A disputa eleitoral de 2024 nas capitais da região Sul apresentará um desafio para a centro-direita, que busca manter o controle de Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis em cenário de crescente polarização e radicalização política. Ainda que com alguns nomes diversos, a busca é por repetir o resultado de 2020, quando Curitiba e Florianópolis deram vitórias a candidatos do PSD ainda no primeiro turno e Porto Alegre elegeu o MDB no segundo turno contra a esquerda.
O principal desafio se dá em Curitiba, onde o atual prefeito Rafael Greca (PSD) não pode concorrer à reeleição, por já estar no segundo mandato. O vice, Eduardo Pimentel, é a aposta para assumir a missão, com apoio do governador Ratinho Jr. (PSD), cotado para a disputa presidencial de 2026.
Diferente da capital paranaense, em Florianópolis e Porto Alegre os atuais ocupantes do cargo — Topázio Neto (PSD), na capital catarinense, e Sebastião Melo (MDB) na gaúcha — podem disputar a reeleição e devem defender seus cargos no pleito do ano que vem.
Veja como está o cenário nas três cidades da região Sul a menos de um ano das eleições:
Greca e Ratinho Jr. apostam em vice-prefeito para manter comando em Curitiba
Após dois mandatos consecutivos, o prefeito Rafael Greca (PSD) não poderá concorrer novamente ao comando da capital paranaense. Por conta disso, deve lançar seu vice-prefeito, Eduardo Pimentel, do mesmo partido, e contará com o apoio do governador do Paraná, Ratinho Júnior, que também é correligionário do PSD. Já a oposição segue indefinida, com a candidatura incerta do ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e uma dificuldade de união em torno de um nome por parte da esquerda curitibana.
Nas últimas eleições, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não apenas derrotou Luís Inácio Lula da Silva em Curitiba como também teve lá a maior votação proporcional de uma capital. Foram 720.322 votos, o equivalente a 64,78% do total dos que foram votar. No entanto, o professor e cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Bruno Bolognesi acredita que o bolsonarismo não deve ter tanta influência nas eleições municipais de 2024, apesar de ainda apresentar um impacto residual.
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“Candidaturas locais requerem pautas locais. Não dá para definir cenários com base em pautas nacionais. É algo muito do dia a dia”, diz o professor. “Curitiba tem uma influência muito forte da Lava Jato. Por aqui, Dallagnol e (Sérgio) Moro têm características de celebridades. Não há uma identificação tão forte com a figura de Bolsonaro”, explicou ele.
Sergio Moro (União Brasil) e Deltan Dallagnol (Novo) obtiveram excelentes resultados nas eleições de 2022. Com quase 2 milhões de votos, o ex-juiz foi eleito senador com 33,5% dos votos válidos. Já o ex-procurador da Lava Jato foi o deputado mais votado do Paraná, com aproximadamente 344 mil votos.
Depois da perda de seu mandato com base na Lei da Ficha Limpa, Dallagnol ainda tentou recurso no TSE para reverter a cassaçã,o mas foi rejeitado. O tribunal julgou que o ex-deputado cometera uma irregularidade ao solicitar sua exoneração do cargo de procurador da República para concorrer às eleições, enquanto ainda era alvo de 15 processos administrativos no Conselho Nacional do Ministério Público.
Atualmente, o ex-deputado não tem perspectiva de recuperar o seu cargo e, por isso, anunciou a desistência de apresentar outro recurso, dessa vez ao Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, há expectativa de que sua esposa, Fernanda Dallagnol, também recém-filiada ao Novo, concorra à prefeitura. Sua participação no pleito ainda é uma incógnita.
Já entre a esquerda, a maioria dos partidos gostaria de uma frente ampla contra o projeto em vigor atualmente. Porém, o grupo encontra dificuldades para se reunir em torno de uma candidatura capaz de chegar ao segundo turno. O mais cotado é o ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), visto como viável por parte majoritária do PT, inclusive pelo líder da sigla no Paraná, Arilson Chiorato. Em contrapartida, setores mais à esquerda e o PSOL são contrários a apoiá-lo por conta de ele já ter sido oposição ao PT, além de vice-prefeito na gestão de Beto Richa (PSDB).
Para o presidente do PSOL de Curitiba, Gabriel Feltrin, a posição de apoiar Ducci se trata de um “desvirtuamento” da esquerda e da real representação das causas populares. “Ele votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, está na base do governo de Ratinho Júnior e apoiou Jair Bolsonaro com uma postura envergonhada. Nos espanta a posição do PT”, afirma.
A professora e cientista política da Universidade Federal do Paraná, Carolina Roeder, acredita que há uma divisão na esquerda da cidade entre quadros mais antigos voltados ao trabalhismo e candidaturas mais jovens e mais relacionadas a pautas identitárias. “Há uma questão nesse sentido, se há uma pretensão de manter as coisas como estão ou apostar em lideranças fortes para o futuro, como Carol Dartora ou Renato Freitas”, diz.
No entanto, de acordo com a cientista, a esquerda na cidade ainda é muito fraca. “Curitiba sempre foi vista por fora como referência em urbanismo, com ênfase no nível estético. Temas sociais como os propostos pelo PT não são tão caros à população”, afirma. “Gustavo Fruet não se reelegeu por conta disso e de outros fatores, como problemas de comunicação.”
Fruet (PDT) foi o último prefeito de centro-esquerda a governar o município. Em 2016, ele perdeu a reeleição para Greca, não conseguindo chegar nem ao segundo turno. Greca, por sua vez, se reelegeu ainda no primeiro turno em 2020 com 59,74% derrotando Goura Nataraj (PDT), que conquistou 13,26%.
Confira abaixo cada um dos pré-candidatos à prefeitura de Curitiba:
Eduardo Pimentel (PSD)
Eduardo Pimentel Slaviero ainda é um tanto desconhecido na cidade. Ele iniciou sua carreira dentro de empresas de sua família. Depois, foi diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba, diretor-geral da Central de Abastecimento do Paraná S/A (Ceasa) e subchefe da Casa Civil do Governo do Paraná.
Atual vice-prefeito da cidade desde 2017, ele é pré-candidato e deve ser lançado pelo atual, Rafael Greca, e pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior. A troca de apoios deve dar continuidade ao acordo estabelecido entre ambos os líderes políticos, reeleitos em 2020 e 2022, respectivamente.
Fernanda Dallagnol (Novo)
Fernanda Dallagnol, recém filiada ao Partido Novo, é esposa do ex-procurador da República e ex-deputado federal Deltan Dallagnol. Sua eventual candidatura é possível, apesar de não ser confirmada e nem negada. Empresária, advogada e mestre em Harvard, Fernanda se inscreveu num curso de formação de lideranças políticas do RenovaBR, iniciativa de renovação política capitaneada pelo empreendedor e investidor Eduardo Mufarej.
Espera-se que ela consiga capturar o espólio eleitoral lavajatista de Dallagnol, que desistiu de tentar reverter sua cassação.
Paulo Martins (PL)
Bolsonarista e crítico feroz do STF, Paulo Eduardo Martins concorreu ao Senado pelo Paraná com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sua votação foi expressiva e atingiu 29,12%, superando um nome histórico como Álvaro Dias (Podemos) e perdendo por pouco para Sérgio Moro, que obteve 33,50%. Na época, ele era deputado federal.
No entanto, há ainda a esperança de uma ala de seu partido de haver uma eleição suplementar ao Senado e que ele assuma o cargo interinamente enquanto isso. O PL de Martins lançou um pedido de cassação da candidatura do senador Moro à Justiça Eleitoral. Em parecer na última semana, o Ministério Público Eleitoral (MPE) também defendeu a cassação, que ainda precisa ser julgada.
O motivo seria o alto gasto do ex-juiz durante a pré-campanha de 2022 enquanto ainda era do Podemos. Pelas regras do TSE, o máximo de gastos possíveis para uma campanha ao Senado deve ser R$ 4,4 milhões de reais. Se os valores fossem corrigidos com a adição do período em que Moro estava no partido de Álvaro Dias, o valor seria ultrapassado.
O Estadão tentou entrar em contato com o o presidente do Partido Liberal do Paraná, Giacobo, mas não obteve retorno.
Ney Leprevost (União Brasil)
O deputado estadual Ney Leprevost já foi candidato pelo PSD à prefeitura de Curitiba em 2016, quando perdeu no segundo turno para Rafael Grega, por 46,74% a 53,25%. Também foi deputado federal, eleito em 2018, e, em seguida, convidado pelo governador Ratinho Júnior a assumir a Secretaria da Justiça, da Família e do Trabalho.
Sua pré-candidatura a 2024 é dada como certa por ele mesmo, que terá o comando do partido em Curitiba no ano que vem. No entanto, existe a possibilidade de o União Brasil tentar compor com Eduardo Pimentel (PSD).
Além disso, o ex-senador, Sérgio Moro, que é do mesmo partido de Leprevost, encomendou pesquisas de intenção de voto para testar o nome de sua esposa, Rosângela Moro, atualmente deputada federal por São Paulo, para a disputa municipal. Não há nenhum respaldo oficial do partido para a candidatura da advogada até o momento.
Luciano Ducci (PSB)
Luciano Ducci (PSB) é médico e descendente de imigrantes italianos. Foi eleito pela primeira vez como deputado estadual em 2002 e entre seus feitos está uma lei que proíbe a discriminação dos portadores de HIV. Sua candidatura a prefeitura de Curitiba já é um fato consolidado.
No momento, o desejo do pré-candidato é conquistar o apoio do presidente Lula e do resto do PT, embora considere naturais as divergências. O ex-prefeito acredita que o apoio do petista seria “natural”. O seu partido, o PSB, é o mesmo do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e compõe a base do governo federal.
Entretanto, Ducci já foi vice-prefeito entre 2005 e 2010 na gestão de Beto Richa (PSDB) e prefeito entre 2010 e 2012, período em que foi oposição ao PT. Por conta disso, alas da esquerda divergem do eventual apoio da sigla à sua candidatura.
Carol Dartora (PT)
Ana Carolina Moura Melo Dartora foi a deputada federal mais votada do Estado nas eleições de 2022 e a primeira mulher negra a assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Paraná. Além de historiadora, sindicalista e professora, Carol Dartora é militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro e já atuou como secretária da Mulher Trabalhadora e Direitos LGBT da APP Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Paraná).
Ela já foi vereadora, alcançando a posição de terceira candidata mais votada de 2020, e é autora da lei municipal 15.931/2021, que implantou um sistema progressivo de cotas raciais em concursos públicos na cidade.
No entanto, a pré-candidata sofre com falta de apoio interno do partido, principalmente das alas mais pragmáticas que desejam compor com o eventual futuro vencedor do pleito. Parte da sigla acredita que ela não seria capaz de ter votos suficientes para ultrapassar o candidato do prefeito Rafael Greca. Além disso, para eles, o bolsonarismo e o lavajatismo ainda são muito fortes.
Também há outros candidatos ventilados dentro do PT como Arilson Chiorato e Zeca Dirceu. Todos devem ser testados numa discussão programada para ocorrer em dezembro, que deve definir os rumos do partido na eleição municipal.
Goura Nataraj (PDT)
João Gomes de Oliveira Brand, mais conhecido como Goura Nataraj, é um professor de ioga, cicloativista, filósofo, e defensor das causas ambientais. Já foi vereador e atualmente é deputado estadual reeleito. Além disso, concorreu na última eleição municipal, quando perdeu para o atual prefeito ainda no primeiro turno.
Nataraj é presidente do PDT no Paraná e sua pré-candidatura é considerada confirmada. Ele também pleiteia o apoio do presidente Lula, do qual seu partido é base, além de almejar uma frente ampla com os partidos de esquerda como Rede, PSOL e PSB. Seu partido foi o único fora da direita a governar a cidade, com a gestão de Gustavo Fruet.
Em Florianópolis, Topázio é favorito e pode ter nome do PSOL como principal rival
A pouco menos de um ano da eleição, o prefeito de Florianópolis Topázio Neto (PSD) desponta como favorito para a recondução. O deputado estadual Marquito, do PSOL, vem se consolidando como principal força da oposição; à esquerda, foi confirmada também a pré-candidatura de Vanderlei Lela (PT). Os nomes do deputado estadual Pedro Silvestre (PP) e do ex-senador Dário Berger (PSB) correm por fora nos bastidores e nas pesquisas de intenção de voto, respectivamente.
Topázio assumiu a capital de Santa Catarina em março de 2022, após Gean Loureiro (União Brasil) renunciar ao cargo de olho nas eleições para governador. Enquanto PT e PSOL não chegam a um acordo para evitar uma divisão nas forças de oposição, Neto tenta afastar os rumores de que a vaga para a vice-prefeitura esteja sendo negociada com o PL do governador Jorginho Mello, em detrimento do União e do grupo político ligado a Loureiro. Pelo lado do União Brasil, o mais cotado para a vice é Ed Pereira, secretário de Turismo de Florianópolis.
Quanto ao PL, o principal nome ventilado é o de Maryanne Santos, ex-secretária e vereadora na capital. Ao Estadão, fontes ligadas ao União Brasil de Santa Catarina minimizaram o risco de uma aliança formal entre Topázio e o PL. O cálculo político para uma eventual composição com o PL não fecharia, pois o partido, apesar de ter o governo do Estado, não é consolidado em Florianópolis. Esse acordo, além de tudo, prejudicaria os planos do próprio PSD, partido do prefeito, para a eleição majoritária de Santa Catarina em 2026.
Confira, a seguir, os principais cotados para a disputa pele prefeitura de Florianópolis:
Topázio Neto (PSD)
É crônica comum da política brasileira que um vice, chamado a assumir a titularidade de determinado cargo, tenha dificuldades em se fazer conhecido para um eleitorado que, em boa parte das vezes, não se atentou ao número dois da chapa. Em 2020, o empresário Topázio Silveira Neto, então filiado ao Republicanos, foi pessoalmente escolhido por Gean Loureiro para a vice-prefeitura. Até então, Neto nunca havia se candidatado a um cargo público. Dois anos depois, em março de 2022, Gean pediu exoneração do cargo, visando a eleição para governador e alçando Topázio a uma inesperada prefeitura.
Uma vez empossado, saiu do Republicanos rumo ao Partido Social Democrático (PSD) e investiu nas mídias sociais. A oposição, de modo pejorativo, qualifica o mandatário como “prefeito tiktoker”, em alusão à rede social de vídeos curtos na qual Topázio acumulou mais de 186 mil seguidores com vídeos de comentário e informes das questões locais.
Ao Estadão, Topázio afirmou que a produção de conteúdo para a internet se deu “um pouco por necessidade”. “Eu precisava, de alguma forma, fazer com que as pessoas me conhecessem. As redes sociais foram o caminho mais rápido. Acabamos focando nessa comunicação direta”, disse o prefeito.
Para Daniel Pinheiro, professor universitário e pesquisador de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), a gestão de redes de Topázio Neto emerge como um case de comunicação política para os próximos anos. “Ele expõe sem medo a imagem pessoal. Isso cria um laço de confiança muito forte [com o espectador]”, afirma Pinheiro.
À reportagem, Topázio qualificou a manutenção dos bons índices de aprovação à continuidade no secretariado e por ter tido a oportunidade de conhecer a máquina pública durante o período em que esteve como vice-prefeito.
Questionado sobre o impasse ventilado para a definição do seu vice, Topázio desmentiu os rumores de que há tratativas alheias a um acordo com o União Brasil. “O grupo político do Gean está junto com a gente. Estamos construindo um amplo arco de partidos que poderiam estar junto conosco. Desse grupo de partidos é que deverá sair o candidato a vice-prefeito”, disse Neto.
A esta altura do campeonato, ressalta Neto, “as costuras políticas começam a aparecer”, mas a definição formal para a vice-prefeitura só sairá a partir de junho do ano que vem. “O melhor vice será o que nos ajudar a ganhar a eleição”, afirmou o mandatário.
Segundo Daniel Pinheiro, compor chapa com um vice-prefeito ligado a Gean Loureiro somaria valor político ao prefeito. “O Gean nunca saiu dos bastidores e sempre foi bom de articulação”, diz Daniel. Por outro lado, se o nome for ligado a Jorginho Mello, a boa votação do governador em Florianópolis poderia congregar novos eleitorados. A despeito de uma escolha ou outra, o professor destaca que Topázio “já anda com as próprias pernas”.
Marquito (PSOL)
Pelo lado da oposição, as principais forças ainda não chegaram a um consenso. PSOL e PT, que compuseram chapa em 2020, contam, no momento, com uma pré-candidatura cada. O deputado estadual Marcos José Abreu, o “Marquito”, deslancha, pelo PSOL, como principal nome da esquerda.
Marquito é formado em engenharia agrícola e foi o deputado estadual mais bem votado de Florianópolis em 2022. Antes disso, havia sido eleito vereador da capital em 2016 e 2020. Em 2018, tentou, sem sucesso, uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc).
Ao Estadão, o deputado afirmou que sua plataforma eleitoral será calcada nas principais agendas que defendeu na vida pública: a ecologia e a justiça social. O transporte público, segundo Marquito, será um dos motes da candidatura. “Vamos pensar num transporte público de qualidade e integrado com a Grande Florianópolis, envolvendo especialmente o modal aquaviário”, disse o deputado. Vias exclusivas para o transporte público e a tarifa zero também serão pautas da campanha.
Marquito destaca suas divergências para com a comunicação de Topázio Neto. “Utilizar as redes sociais não é problema. O problema é esse mecanismo substituir os outros da gestão pública”, diz o deputado. “A gente não tem uma transferência efetiva dos atos públicos e, em contrapartida, isso está sendo substituído pelo Twitter”, completa.
Vanderlei Lela (PT)
Vanderlei Farias, o Lela, foi vereador de Florianópolis entre 2013 e 2020. Na última eleição municipal, ainda pelo PDT, legenda em que esteve durante os dois mandatos, não obteve êxito na recondução. Em maio de 2023, filiou-se ao PT e superou outros nomes da sigla cotados para a pré-candidatura.
O pré-candidato afirma que Florianópolis tem enfrentado problemas decorrentes do crescimento acelerado nos últimos anos. A balneabilidade das praias está na pauta. “Principalmente no norte da ilha, quase todas as praias estavam com sua balneabilidade prejudicada e, por conta disso, turistas sofreram com uma epidemia de virose”, diz o pré-candidato. “A questão ambiental é um dos pontos que a gente mais se preocupa”, completa.
Além de meio ambiente, o pré-candidato quer discutir a educação municipal, levantando questões como vagas em creches e melhoria nos indicadores de qualidade. “Florianópolis, dez anos atrás, era a referência nacional em todos os números do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]. Tivemos, em cinco anos, desafios que não foram cumpridos”, critica.
Para Lela, a última eleição presidencial é um exemplo a ser seguido no sentido de união de forças à esquerda. Na capital catarinense, Lula foi a escolha de 46,67% dos eleitores no 2º turno. “Demos um recado, mostramos que Florianópolis pode ser essa caixa de ressonância para os demais municípios”, diz o ex-vereador.
Uma frente ampla de oposição, no entanto, ainda depende de um acordo entre as partes. “Temos que olhar para o conjunto das conversas que estão sendo feitas nos bastidores”, afirma o ex-vereador.
Pedrão Silvestre (PP)
Pedrão Silvestre, do Progressistas (PP), é um dos cotados para a disputa em Florianópolis, sobretudo pelo desempenho em campanhas anteriores. Em 2012 e em 2016, foi eleito vereador da capital; em 2020, concorrendo à prefeitura, terminou em 3º lugar. Na eleição de 2022, concorreu a uma cadeira na Alesc e terminou como suplente. No final de setembro, assumiu uma vaga temporária no parlamento estadual. A passagem será breve, pois Silvestre substitui Altair Silva (Progressistas), licenciado por 30 dias para acompanhar o nascimento da filha.
Ao Estadão, Pedrão garante que “se engana quem considera que a eleição está ganha”. A despeito do favoritismo de Topázio, “há espaço para terceira e até quarta via”, pondera o deputado.
Silvestre diz que deseja uma “cidade mais transparente e amiga do empreendedor”. Além disso, detalha que, se eleito, vai revisar o Plano Diretor do município e romper o contrato de esgoto com a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan).
Caso não consiga levar sua pré-campanha adiante no PP, Pedrão dá a entender que pode se candidatar por outra legenda. “O Progressistas tem um diretório municipal liderado pela ex-prefeita Ângela Amin, que além de experiente em política, também entende de partido. O que for decidido pelo diretório será o melhor para o partido, mas nem sempre o que é melhor para o partido é o melhor para a cidade. Em 2024, queremos fazer uma eleição à altura do que merece Florianópolis”, disse ao Estadão.
Dário Berger (PSB)
Dário Berger, ex-senador e ex-prefeito de São José e Florianópolis, é cotado para as eleições em ambas as cidades. Atualmente filiado ao PSB, legenda para a qual rumou de olho na eleição para governador em 2022, Berger teria de enfrentar a falta de tradição e respaldo político da sigla na capital catarinense. Ao Estadão, Berger afirmou que está “observando os cenários” em Florianópolis e não confirma, no momento, sua participação no pleito.
A especulação em torno de Berger vai de encontro ao que Daniel Pinheiro chama de “voltar à vitrine”. Para o professor, as eleições municipais de 2024 serão uma demonstração de força para legendas que, nos últimos anos, perderam espaços para nomes emergentes. “As forças tradicionais vão querer se organizar”, observa Pinheiro.
Em Porto Alegre, Sebastião Melo mantém apoio do PL de Bolsonaro para tentar se reeleger
A um ano das eleições municipais, a capital gaúcha de Porto Alegre já conta com ao menos sete pré-candidatos em um cenário em que tanto a direita quanto a esquerda buscam fortalecer candidaturas únicas e evitar a fragmentação do eleitorado.
A gestão atual, de Sebastião Melo (MDB), busca a reeleição mantendo a chapa com o vice-prefeito, Ricardo Gomes (PL). Além de contar com um passado político na capital gaúcha, onde já foi vereador e vice-prefeito, Melo tem o apoio de uma base de partidos de centro e direita, como Progressistas, PL e PTB.
O próprio PL apontou não estudar a indicação do ex-ministro do governo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, para a prefeitura em 2024. Prefere apoiar a chapa atual, que conta com o correligionário Ricardo Gomes. Ao Estadão, o deputado federal e presidente do PL-RS, Giovani Cherini, contou que o partido tem uma boa relação com a gestão de Melo e que criar uma separação na coligação pode dar força a candidaturas da oposição: “Vamos manter esse projeto, até porque o nosso inimigo não é o MDB, é o PT. Na medida que a gente se separar, pode dar vitória para o PT”, disse.
Já o PSDB, do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda discute quais nomes devem ser levados para o embate político do próximo ano. A delegada Nadine Anflor, eleita deputada estadual em 2022, é a principal aposta do partido, mas Artur Lemos, secretário-chefe da Casa Civil e ex-secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura da gestão Leite, também é cotado para o pleito. Também entra na discussão a deputada federal Any Ortiz, do Cidadania, que pode buscar uma aliança com os tucanos.
Nas alas mais à esquerda, Manuela d’Ávila (PCdoB) – que foi candidata em 2020, chegando ao segundo turno contra Melo – é um dos principais nomes cotados para 2024, mas seu afastamento da vida política nas últimas eleições causa preocupação na coligação composta por PCdoB, PT, PV e PSOL.
Nesse cenário, o PT também tem pré-candidatas, com nomes conhecidos na política gaúcha: a deputada federal Maria do Rosário, que já exerceu cargos a nível municipal e estadual, e Sofia Cavedon, deputada estadual e ex-vereadora de Porto Alegre.
Apesar da seleção dos nomes, o secretário-geral do PT em Porto Alegre, Erick Kayser, contou ao Estadão que a prioridade dos petistas será criar uma união entre partidos. Os debates já estariam em andamento com os demais partidos da coligação para chegarem a uma chapa única já no primeiro turno, com possibilidade de expansão também ao PDT e PSB, mais orientados à centro-esquerda.
Para Silvana Krause, cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, as últimas campanhas eleitorais no País têm mostrado uma tendência para reeleições, mas o cenário pode mudar durante os próximos 12 meses, de acordo com a organização das forças políticas do Estado.
Segundo o cientista político e professor da PUC-RS Augusto Neftali, a chapa de Melo tem vantagens por apresentar um bom diálogo com setores importantes da capital, como o empresarial. Ainda assim, o especialista ressalta que partidos e ideologias devem ter menos importância em 2024: “Essas eleições vão mostrar a redução da importância do elemento ideológico na comparação com os últimos anos, o que, em tese, deixa espaço para uma disputa mais aberta e voltada para os temas locais”, afirma.
Conheça os pré-candidatos à prefeitura de Porto Alegre em 2024:
Sebastião Melo (MDB)
O atual prefeito conta com o apoio de partidos de centro e direita na busca pela reeleição em Porto Alegre. Se a chapa com Ricardo Gomes, atual vice-prefeito, for mantida, o PL não deve indicar Onyx Lorenzoni, que seria o principal nome entre o eleitorado bolsonarista.
Sebastião Melo foi vereador de Porto Alegre de 2001 a 2012. Em 2013, se tornou vice-prefeito na cidade na gestão de José Fortunati. Em 2019, foi eleito deputado estadual, mas renunciou ao cargo após ser eleito prefeito. Nas eleições de 2020, Melo teve 31% dos votos no primeiro turno, em um desempenho similar ao de Manuela d’Ávila (PCdoB), principal adversária durante a campanha, que atingiu 29% do eleitorado.
No segundo turno, após receber apoio dos candidatos derrotados do Republicanos, PSDB, PP e PSD, Melo recebeu 54% dos votos.
Delegada Nadine Anflor e Artur Lemos (PSDB)
O partido ainda não definiu qual candidato será apresentado para a campanha de 2024, mas o nome favorito de Eduardo Leite é Nadine Anflor. Delegada desde 2004, Nadine se tornou a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a convite do governador do Estado, entre 2019 e 2022. Na última eleição, tomou posse como deputada estadual com mais de 40 mil votos. De acordo com o partido, a candidata seria um projeto para a terceira via, fora das alas do lulismo e bolsonarismo, além de defender o que chamaram de “bandeiras importantes”, como a diversidade.
Artur Lemos também é discutido como um possível candidato a prefeito da capital gaúcha. Desde 2021, é secretário-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, mas já ocupou cargos de secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura e na Secretaria de Minas e Energia do Estado.
A escolha do nome deve ser fechada até novembro.
Any Ortiz (Cidadania)
Eleita deputada federal em 2022, Any Ortiz foi também deputada estadual do Rio Grande do Sul de 2015 a 2023. Ela é a principal cotada pelo Cidadania para a Prefeitura de Porto Alegre. Há chance de que o Cidadania apoie a chapa atual, de Sebastião Melo e Ricardo Gomes.
Ao mesmo tempo, de acordo com relatos da presidência municipal do PSDB, Any é cotada como uma das candidatas que pode receber apoio do partido caso não avancem as candidaturas de Nadine Anflor e Artur Lemos, mas até o momento, o Cidadania não colabora para esse diálogo. Os dois partidos estão federados e, portanto, não podem ter duas candidaturas diferentes.
Manuela d’Ávila (PCdoB)
A principal escolha do PCdoB já foi vereadora de Porto Alegre, além de deputada estadual e federal entre os anos de 2005 e 2019. Nas eleições de 2018, foi candidata a vice-presidente na chapa formada com Fernando Haddad (PT), que foi derrotada por Jair Bolsonaro.
Se aceitar se candidatar, será a quarta vez que Manuela concorre à prefeitura de Porto Alegre. Na última eleição, em 2020, perdeu para Sebastião Melo no segundo turno, obtendo 45% dos votos. Esse foi seu melhor desempenho na corrida eleitoral da cidade.
O partido informou ao Estadão que a candidatura ainda não está garantida e que a prioridade é formar uma grande frente ampla de partidos de esquerda desde o primeiro turno, uma vez que a eleição “não é fácil”. O debate sobre os nomes a serem indicados ainda está acontecendo dentro da federação, formada com o PT e o PV. As siglas não podem estar separadas na corrida eleitoral em razão disso.
Maria do Rosário e Sofia Cavedon (PT)
O PT deve decidir até novembro entre Maria do Rosário e Sofia Cavedon. Maria atua desde 1985 na política, tendo ocupado cargos de vereadora, deputada estadual e Ministra dos Direitos Humanos no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Desde 2010, é deputada federal.
Já Sofia foi vereadora da capital gaúcha de 2001 a 2019, sendo reeleita nos quatro mandatos seguintes. Atualmente, é deputada estadual pelo Rio Grande do Sul.
Assim como o PCdoB, o PT argumenta que manter uma candidatura única entre esquerdas pode fortalecer a chapa contra a reeleição de Melo. O partido está há 20 anos fora da prefeitura de Porto Alegre. Segundo os petistas, no entanto, o resultado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu na cidade durante as eleições de 2022 poderia ser um indicador da retomada da força da esquerda. Lula teve 53,5% dos votos no segundo turno, frente aos 46,5% de Bolsonaro.
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