A Mais Consulta Clínica Médica, que consta no documento divulgado pelo candidato Pablo Marçal (PRTB) para dizer que Guilherme Boulos (PSOL) esteve no local com surto por uso de cocaína, está fechada há cerca de três anos. A empresa ainda consta como ativa na base da Receita Federal e na Junta Comercial do Estado de São Paulo, com o mesmo endereço registrado no laudo falso, mas não está funcionado nesse espaço.
Funcionários que trabalham em obras no prédio, localizado no bairro Jabaquara, zona sul da capital paulista, afirmaram ao Estadão neste sábado, 5, que o proprietário vem realizando melhorias desde o fechamento do centro médico, em 2021, e que o espaço está sendo colocado para alugar novamente. Em sites especializados, há anúncios do imóvel tanto para locação, no valor de R$ 49,5 mil por mês, quanto para venda, por R$ 11 milhões.
Leia também
Na noite desta sexta-feira, 4, Marçal publicou nas redes sociais um laudo falso, que aponta o suposto uso de cocaína por Boulos. O documento afirma que, às 16h45 do dia 19 de janeiro de 2021, Boulos teria dado entrada na Mais Consulta Clínica Médica com um quadro de surto psicótico grave. Segundo o receituário, um exame toxicológico, apresentado por um acompanhante de Boulos, indicaria resultado positivo para uso de cocaína. Procurada, a assessoria de Marçal não respondeu. O espaço permanece aberto para manifestações.
Tanto na Receita Federal quanto na Junta Comercial do Estado de São Paulo, o endereço vinculado à clínica é o mesmo do prédio que está fechado e em obras. No entanto, em ambos os órgãos, a situação cadastral do centro médico ainda consta como ativa, ou seja, em funcionamento.
O Estadão tentou contato com a Mais Consulta Clínica Médica, mas os números disponíveis no suposto receituário e na conta da clínica no Instagram estão indisponíveis. O médico que assinou o receituário, Dr. José Roberto de Souza (CRM 17064-SP), já morreu, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Como mostrou o Estadão, o dono da clínica Mais Consulta é Luiz Teixeira da Silva Junior, que já foi condenado pela Justiça Federal por falsificação. Teixeira é amigo de Pablo Marçal e aparece em vídeos ao lado do influenciador nas redes sociais. A reportagem tentou contato com o acusado por meio de dois celulares e dois telefones fixos, mas não obteve resposta.
Leia também
A campanha de Boulos, logo após a divulgação do suposto laudo na noite desta sexta-feira, encaminhou uma nota à imprensa afirmando se tratar de um documento “falso e criminoso”. “Uma atitude inaceitável de quem prova não ter limites em sua capacidade de mentir”, disse o candidato, informando que acionaria todas as instâncias da Justiça contra o ex-coach.
Na manhã de sábado, 5, o juiz da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, Rodrigo Marzola Colombini, viu “plausibilidade” na acusação de Boulos sobre falsificação e determinou a exclusão das postagens que mencionem o laudo. No entanto, não suspendeu as redes sociais de Marçal e de outros dos perfis desconhecidos que também publicaram o documento.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.