Clínica usada em laudo falso divulgado por Marçal foi despejada por dívida e destruição; veja fotos

Duas ações tramitam na capital paulista com pedido de aluguéis atrasados e indenização por dano material; nos autos, defesa sustentou crise diante da pandemia de covid-19 e que Luiz Teixeira da Silva Junior realizava obra de melhorias no local. ‘Estadão’ procurou Silva Junior, mas ele não atendeu às ligações

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Foto do author Heitor Mazzoco
Atualização:

A clínica Mais Consulta, que aparece em laudo falso divulgado pelo candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) para dizer que Guilherme Boulos (PSOL) esteve no local com surto por uso de cocaína, teve sentença procedente para despejo em maio de 2021, segundo ação na 5ª Vara Cível do Fórum Jabaquara, na capital paulista. O processo começou no dia 21 de janeiro daquele ano, dois dias depois da data que aparece no laudo fajuto.

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A ação está em fase de execução e os proprietários do prédio em que funcionava a clínica cobram em torno de R$ 1 milhão – entre aluguel, multa e juros, segundo dados obtidos pelo Estadão. De acordo com a sentença proferida pela juíza Cláudia Felix de Lima, o prédio foi alugado em agosto de 2020 e a empresa de Luiz Teixeira da Silva Junior não realizou os pagamentos devidos. “Portanto, comprovada a relação entre as partes e não tendo a parte ré demonstrado o efetivo pagamento do valor devido nem apresentado relevantes razões plausíveis para se opor ao pagamento, o acolhimento do pedido inicial é medida que se impõe”, registrou a juíza na ocasião. O valor mensal do contrato de aluguel era de R$ 40 mil.

Na ação, ele alegou problemas financeiros diante da pandemia da covid-19 e que reformava o prédio para melhorar as instalações. O Estadão ligou nesta segunda-feira, 7, para uma clínica de Silva Junior em Barueri, na Grande São Paulo, mas ele não estava no local. Em celulares atribuídos a ele, ninguém atendeu.

Proprietários cobram indenização por dano material de Luiz Teixeira da Silva Junior Foto: Reprodução/TJ-SP

O Estadão esteve no local no último sábado, 5, horas depois de Marçal publicar o documento falso em suas redes sociais com assinatura de um médico morto. O dono da clínica se manifestou neste domingo, 6, e negou participação na elaboração do documento falso.

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Funcionários que trabalham em obras no prédio, localizado no bairro Jabaquara, afirmaram que os proprietários realizam melhorias desde o fechamento do centro médico, e que o espaço está sendo colocado para alugar novamente. Em sites especializados, há anúncios do imóvel tanto para locação, no valor de R$ 49,5 mil por mês, quanto para venda, por R$ 11 milhões.

Interior do prédio que abrigava a Clínica Mais Consulta Foto: Reprodução/TJ-SP

O estado em que o espaço foi deixado também é alvo de ação na Justiça. “Ao tomar posse do imóvel, a autora (proprietária) constatou que a ré tinha deixado o imóvel em situação totalmente precária e impossível de alugar. O imóvel foi destruído por dentro, pois, ao que parece, a ré tinha dado início a reforma prometida para as devidas adequações à sua atividade comercial, mas interrompeu a obra, sem motivo, deixando o imóvel no concreto puro, sem paredes, sem qualquer acabamento”, apontaram na inicial as advogadas Priscilla Carrieri Donegá e Julia Helena Martins.

Na segunda ação, iniciada em março deste ano, há pedido de indenização por dano material no valor R$ 147,9 mil. “Diante da situação do bem, a autora, sem condições financeiras, pois já estava há mais de 12 meses sem receber aluguel da ré, teve ainda que dar início a reforma do bem imóvel, uma vez que deixado sem qualquer condição de uso e, tampouco, de locação”, afirmaram as advogadas. Silva Junior ainda não foi encontrado para ser citado da nova ação.

Entenda o caso envolvendo Marçal e a clínica

Na noite da última sexta-feira, 4, o ex-coach Pablo Marçal publicou nas redes sociais um laudo falso, que aponta o suposto uso de cocaína pelo adversário Guilherme Boulos. O documento forjado afirma que, às 16h45 do dia 19 de janeiro de 2021, Boulos teria dado entrada na Mais Consulta com um quadro de surto psicótico grave e um exame apontava para uso de cocaína. A Polícia Civil e a Polícia Federal já atestaram a falsidade do documento.

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Há três anos local está fechado Foto: Reprodução/TJ-SP

Desde o primeiro debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo na disputa de primeiro turno, Marçal fez insinuações de que o deputado federal era usuário de entorpecentes. Marçal, no entanto, nunca provou a afirmação. Boulos, na última semana, apresentou exame toxicológico que comprova a não utilização de entorpecentes.

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