depois de oficializar a troca no Ministério do Turismo a pedido do União Brasil, com a saída de Daniela Carneiro e a entrada de Celso Sabino, Lula precisa fazer novos movimentos para acomodar o PP e o Republicanos. Uma das negociações envolve o Desenvolvimento Social, comandado pelo petista Wellington Dias, mas o PT e o próprio Lula resistem a abrir mão da pasta responsável pelo Bolsa Família. O impasse deve ser resolvido somente em agosto, após o recesso do Congresso.
“Democraticamente, a Câmara é formada, em sua maioria, por deputados de centro-direita”, declarou Carreras. “Nós temos apenas 136 parlamentares do nosso campo de esquerda. O centro fazer parte do governo eu não acho só justo, acho inteligente, decisivo para a governabilidade. Eu acho uma jogada política muito inteligente do presidente Lula”, emendou o líder do PSB.
Diante da possibilidade de as mudanças na Esplanada desagradarem partidos aliados ao Palácio do Planalto, atores políticos consideram que Alckmin poderia, em último caso, perder o comando do ministério em prol da governabilidade, já que ainda exerceria o cargo de vice-presidente. “Não acho que vão mexer no PSB”, respondeu Carreras, ao ser questionado sobre a especulação em torno do MDIC. Ele ressaltou que seu partido faz parte também do maior bloco partidário da Câmara, junto com o União Brasil e o PP do presidente da Casa, Arthur Lira (AL).
“O vice-presidente Geraldo Alckmin foi decisivo para uma eleição tão apertada para o presidente Lula, justamente pelo seu perfil, foi governador de São Paulo durante quatro mandatos. Ele empresta uma imagem de muito equilíbrio, de centro-direita. Foi estratégico para a composição da chapa”, argumentou Carreras. “Eu acho que ele está comandando muito bem a área no ministério. Eu não acho uma jogada no tabuleiro de xadrez inteligente do presidente Lula mexer no vice-presidente Alckmin”, disse. Ele defendeu ainda os ministros Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e Márcio França (Portos e Aeroportos), ambos também do PSB.
Apenas Sabino no Turismo não resolve
Na avaliação de Carreras, a ida de Celso Sabino (União Brasil-PA) para o Ministério do Turismo ainda não resolve a formação da base aliada de Lula. Ele defendeu que mais espaços no Executivo sejam dados ao PP e ao Republicanos. Além disso, declarou que a demora na liberação de emendas e de cargos regionais ainda não foi resolvida pelo governo.
“Eu imagino que ainda não há clareza de uma base sólida do governo. Agora, deu uma arrumada, com essa questão do deputado Celso Sabino, na bancada do União Brasil, mas não resolveu”, declarou Carreras. “O União Brasil, pela sua expressão, pelo seu tamanho, a terceira maior bancada, eu acho que precisa ocupar outros espaços, assim como, eu imagino, o próprio PP e o Republicanos, de alguma forma. Eu torço por isso, trabalho por isso, faço interlocução, como aliado de primeiro hora do presidente Lula”, emendou.
O deputado disse que tanto na bancada do PSB quanto em outros partidos ainda há muitas críticas sobre o ritmo de liberação de emendas e de nomeação de aliados em cargos regionais. De acordo com ele, “não há gratidão” dos parlamentares apenas com o pagamento das emendas impositivas, que são obrigatórias. “A gente espera que no segundo semestre, logo em agosto, as coisas deslanchem.”
“É muito ruim quando você gera uma expectativa na classe política e ela não é concretizada. A gente teve um ambiente, no primeiro semestre, muitas vezes, de fragilização dos líderes. Na medida em que tinha possibilidade de emendas extras para novos parlamentares, na medida em que era sinalizado um espaço regional para quem compunha a base, e isso não deslancha, recai sobre o líder, que tem obrigação de fazer gestão junto com o Palácio do Planalto”, explicou.
Na avaliação de Carreras, o que foi decisivo para a aprovação da reforma tributária e do projeto que retoma o voto de desempate a favor do governo no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) foi a atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, junto ao Congresso. Ele também elogiou a “largueza política” do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que acabou apoiando a reforma, mesmo sendo ex-ministro do governo Bolsonaro.
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