As pesquisas eleitorais mais recentes indicam que partidos de centro-direita dominam a intenção de voto nas dez maiores cidades do interior de São Paulo. Enquanto siglas do Centrão, bloco marcado pelo pragmatismo em vez de uma posição ideológica clara, se destacam em cidades-chaves – como Sorocaba e Franca –, legendas de esquerda enfrentam dificuldade numa região marcada pelo conservadorismo e pela influência do agronegócio, tendo chances reais de vencer em apenas dois municípios.
A disputa deste ano repete também o cenário observado na última eleição presidencial, em que Jair Bolsonaro (PL) superou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no interior do Estado. Os últimos levantamentos mostram que os candidatos apoiados pelo ex-presidente estão em melhor posição em comparação aos aliados do petista. Porém, assim como ocorre nas potências do agronegócio paulista, é o Centrão que detém a maior força política nos principais municípios do interior de São Paulo.
O Republicanos, sigla do governador Tarcísio de Freitas, é o partido que está mais bem posicionado nas dez maiores cidades do Estado. A legenda lidera com folga em Sorocaba e Taubaté e aparece numericamente à frente em Campinas, o maior município do interior do Estado, localizado a 99 quilômetros da capital e com mais de 1 milhão de habitantes.
Como mostrou o Estadão, a disputa em Campinas se tornou um empate entre Tarcísio e Lula, que apoiam o prefeito Dário Saadi (Republicanos) e o médico Pedro Tourinho (PT). Tanto o governador como o presidente têm marcado presença na campanha campineira, seja com visitas à cidade durante a pré-campanha, seja com gravações de vídeos para as redes sociais nesta reta final da disputa.
Segundo pesquisa da AtlasIntel (SP-03828/2024), Saadi e Tourinho estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro de três pontos percentuais, com 32,5% e 31%, respectivamente. Apesar da vantagem numérica, Saadi teve sua candidatura cassada em primeira instância pela Justiça Eleitoral, em uma ação protocolada pelo PT. O prefeito segue na disputa pela reeleição enquanto aguarda o julgamento de um recurso na segunda instância.
Em Sorocaba, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) está em uma situação confortável. De acordo com levantamento do Paraná Pesquisas (SP-02922/2024), Manga possui 74,4% das intenções de voto, o que deve assegurar sua vitória já no primeiro turno. Mesmo com o apoio de Bolsonaro e os quase R$ 3 milhões investidos pelo PL, o deputado estadual Danilo Balas registra apenas 6,9%, ficando atrás até do petista Paulinho do Transporte, que tem 7,1%.
Bolsonaro faz campanha no interior de SP
Com a maior fatia do fundo eleitoral, R$ 887 milhões, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, definiu como meta para as eleições municipais de 2024 eleger 1,5 mil prefeitos. Para alcançar esse objetivo, além dos recursos milionários do fundo eleitoral, Costa Neto aposta na popularidade de Bolsonaro. Em São Paulo, o líder do PL mobilizou o ex-presidente para realizar visitas a cidades do interior do Estado. No total, Bolsonaro passou por nove municípios do interior paulista, incluindo quatro das dez maiores cidades: Franca, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Taubaté.
Nesta semana, Bolsonaro liderou carreatas em cidades do Vale do Paraíba. Sua passagem por São José dos Campos expõe um confronto com Gilberto Kassab, presidente do PSD e um desafeto declarado do ex-presidente. Atualmente, a cidade é governada por Anderson Ferreira (PSD), que assumiu o cargo de prefeito após Felício Ramuth, também do PSD, deixar a função para integrar a chapa vitoriosa de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Não por acaso, o vice-governador Ramuth tirou férias do Palácio dos Bandeirantes para se dedicar à campanha em seu reduto eleitoral.
Segundo pesquisa Quaest (SP-08311/2024), o candidato apoiado por Bolsonaro, Eduardo Cury (PL), lidera com 31% das intenções de voto, seguido pelo atual prefeito, que tem 26%. Isolado na quarta posição está o candidato do PT, Wagner Balieiro, 8%, atrás de Dr.Elton (União), com 13%. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais.
Nas outras cidades visitadas por Bolsonaro, a situação dos candidatos apoiados por ele não é tão favorável. Em São José do Rio Preto, tanto o candidato do PL quanto o do PT ficaram em segundo plano, com Itamar Borges (MDB) e Valdomiro Lopes (PSB) liderando a corrida eleitoral com 32% e 28%, respectivamente, segundo pesquisa Real Time Big Data (SP-03399/2024). Em Taubaté, Ortiz Junior (Republicanos), que já governou a cidade de 2013 a 2020, está à frente com 39%, de acordo com pesquisa Ipec (SP-05759/2024), seguido por Márcia Eliza da Silva (PL), com 19%, enquanto o atual prefeito, José Saud (PP), e o candidato do PT, Coronel Paulo Ribeiro, aparecem com apenas 3% e 2%, respectivamente.
Já em Franca, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) lidera com 36,9%, seguido por João Rocha (PL), que aparece com 26,3%, segundo pesquisa do Instituto Ágili (SP-01158/2024), contratada pelo GCN/Sampi. Na eleição de 2020, Rocha ficou em terceiro lugar, com 18,01% dos votos válidos, enquanto Ferreira avançou ao segundo turno na segunda posição, com 19,34%. Porém, Ferreira venceu a disputa na segunda etapa contra Flávia Lancha (PSD), obtendo 57,6% dos votos, frente aos 42,3% de Flávia.
PSD lidera na capital do agronegócio
Ribeirão Preto, conhecida como a “capital do agronegócio”, é mais uma cidade onde um candidato do PSD lidera nas intenções de voto. A disputa no município, que conta com 698,6 mil habitantes e um orçamento previsto de R$ 5,1 bilhões para 2025, colocou em confronto dois importantes caciques políticos nacionais: Gilberto Kassab e Baleia Rossi (MDB). Kassab apoia o deputado Ricardo Silva (PSD), enquanto Rossi lançou, em outubro do ano passado, Igor Oliveira como pré-candidato do MDB à prefeitura.
Em junho deste ano, Igor Oliveira chegou a atingir 19,3% das intenções de voto, segundo levantamento do Paraná Pesquisas (SP-06123/2024). No entanto, sem o apoio de outros partidos, o emedebista retirou sua candidatura, e o MDB passou a apoiar Ricardo Silva, indicando o vereador Alessandro Maraca (MDB) como vice na chapa. Segundo a mais recente pesquisa Quaest (SP-07293/2024), Ricardo Silva lidera com 54% das intenções de voto, podendo vencer no primeiro turno. Três candidatos estão tecnicamente empatados em segundo lugar: Roque (PT), com 7%, André Trindade (União), com 5%, e Marco Aurélio (Novo), também com 5%. A margem de erro é de três pontos percentuais.
O partido de Kassab também está bem posicionado para vencer em Bauru, cidade com 380 mil habitantes, localizada a 328 quilômetros da capital. A prefeita Suéllen Rosim (PSD) lidera a disputa com 46% dos votos válidos, segundo pesquisa Real Time Big Data (SP-04243/2024), contra 15% de Dr. Raul (Podemos), que já concorreu ao cargo na eleição passada, mas foi derrotado por Suéllen.
Em Piracicaba (SP), o PSD está em segundo lugar com Helinho Zanatta, que já foi prefeito de Charqueada (2005-2008) e São Pedro (2013-2020). Apesar de sua experiência como “prefeito profissional”, Zanatta está atrás do ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB), que foi já prefeito de Piracicaba de 2005 a 2013 e de 2017 a 2020. Segundo pesquisa do instituto Ágili (SP-00110/2024), contratada pelo jornal Todo Dia, Negri lidera com 40,1% das intenções de voto, enquanto Zanatta tem 16,3%. O atual prefeito, Luciano Almeida (PP), aparece com 3,1%.
Em Jundiaí, localizada a 63 quilômetros da capital, o cenário é favorável ao bolsonarismo, segundo levantamento do Paraná Pesquisas (SP-04003/2024). José Parimoschi (PL) lidera a disputa com 43% das intenções de voto, seguido por Gustavo Martinelli (União Brasil), que tem 33,5%. Os candidatos de esquerda estão em posições mais distantes: Ricardo Bocalon (PSB) com 4,7% e Professor Higor Codarin (PSOL) com 3,9%.
Embora estejam concorrendo ao cargo de prefeito, Parimoschi e Martinelli pertencem a grupos políticos próximos. Martinelli é o vice-prefeito de Luiz Fernando Machado, que não busca a reeleição por estar em seu segundo mandato. Já Parimoschi é um antigo aliado de Machado, tendo sido vice na chapa do atual prefeito nas eleições de 2012, quando ambos foram derrotados.
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Correções
Na primeira versão desta reportagem, havia um erro no nome do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga. O texto foi corrigido.
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