Suspeitos de matar Marielle, Chiquinho e Domingos Brazão têm histórico político no Rio; entenda

Irmãos Brazão têm reduto político na zona oeste do Rio, região ocupada por milícias; Domingos Brazão e Chiquinho Brazão foram citados por delatores do caso, mas dizem não ter relação com o assassinato

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO - A Polícia Federal (PF) prendeu neste domingo, 24, três suspeitos de serem os mandantes da execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018. Entre os presos estão o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão.

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Com uma trajetória política construída com o apoio do eleitorado da zona oeste do Rio de Janeiro – região com amplo domínio de grupos milicianos –, os irmãos Brazão entraram na política fluminense em 1996, com a eleição de Domingos Brazão para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A vereança foi o trampolim para que o político da zona oeste do Rio chegasse à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) dois anos depois, em 1998. Lá, Domingos ocupou a cadeira de deputado estadual por cinco mandatos, de 1999 a 2015, até ser indicado para o Tribunal de Contas do Estado. A função é vitalícia e tem garantias semelhantes às dos magistrados do Judiciário.

O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, negou a participação dele no assassinato da vereadora. A defesa de Chiquinho Brazão foi procurada neste domingo, mas não se manifestou. No último dia 20, em nota, ele se disse “surpreendido por especulações que buscam lhe envolver no crime”.

O sucesso político dos irmãos Brazão foi construído com base no eleitorado dos bairros da zona oeste. Antes de chegar ao Congresso Nacional, Chiquinho Brazão foi vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro por 14 anos, entre janeiro de 2005 a fevereiro de 2019. Em 2018, foi eleito pela primeira vez à Câmara, com 25.817 votos, sendo reeleito em 2022, com 77.367 votos.

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Chiquinho Brazão chegou a ser colega de parlamento de Marielle Franco, durante os dois primeiros anos de mandato da vereadora do PSOL, entre 2016 e março de 2018.

A vereadora do Rio Marielle Franco, executada em março de 2018 Foto: Renan Olaz/CMRJ

Apesar da nomeação de Domingos para o TCE e a eleição de Chiquinho Brazão para a Câmara dos Deputados, o clã da zona oeste manteve a influência na política do Estado.

Eleito deputado federal pelo Avante nas eleições 2022, Chiquinho Brazão se licenciou, no final do ano passado, para atuar como secretário municipal de ação comunitária no Rio. O deputado foi uma indicação política do Republicanos, partido presidido no Rio de Janeiro pelo prefeito Wagner dos Santos Carneiro, de Belford Roxo. O arranjo político fez parte de uma articulação do prefeito da capital carioca, Eduardo Paes (PSD), para ampliar a base política com vistas às eleições municipais deste ano.

A aliança de Paes com a família Brazão provocou reação da vereadora Monica Benício (PSOL), viúva de Marielle. Em uma sessão da Câmara Municipal em dezembro do ano passado, Monica criticou a nomeação de Chiquinho por Paes em meio às suspeitas de participação do clã no assassinato de Marielle.

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“Eduardo Paes nomeou ninguém menos do que Chiquinho Brazão como seu secretário. Me causa náuseas dizer isso. E fez isso na mesma semana em que veio à público a notícia de que a Polícia Federal estava investigando e suspeitava do envolvimento da família Brazão no assassinato de minha esposa, Marielle Franco. Queria dizer que estou surpresa, mas estaria mentindo. Para se manter no poder, o atual prefeito já deixou nítido que vale tudo, até se aliar com quem ele mesmo responsabilizou pela destruição do Rio de Janeiro”, afirmou na tribuna.

Monica Benício durante sessão da Câmara Municipal do Rio Foto: Reprodução/Câmara Municipal do Rio de Janeiro

O vereador Waldir Brazão, ex-chefe de gabinete do deputado estadual Manoel Brazão, irmão de Domingos e Chiquinho, saiu em defesa do clã Brazão e disse que a morte de Marielle era a única pauta de Monica. Waldir usa o nome Brazão, apesar de não ser da família.

“A única pauta que ela tem é a morte da Marielle. Que todo mundo já sabe tudo porque lê no jornal, todo dia, a mesma coisa. Se ela não tiver essa pauta, ela não consegue fomentar o eleitorado do PSOL. O Freixo prendeu um monte de gente naquela CPI (Milícias) e, no entanto, a gente passou batido, como vem passando batido em tudo. A menos quando querem se aproveitar do nome que a gente tem. Do que a gente construiu. Ela dormia do lado de Marielle, mas não sabia de nada. É mais fácil acusar um Brazão do que outro”, afirmou.

A viúva de Marielle rebateu a declaração do aliado dos Brazão e disse que “aos preocupados com a Justiça, ela chegará”.

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“Eu não sou delegada, não sou investigadora, não trabalho no Ministério Público. Sou a viúva de Marielle Franco. Quem disse da possibilidade do envolvimento da família Brazão, do Chiquinho Brazão, foi a Polícia Federal. Não fui eu. Há um processo e o final está chegando. E aí os nervosos podem ficar mais nervosos ainda, porque é uma questão de tempo. Aos preocupados com a Justiça, ela chegará. Não existe crime perfeito. Chegaremos ao final desse caso. A execução dela irá transformar a história do Brasil, não só na perda da matéria de seu corpo, mas ao transformar a política e o submundo do Rio de Janeiro quando a revelação dos nomes dos mandantes e todos os envolvidos chegarem ao conhecimento público”, conclui Monica.

Brazão foi exonerado da prefeitura em fevereiro deste ano da Prefeitura do Rio.

Suspeita de ligação da família Brazão com a milícia

As primeiras suspeitas sobre a ligação da família Brazão com as milícias veio à tona em 2008, com a divulgação do relatório da CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Primeiro acusado a depor na CPI, em 9 de setembro de 2008, o vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras (DEM), afirmou que Domingos Brazão, então deputado pelo PMDB, teria sido eleito com o apoio da milícia de Rio das Pedras.

De acordo com o relatório, Domingos e Chiquinho Brazão teriam influência política na área de atuação da milícia na 15ª região administrativa de Madureira. Segundo o documento, o grupo seria formado por civis, policiais civis e policiais militares e teria 14 milicianos, com atuação na exploração de serviços, como sinal de TV a cabo, venda de imóveis, gás e comércio. Apesar das citações, a família Brazão não teve pedido de indiciamento pela CPI.

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Associação com caso Marielle foram reveladas pela primeira vez em 2019

As primeiras associações da família Brazão ao caso Marielle vieram à tona em 2019, quando um relatório da PF apontou Domingos como o “principal suspeito de ser autor intelectual” dos assassinatos da vereadora e do motorista. O conselheiro do TCE sempre negou a participação no crime. Ele já havia sido denunciado pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido.

O conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão Foto: Reprodução/TCERJ

Em outubro do ano passado, o ex-policial militar Élcio Queiroz – o primeiro acusado a assumir a coparticipação no assassinato – citou Domingos Brazão em delação, o que fez com que o caso fosse remetido ao Superior Tribunal de Justiça.

O deslocamento do caso do STJ para o Supremo Tribunal Federal (STF) ocorreu após o ex-policial Ronnie Lessa citar Chiquinho Brazão em depoimento à PF.

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