Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão divididos sobre os ataques do pastor Silas Malafaia ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Uma ala ameniza as críticas e diz que o ex-ministro integra o bolsonarismo. Outros conselheiros do ex-presidente, porém, endossam a fritura. Assim como Malafaia, esse grupo vê na aproximação de Tarcísio com o Poder Judiciário uma estratégia de se cacifar para a próxima disputa presidencial. Procurados, ex-presidente e governador não comentaram.
O racha antecipa a crise que pode afetar o bolsonarismo em 2026. Sem enxergar um sucessor imediato ao ex-presidente, o PL articula no Congresso uma anistia à inelegibilidade de Bolsonaro. Enquanto ele segue fora do jogo, cresce a disputa pelo espólio. Pesquisa Quaest divulgada em maio mostra Tarcísio como a figura mais forte da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar da resistência parcial no segmento.
Em declarações públicas, Malafaia tem lançado desconfiança sobre Tarcísio. Sugere uma suposta articulação do governador com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, para que Bolsonaro permaneça inelegível, abrindo espaço para um voo presidencial do ex-ministro.
“Em que lugar público o Tarcísio falou que a inelegibilidade de Bolsonaro é uma vergonha? Que a inelegibilidade Bolsonaro é perseguição pura do senhor Alexandre de Moraes?”, disse Malafaia à Coluna do Estadão nesta quarta-feira, 05. “Eu tenho uma máxima: amigo do meu inimigo não é meu amigo”, prosseguiu.
Um parlamentar com acesso direto ao gabinete de Bolsonaro no PL amenizou a situação. Sob reserva, argumentou que Tarcísio dá recorrentes demonstrações de fidelidade, e assegurou que o ex-presidente não está incomodado com a atuação do governador.
No outro flanco, influente conselheiro de Bolsonaro definiu o ataque de Malafaia a Tarcísio como “irretocável”. Também afirmou que o governador tem “nojinho” dos deputados bolsonaristas de São Paulo e evita os aliados do ex-presidente. Esse interlocutor criticou ainda a presença do ex-ministro em um jantar na casa do apresentador Luciano Huck, crítico ao bolsonarismo.
Apesar das críticas, a avaliação no núcleo descontente com Tarcísio é de que ele “ainda não” — nas palavras de uma fonte do grupo — pode ser considerado traidor, mas alguém sem “sinergia” com o bolsonarismo.
O principal incômodo dessa ala é com a aliança entre Tarcísio e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, secretário estadual de governo. Também pesa o fato de se manter nas fileiras do Republicanos, e não ter oficializado a transferência para o PL.
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