Candidato à Presidência pelo PDT, o ex-ministro Ciro Gomes afirmou nesta terça-feira, 23, durante sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, que o presidencialismo de coalizão adotado no País é “certeza de crise eterna”. Na entrevista, Ciro defendeu a adoção de um “plebiscito programático” para solucionar problemas políticos como a falta de apoio no Congresso. “É uma tentativa de liberar o Brasil de uma crise que corrompeu a Presidência.”
Para ele, é preciso “denunciar” as ações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL). Nos 40 minutos de entrevista, Ciro criticou ambas as gestões presidenciais. Segundo Ciro, a frustração com o atual chefe do Executivo fará o País retornar ao “fracasso”. Ele voltou a usar a expressão “polarização odienta” para se referir aos líderes das pesquisas – o ex-ministro tem 7% das intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada. O candidato do PDT não conseguiu fechar alianças com outro partido para disputar a eleição.
“Chegamos ao limite das emendas do relator. Eu vi ontem (segunda-feira) o cidadão (Bolsonaro) aqui falando que não tinha corrupção. A corrupção está se institucionalizando. A corrupção é praticada por pessoas e o desastre econômico é responsabilidade de pessoas e de grupos. Elas têm que ser responsabilizadas”, disse.
Questionado se as medidas não colocam em xeque a relação entre o Executivo e o Legislativo, Ciro afirmou que sua proposta de “plebiscito programático” é diferente do “populismo sul-americano”, que, segundo ele, é “replicado” pelo PT. “Eu acho o regime da Venezuela abominável. É muito clara a minha distinção com esse populismo sul-americano que o PT, infelizmente, replica aqui.” Na entrevista, Ciro não deu exemplos sobre quais temas ele convocaria um plebiscito se fosse eleito.
Em outro momento da sabatina, Ciro voltou a ser questionado sobre a dificuldade de um presidente eleito aprovar medidas no Legislativo e pôr em prática suas propostas sem apoio do Congresso.
“O primeiro ano de FHC transcorreu em branco. Qual foi a concepção estratégica do Lula? Ambos se prostraram em um modelo econômico que produz desigualdade, informalidade, desemprego e destruição dos serviços públicos”, afirmou o candidato.
Reeleição
Ciro também voltou a criticar a reeleição e disse que abriria mão do dispositivo caso vencesse a eleição – é a quarta vez que ele disputa a Presidência. “O que destruiu a governança brasileira é a reeleição. O presidente se vende a grupos picaretas da política brasileira porque tem medo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e quer se reeleger. Eu me garanto. Não sou corrupto. Não tenho medo de CPI. Abrindo mão da reeleição eu vou fazer as reformas de que o Brasil precisa.”
“Quem você escolher, é com esses que sou democraticamente obrigado a negociar. A minha diferença é que o Bolsonaro, por exemplo, denunciou isso e fez o oposto. O PT fez o tempo inteiro a denúncia da corrupção dos outros e depois negociou nas mesmas bases. O que eu prometo? Negociar sem ‘toma lá, dá cá’”, disse.
Federalizão
Em relação a propostas de governo, o ex-ministro defendeu a criação de um sistema único de segurança. Segundo ele, a federalização da segurança pública evitaria a conivência de policiais militares com o crime. A questão foi citada por Ciro como um dos problemas da área.
“O policial é um trabalhador. Se ele não acertar algum pacto de sobrevivência naquela circunstância dominada pelas facções, é improvável que consiga sobreviver. Esse combate precisa ser feito pelo governo federal e com aparatos de inteligência. O orçamento brasileiro em segurança é um terço de 1%. Quantas vezes eu ouvi de governos de quem eu estive perto, do Lula, especialmente, ele disse que segurança era problema dos Estados. Eu acredito que não podemos desertar disso”, disse. Para ele, a federalização ajudaria no combate ao crime organizado, milícias, narcotráfico, tráfico de armas, crimes do colarinho-branco e lavagem de dinheiro.
Como proposta para o meio ambiente, o candidato defendeu que, para a aplicação das leis na Amazônia, é preciso oferecer alternativa para os moradores com monitoramento tecnológico e com uma reconversão da lógica produtiva. “É preciso fazer com que a economia rural aprenda que a floresta vale muito mais em pé do que derrubada. Se você der uma alternativa, a repressão vale para o verdadeiro marginal.”
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