CNJ abre investigação contra Sérgio Moro e desembargadores do TRF-4

Conselho destacou que Moro respondia a 20 processos administrativos quando deixou a carreira, o que pode o levar ao mesmo destino de Deltan Dallagnol; Moro ironizou gesto nas redes sociais

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Foto do author Isabella Alonso Panho
Atualização:

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu reclamações disciplinares contra o senador e ex-juiz federal Sérgio Moro (União Brasil-PR) e outras autoridades vinculadas à força-tarefa da Operação Lava Jato. Os processos foram abertos por ordem do corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão.

Ao todo, serão quatro reclamações: uma contra Moro e a juíza federal Gabriela Hardt e uma para cada um dos desembargadores federais da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Loraci Flores de Lima, João Pedro Gebran Neto e Marcelo Malucelli.

Sérgio Moro e Gabriela Hardt responderão juntos à mesma representação Foto: Dida Sampaio/Estadão e Reprodução/Ajufe

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Nas redes sociais, Moro ironizou o ato. “No fantástico mundo da Corregedoria do CNJ, recuperar dinheiro roubado dos bandidos e devolver à vítima (Petrobras) é crime. Só mesmo no governo Lula”, disse o ex-magistrado.

A correição realizada na 13ª Vara Federal de Curitiba e nos gabinetes dos desembargadores mostrou “uma gestão caótica no controle de valores oriundos de acordos de colaboração e de leniência”. Especificamente em relação a Moro e Hardt, o ponto de investigação é o repasse de mais de R$ 2 bilhões à Petrobras. A auditoria apontou que há “indícios de violação reiterada dos deveres de transparência, de prudência, de imparcialidade e de diligência”.

O ministro corregedor Luis Felipe Salomão argumentou que contra Moro também pesam indícios de uso 'político-partidário' das funções da magistratura Foto: Luiz Silveira/Agencia CNJ

Salomão argumenta que eles autorizaram o repasse do dinheiro antes do trânsito em julgado (fim de todos os recursos possíveis) dos processos. Além disso, o corregedor afirma que pesam contra Moro “indícios de atuação na magistratura com fins político-partidários”.

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Gebran Neto, Malucelli e Lima serão investigados em reclamações separadas, pela suposta demora em analisar um recurso da Petrobras contra uma decisão que autorizou a transferência de R$ 43 milhões ao Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) e à Conta Única do Tesouro. Eles estavam, segundo o CNJ, com o caso há um ano e cinco meses sem julgá-lo.

Moro pode ser tratado como Dallagnol

Apesar de ter deixado a carreira da magistratura, Moro ainda pode sofrer sanções no Conselho. A nota divulgada pelo órgão diz que “a jurisprudência do CNJ busca impedir que magistrados deixem a carreira para se livrar de eventuais punições administrativa e disciplinares. À época do pedido de sua exoneração, Moro respondia a cerca de 20 procedimentos administrativos no CNJ”.

Decisão do corregedor Salomão indica que Moro pode ter o mesmo destino de Deltan Dallagnol Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Questão similar levou à cassação do ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Ele perdeu sua cadeira na Câmara dos Deputados porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu que, ao deixar a carreira no Ministério Público para se dedicar à vida política, fez uma manobra para se livrar de procedimentos disciplinares no Conselho Nacional do Ministério Público.

Como mostrou a Coluna do Estadão, depois de Dallagnol ser cassado, nos bastidores de Brasília passou a se falar que o destino de Moro seria o mesmo. O ex-magistrado responde a uma ação de investigação judicial eleitoral de autoria do PL de Valdemar Costa Neto. É o mesmo tipo de processo que deixou Jair Bolsonaro inelegível.

O PT também tenta a cassação do senador na Justiça, apontando para supostas irregularidades no fretamento de voos com uso de dinheiro público. Não há decisão em nenhum desses casos.

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Desembargadores são investigados por desobedecerem Toffoli

Outras reclamações serão abertas contra os desembargadores Loraci Flores de Lima, Carlos Eduardo Thompson Flores e contra o juiz federal Danilo Pereira Júnior. De acordo com o CNJ, eles desobedeceram a uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli de suspender 28 ações penais vinculadas à Lava Jato.

Toffoli determinou a suspensão de 28 ações penais da Lava Jato Foto: Wilton Júnior/Estadão

Salomão, que também está à frente desses casos, disse na decisão que a conduta dos magistrados contribui “para um estado de coisas que atua contra a institucionalidade do País”.

A ordem de suspensão dos processos foi dada por causa da análise dos pedidos de suspeição do juiz federal Eduardo Appio. Salomão o manteve afastado dos casos da Lava Jato, mas trouxe para o CNJ o processo que apura a conduta do magistrado.

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