Ciro é alvo de notícia-crime das Forças Armadas após dizer que Defesa é ‘conivente’ com narcotráfico

Presidenciável afirmou que integrantes da instituição são coniventes com o crime organizado na Amazônia; nota contra o pedetista foi assinada pelo ministro da Defesa e pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica; pedetista se diz vítima de perseguição política

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

O Ministério da Defesa e as Forças Armadas apresentaram notícia-crime contra o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) por críticas feitas à atuação dos militares na Amazônia. Em entrevista à rádio CBN, o presidenciável afirmou, na terça-feira, 21, que as Três Forças são coniventes com o crime organizado na região e responsabilizou o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao comentar o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, Ciro definiu a região amazônica como uma “holding do crime” graças à gestão do governo Bolsonaro. Segundo o pedetista, o atual presidente “destruiu” a capacidade operacional dos militares, assim como o fez com instituições como a Fundação Nacional do Índio (Funai). Disse, também, que “o narcotráfico é claramente protegido por autoridades brasileiras, inclusive as Forças Armadas”.

Nota das Forças Armadas contra Ciro Gomes é assinada pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica; documento comunica apresentação de notícia-crime contra o presidenciável.  Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

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Em nota, a Defesa e as Forças Armadas disseram repudiar veementemente o que chamaram de “irresponsáveis declarações” do presidenciável. “Tais acusações levianas afetam gravemente a reputação e a dignidade dessas respeitadas Instituições da Nação brasileira, cuja honra, valores e tradições se confundem com a própria identidade do povo brasileiro”, afirmou a instituição.

O documento é assinado pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos; o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; e o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior.

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Encaminhada à Procuradoria-Geral da República (PGR), Augusto Aras, a notícia-crime pede que sejam apurados os crimes de:

  • “Incitar, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade”;
  • E “propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de ofender a dignidade ou abalar o crédito das Forças Armadas ou a confiança que estas merecem do público”.

Na manhã desta sexta-feira, 24, Ciro disse ter sido “surpreendido” pela nota, classificada por ele como “intempestiva” e “agressiva”. O pré-candidato do PDT afirmou que a notícia-crime “mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas”, relacionando o incidente à influência do governo Jair Bolsonaro na instituição.

“Em nenhum momento disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de Estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei - e reafirmo - que, frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão”, afirmou o ex-ministro.

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Ciro classificou a notícia-crime como uma “ação política” contra a sua pré-candidatura ao Planalto e insinuou que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, estaria obedecendo ordens do presidente Jair Bolsonaro para prejudicá-lo na corrida eleitoral.

“Não me surpreende que a iniciativa desta ação política contra mim - e contra a minha candidatura - parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político”, afirmou, relembrando, também, o ofício enviado pelas Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No ofício, que foi enviado à Corte eleitoral no início deste mês, Nogueira pediu ao presidente do tribunal, ministro Edson Fachin, que tomasse medidas para facilitar a contratação de empresas por iniciativa dos partidos para auditagem das urnas eletrônicas, em sintonia com a proposta do presidente Jair Bolsonaro.

O militar também sugeriu nomear oficiais para fiscalizarem o processo eleitoral e o sistema eletrônico de votação. A iniciativa pegou a Corte de surpresa, pois não há precedentes na história da Justiça Eleitoral. As Forças Armadas já figuram entre as instituições com autorização para fiscalizar o pleito, o que torna desnecessário e atípico a ato do ministro.

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