Volta de Bolsonaro ao Brasil: Colunistas do ‘Estadão’ analisam papel do ex-presidente na oposição

Jair Bolsonaro retornou ao País nesta quinta-feira, depois de passar três meses nos EUA; Eliane Cantanhêde, William Waack, J.R. Guzzo, João Gabriel de Lima, Silvio Cascione e Carlos Pereira comentam a volta do ex-presidente

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Por Redação
Atualização:

O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou ao Brasil nesta quinta-feira, 30. Bolsonaro passou três meses nos Estados Unidos - ele deixou o País no dia 30 de dezembro, dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva e não entregou a faixa ao sucessor. O ex-presidente retorna em meio às investigações sobre o caso das joias presenteadas pelo regime da Arábia Saudita e não declaradas à Receita Federal, como revelou o Estadão, e com o desafio de unir e liderar a oposição ao governo Lula.

Confira as análises dos colunistas do Estadão sobre o retorno de Bolsonaro ao País:

Eliane Cantanhêde: Limitada e ofuscada pela regra fiscal, volta de Bolsonaro não foi apoteótica nem muda nada

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Bolsonaro voltou. E daí? Daí que o retorno não foi apoteótico, como os bolsonaristas esperavam, o aeroporto de Brasília não estava entupido de militantes, como as autoridades temiam, nem ele pôde desfilar em carro aberto em meio a milhões de pessoas, como gostaria. Simplesmente voltou, foi recebido por seguidores enrolados em bandeiras e pelos aliados mais íntimos na sede do PL. Dali foi conhecer a nova casa, onde o esperava Michele Bolsonaro, a estrela em ascensão do partido.

Agora, é tocar a vida. Enquanto o presidente Lula acalma os mercados, cativa o Congresso e lhe tira espaço de mídia com a nova âncora fiscal, que deixa de ser atrelada à inflação e passa a ser à arrecadação, Bolsonaro terá muito trabalho com seus incontáveis processos. Leia a análise completa

William Waack: Bolsonaro precisa transformar personagem em político que funcione

O maior problema de Bolsonaro é cuidar de um personagem que funcionou e transforma-lo num político que funcione, com capacidade de articular e dirigir. O personagem antisistema produziu um extraordinário resultado eleitoral em 2018 e um extraordinário fracasso político ao surfar uma onda que ele não criou nem soube dirigir.

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Ele existe como consequência de um profundo descontentamento com um sistema político e de governo percebido como prejudicial para qualquer um que se esforça honestamente em sustentar sua atividade e sua família. Esse descontentamento permanece intacto ou talvez até tenha se ampliado depois das eleições.

A dúvida é: Bolsonaro é capaz de dirigir essa corrente, podendo ou não participar de eleições? Sua derrota há quase 6 meses escancarou um fato básico assinalado há décadas na ciência política. Sobretudo os populistas são tão bem-sucedidos quanto maior for sua capacidade de criar organizações, estruturar movimentos de massa e dar a isso sentido e direção. É o que Bolsonaro não aprendeu ainda.

Leia as colunas de William Waack

Bolsonaro retornou ao Brasil depois de passar três meses nos EUA com desafio de liderar a oposição ao governo Lula Foto: Gustavo Moreno/AP

J.R. Guzzo: Bolsonaro tenta liderar a direita contra um governo dos sonhos para um político de oposição: o PT

De novo no Brasil, depois de anunciar e adiar várias vezes a sua volta, Bolsonaro vai tentar construir uma segunda carreira no primeiro plano da política nacional. Não é nem um pouco comum. Depois de Juscelino Kubistchek, mais de 60 anos atrás, só Lula conseguiu voltar a ser presidente – e para isso foi preciso, entre outros fenômenos prodigiosos, o Supremo Tribunal Federal fazer coisas que jamais tinha feito antes. Bolsonaro é apenas o segundo a fazer a tentativa, agora como presumível líder de algo que nunca existiu de forma realmente clara no Brasil: a direita como forma organizada de ação política, com o patrimônio de 60 milhões de votos que construiu nas duas últimas eleições e a maioria, constatada numericamente pelo TSE, no Sul e Centro-Oeste do País, mais Minas Gerais e o Rio de Janeiro – o Brasil onde se concentram a produção, o trabalho e o que possa existir de conhecimento. Leia análise completa.

João Gabriel de Lima: Bolsonaro entra na guerra das direitas

No próximo mês de maio, Lisboa será a sede de uma espécie de “Rock in Rio” da ultradireita. As margens plácidas do rio Tejo ouvirão o brado retumbante – e frequentemente xenófobo – da francesa Marine Le Pen, do espanhol Santiago Abascal, da italiana Giorgia Meloni e do português André Ventura, anfitrião da festa. Jair Bolsonaro foi convidado e deverá se juntar a eles. Em coletiva sobre o evento na semana passada, em Lisboa, Ventura destacou Bolsonaro como um dos principais nomes do “combate ao socialismo” na América Latina. Leia a análise completa

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Silvio Cascione: ‘Bolsonaro, por ora, não tem força para desestabilizar Lula’

“A volta de Bolsonaro ao Brasil foi ofuscada hoje pelo anúncio do governo das novas regras fiscais. Isso ilustra bem o baixo risco que Bolsonaro representa a Lula no curto prazo. Enquanto o governo mantiver taxas de aprovação razoáveis, ele tem uma capacidade muito maior do que a oposição de liderar a agenda pública e manter uma base de apoio no Congresso.

A situação tende a mudar ao longo do tempo, à medida que a popularidade de Lula cair. A presença de um líder de oposição com apelo popular, capaz de mobilizar protestos, aumentará a pressão sobre Lula caso a economia o coloque nas cordas. Bolsonaro, por ora, não tem força para desestabilizar Lula; mas ele será um multiplicador das dificuldades do governo em um cenário mais negativo. Isso tende a acontecer mesmo que Bolsonaro perca os direitos políticos, pois ainda assim ele terá bastante força política para indicar um sucessor competitivo e se manter relevante.”

Leia as colunas de Silvio Cascione

Carlos Pereira: ‘O retorno de um populista domesticado’

A volta de Jair Bolsonaro ao Brasil tem despertado muitas preocupações e especulações. Afinal de contas é muito pouco provável que o ex-presidente mude sua estratégia de vitimização seguida de confrontos e ameaças abertas às instituições liberais da democracia brasileira. Essas são as características que definem um populista extremo e, paradoxalmente, são as que os tornam politicamente viáveis e eleitoralmente competitivos. Embora contido em todas as suas iniciativas iliberais pelas instituições democráticas, tal estratégia foi útil na construção de um “ticket de saída” para lidar com a derrota eleitoral em 2022. Também pode vir a funcionar como um “ticket de reentrada” no jogo político na condição de oposição.

Ainda é muito cedo para dizer se essa estratégia confrontacional vai ser novamente eficiente, como foi em 2018. Provavelmente não será. Lá, não existia uma demanda majoritária na sociedade por um populista de extrema-direita, mas um problema de oferta de alternativas gerado pelo cenário de terra arrasada deixado pelos escândalos bilionários de corrupção e pelo desastre econômico das gestões petistas.

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Agora pesam sobre Bolsonaro inúmeros contenciosos e desgastes políticos como a sua gestão catastrófica da pandemia, do meio ambiente, escândalos de apropriação indevida de joias, os incidentes de 8 de janeiro, descontrole das contas públicas, só para ficar em alguns exemplos. Compete aos partidos e eleitores conservadores e de centro-direita, comprometidos com os princípios liberais da democracia, que apoiaram e votaram em Bolsonaro pelo antipetismo no passado, encontrem alternativas competitivas ao populismo bolsonarista.

Leia as colunas de Carlos Pereira

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