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Centro ou periferia? Veja onde está o eleitorado mais fiel dos pré-candidatos à prefeitura de SP

‘Estadão’ analisou a votação de Boulos, Nunes, Tabata, Kim e Salles nas eleições mais recentes para deputado federal e traz o resultado em mapas interativos

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Foto do author Samuel Lima
Atualização:

O aquecimento para as eleições à prefeitura de São Paulo em 2024 tem sido marcado por acenos de três dos cinco principais pré-candidatos à periferia da cidade. A relação de vida com a Zona Sul deve ser um ponto em comum a ser explorado pelo atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e pelos deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB). Mas fica a pergunta: em que lugares da cidade realmente está o eleitorado mais fiel deles: no centro ou na periferia?

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Para chegar a uma resposta, o Estadão analisou a votação desses três pré-candidatos, além de Kim Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL), que também se colocam na disputa, em eleições mais recentes que disputaram à Câmara dos Deputados, quando precisaram convencer a população em meio a uma profusão de candidatos. No caso de Nunes, os dados são referentes ao pleito de 2018, quando tentou uma vaga em Brasília e não foi eleito. Os demais tiveram sucesso nas urnas no ano passado.

Em linhas gerais, segundo a análise do cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudio Couto, a distribuição geográfica do voto mostra Boulos com uma representatividade expressiva em todas as regiões da cidade, enquanto Tabata e Salles concentram mais o eleitorado no centro expandido. Kim também tem uma votação homogênea, mas é menos popular do que os demais. Já o mapa de Nunes reflete o fato de ele ter sido um político ainda pouco conhecido em 2018 — a realidade hoje é outra, depois de assumir a prefeitura.

Segundo Couto, a estratégia de campanha dos candidatos pode ser mais eficiente combinando a distribuição regional de votos e as características sociais do eleitorado. “Não se tem muito espaço para ganhar votos adicionais em lugares onde você já está relativamente consolidado, porque já bateu no teto, nem em lugares onde claramente você é muito rejeitado. Os distritos mais intermediários do ponto de vista da distribuição de riqueza é onde me parece que os candidatos podem buscar mais votos.”

Para a cientista política Vera Lucia Chaia, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o mapa de votação para deputado indica o “eleitorado cativo” dos pré-candidatos, e faz sentido priorizar essas zonas mais favoráveis mesmo numa disputa majoritária, em que a dinâmica da campanha passa a ser diferente. “Penso que o candidato deve focar primeiro nessas áreas em que foram mais bem avaliados, onde receberam mais votos, e depois tentar ganhar outros espaços.”

Nunes: voto concentrado e baixa popularidade fora da Zona Sul

Os dados mostram que o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), concentrou votos em três zonas eleitorais da capital em 2018: Parelheiros, Capela do Socorro e Grajaú. Fora da Zona Sul, o político que estava no seu segundo mandato de vereador era praticamente um desconhecido do eleitorado paulistano, o que explica a derrota com pouco mais de 40 mil votos na capital e 47 mil votos em todo o Estado.

“Resumiria a situação dele em uma frase: foi um candidato a deputado com votação padrão de vereador”, afirma Cláudio Couto. O professor da FGV destaca, porém, que o potencial de voto de Nunes hoje é muito maior por ocupar o cargo de prefeito de São Paulo. “O Ricardo Nunes na votação para deputado é um, e o que o vai disputar a prefeitura em 2024 é outro. Não é um nome nacional, mas já é conhecido do eleitor paulistano. Seu mapa hoje seria muito mais homogêneo.”

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, ao lado do governador Tarcísio de Freitas em entrega de medalha.  Foto: Daniel Teixeira / Estadão

O reduto político de Nunes se deve às suas origens no Parque Santo Antônio, bairro vizinho ao Capão Redondo, e pela relação com o meio empresarial da região. Ele fundou um jornal de bairro e depois abriu negócio no ramo de controle de pragas. Iniciou a trajetória política em associações da Zona Sul, o que catapultou seu nome para dois mandatos na Câmara Municipal e ao posto de vice de Bruno Covas, em 2020. O político do PSDB faleceu em maio de 2021, vítima de câncer, e Nunes passou a chefiar o Executivo municipal.

Nunes aposta em investimentos em assistência social e moradia e na aproximação com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para espalhar seus votos pela cidade em 2024. Adversários se unem em críticas à gestão, a exemplo do que se deu no apagão recente que atingiu milhares de residências em São Paulo. O prefeito foi chamado de “Rei do Camarote” por ter participado de eventos como o GP de São Paulo de Fórmula 1 e etapa do UFC em meio à crise.

Em 2020, a dupla Covas e Nunes ganhou de Boulos em 50 das 58 zonas eleitorais no segundo turno, com exceção justamente de bairros da Zona Sul (Capão Redondo, Campo Limpo, Grajaú, Parelheiros, Piraporinha e Valo Velho), além da Zona Leste (Cidade Tiradentes e São Mateus). Um dado que favorece Boulos é o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que será seu padrinho em 2024, ter obtido mais votos do que Bolsonaro na capital paulista.

Boulos: melhor desempenho onde mora e no Bela Vista

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A proporção de votos obtida por Nunes nas zonas eleitorais de Parelheiros, Capela do Socorro e Grajaú em 2018 se aproxima do eleitorado de Guilherme Boulos (PSOL), quatro anos depois. O aliado do presidente Lula, porém, conseguiu votação expressiva em todo o território e foi eleito com a maior votação do Estado, somando 1 milhão de votos ao todo, com 490 mil na capital. Ele teve desempenho acima da média em Campo Limpo e arredores, assim como em zonas do centro expandido, como Bela Vista.

Natural de Pinheiros, zona nobre de São Paulo, Boulos ganhou projeção no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e mora com a esposa, há 10 anos, em Campo Limpo. A origem familiar gera contestação por parte dos adversários, que apontam que ele é cidadão de classe média que quer se identificar com os mais pobres. O deputado tenta agora aproveitar a aliança inédita com o PT na capital para consolidar votos no eleitorado de baixa renda, grupo onde o partido de Lula tradicionalmente aparece em vantagem.

Guilherme Boulos em caravana em Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo Foto: Leandro Paiva / Divulgação

Desde setembro, Boulos roda a capital com uma caravana batizada de “Movimento Salve São Paulo” e participa de eventos com deputados e vereadores petistas, dando preferência para os bairros mais afastados da cidade. A ação foi alvo de opositores na Justiça, que o acusam de promover campanha antecipada.

Tabata: apesar do histórico, maior votação em zonas ricas

A deputada Tabata Amaral (PSB) costuma mencionar o histórico na periferia em discursos e entrevistas. Ela cresceu na Vila Missionária, que faz parte da subprefeitura de Cidade Ademar, também na Zona Sul. Ainda que a sua região e arredores tenham entregado parte dos votos necessários, o seu melhor desempenho na disputa pela Câmara esteve mais para o centro da cidade, em bairros como Pinheiros e Jardim Paulista. Foi a sexta deputada mais votada em 2022, com 337 mil votos em todo o Estado e 143 mil na capital.

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“De certa forma, ela fez o caminho oposto ao de Boulos”, analisa Cláudio Couto. “Ela é uma candidata oriunda da periferia de São Paulo que tem mais votação em bairros do centro rico, sobretudo por conta de posições mais moderadas, por ser entendida como alguém de centro-esquerda, o que agrada setores dessa parcela do eleitorado.”

A deputada federal e pré-candidata a prefeita de São Paulo, Tabata Amaral (PSB). Foto: Dida Sampaio / Estadão

Em 2024, a deputada tenta “furar” a polarização entre Lula e Bolsonaro e conta com o apoio do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). Segundo a cientista política Vera Lucia Chaia, o diferencial de sua candidatura está na aceitação que Tabata tem no eleitorado que costuma votar no PSD, como o que elegeu Bruno Covas, algoz de Boulos em 2020.

A deputada ensaiou a retomada de uma ação batizada de “Gabinete Itinerante” nas últimas semanas, mas os eventos ficaram restritos, até o momento, a uma visita à Ocupação 9 de Julho, no centro da capital paulista, e a encontros esporádicos com políticos e representantes locais.

Kim e Salles: campanha nas redes sociais e votação distinta

Os deputados Ricardo Salles (PL) e Kim Kataguiri (União Brasil) têm priorizado a participação no debate público via redes sociais. Seus mapas de votação, no entanto, apresentam diferenças em termos de fidelidade do eleitorado. Enquanto Salles concentrou votos em áreas mais ricas e centrais da cidade, Kim teve uma votação mais homogênea, sem conquistar uma grande fatia dos eleitores em uma localidade específica.

O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL), conversa com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reuters/Adriano Machado

O ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro teve cerca de 8% dos votos dos eleitores de Jardim Paulista e Indianópolis, por exemplo. Essas zonas, destaca a cientista política Vera Lucia Chaia, abrigam bairros de alta concentração de renda e clubes de elite paulistanos.

A primeira tarefa de Salles é mostrar viabilidade eleitoral e convencer um partido a lançá-lo candidato. Recentemente, ele sinalizou o desejo de deixar o PL, que negocia com Nunes, e concorrer por outra sigla caso a aliança se concretize. Seu maior trunfo é a manifestação pública de apoio de Bolsonaro. Salles foi o quarto deputado paulista mais votado, com 640 mil votos no Estado e 177 mil na capital.

O deputado federal Kim Kataguiri, fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), só superou a faixa de 2,5% do total de votos nas eleições do ano passado em duas zonas eleitorais de São Paulo: Saúde e Santo Amaro. Uma das explicações possíveis para esses picos é o voto da comunidade japonesa, lembra Cláudio Couto, que destaca a fluidez do voto entre as regiões da cidade. Mesmo nessas áreas, a votação para Kim esteve em patamares bem abaixo do melhor desempenho de Tabata, por exemplo.

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O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), na Alesp. Foto: Taba Benedicto / Estadão

Natural de Salto, no interior do Estado, Kim foi eleito deputado pela primeira vez em 2018. No ano passado, teve 295 mil votos, 106 mil na capital, e ficou em oitavo no ranking de mais votados. O principal padrinho político na disputa de 2024 deve ser o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), senador pelo Paraná. A cúpula nacional de seu partido tem indicado ver potencial para que ele cresça ao longo da corrida eleitoral.