BRASÍLIA – O novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI), pregou a pacificação do País e disse que atuará no governo como um “amortecedor” diante de tantas “trepidações”. Em sua cerimônia de posse nesta quarta-feira, 4, com o Salão Nobre do Palácio do Planalto lotado de políticos, Nogueira afastou ameaças golpistas e disse que a democracia é “líquida e certa”.
No momento em que o presidente Jair Bolsonaro protagoniza um embate com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por causa do voto impresso, o líder do Centrão afirmou que sua tarefa, a partir de agora, será trabalhar para diminuir as tensões entre os Poderes.
“É nosso dever preparar o País para chegar às eleições, com a economia recuperada e a vacinação garantida”, discursou Nogueira, que agora é senador licenciado. Ele sinaliza uma tentativa de amenizar declarações do próprio Bolsonaro de que só haverá eleições em 2022 com a aprovação do voto impresso. Como revelou o Estadão, no mesmo 8 de julho em que o presidente fez essa ameaça, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, deu recado semelhante, recebido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL).
“A política muitas vezes provoca choques, tremores, abalos. Gostaria que toda vez que Vossa Excelência me visse, lembrasse de um amortecedor. O meu nome é temperança e o meu sobrenome tem de ser equilíbrio”, afirmou Nogueira, dirigindo-se a Bolsonaro. O novo ministro, definido como “alma do governo” pelo presidente, citou várias vezes a palavra democracia em seu discurso de posse. “É por ela que todos nós estamos aqui, presidente. É por ela que o senhor está aqui. Para cuidarmos dela, para zelarmos por ela”, insistiu.
Políticos de vários partidos compareceram à posse de Nogueira e se aglomeraram nos salões do palácio. Muitos estavam sem máscara de proteção contra covid-19. Na terça-feira, 3, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) esteve no gabinete de Nogueira. Nesta quarta, do Val divulgou nas redes sociais que exame de covid feito por ele deu positivo, pela segunda vez.
A cerimônia que marcou a entrada oficial do Centrão no governo contou com um amplo leque de representantes políticos e dirigentes de partidos. Na plateia estavam os governadores Ronaldo Caiado (DEM-GO), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Wilson Lima (PSC-AM), Gladson Camelli (Progressistas-AC) e Cláudio Castro (PL-RJ). Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), também compareceram, além dos senadores Eduardo Braga (AM), líder do MDB, e Davi Alcolumbre (DEM-AP), ex-presidente do Senado.
Bolsonaro disse que a nomeação de Nogueira foi um ato de apoio ao Legislativo. “A chegada agora do Ciro Nogueira é uma demonstração, por parte do governo, de que nós queremos cada vez mais aprofundar o relacionamento com o Parlamento”, afirmou. “Não é a primeira vez que eu digo que Legislativo e Executivo, na verdade, são um só Poder”.
Candidato à reeleição e pressionado pelo TSE, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e por protestos de rua, Bolsonaro também garantiu que ampliará o Bolsa Família, a ser chamado de “Auxílio Brasil”. Atualmente, o programa paga, em média, um benefício de R$ 190,00 mas vai aumentar. “Estamos aprofundando. de modo que tenhamos um novo programa, Auxílio Brasil, pelo menos 50% maior que o Bolsa Família”, afirmou Bolsonaro. “Eu falo 50% porque os outros 50% vou deixar para o Paulo Guedes anunciar”.
Natural do Piauí e pré-candidato ao governo daquele Estado, Nogueira se aliou ao PT em diversas ocasiões nas eleições passadas. Em 2018, por exemplo, o novo ministro – que é presidente licenciado do Progressistas – apoiou a candidatura de Fernando Haddad (PT) ao Palácio do Planalto e, em 2017, chamou Bolsonaro de “fascista”. No discurso desta quarta, Nogueira disse que “mudar de opinião não é contradição, desde que seja para melhor”.
Ao fim de seu pronunciamento, o chefe da Casa Civil repetiu um bordão da campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018. “Deus abençoe todos. O Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Viva o povo brasileiro!”, afirmou.
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