O aumento da taxa Selic previsto para a primeira reunião de 2025 do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, 29, já está precificado pelo governo e pelo PT. Mesmo assim, gera um clima de apreensão no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, absolutamente abatido com o resultado da pesquisa Quaest desta semana.
O levantamento constatou que a popularidade do governo e de Lula despenca. Um reflexo, principalmente, da insatisfação da população com a inflação. Esta, por sua vez, é consequência dos desajustes econômicos da atual gestão.
Os governistas sabem que só há chances de resgatar apoio popular se os cidadãos estiverem felizes com o próprio bolso, ou seja, com seu poder de compra. E, na falta do ajuste fiscal que pudesse melhorar o cenário, tentam compensar com expectativas de crescimento econômico. Entretanto, o que veem é uma desaceleração a caminho no semestre.
Nos bastidores essa preocupação existe, diante da ciência de que juros altos dificultam investimentos, elevam a taxa de inadimplência, além de afetar as contas públicas. Para o público, entretanto, a mensagem vai em outra direção, com alegações de que previsões negativas seriam puro pessimismo. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é uma das principais “porta-vozes” desta versão.
“Às vésperas da reunião do Copom, o pessoal do boletim Focus projeta aumento da inflação para 5,50% este ano. Ainda bem, para o Brasil, que eles erraram todas as ‘projeções’ catastrofistas sobre o comportamento da inflação e todos os outros indicadores econômicos, nos últimos quatro anos”, disse. A deputada reclamou, ainda, que os dados embasem a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central.
A alta de juros provoca pessimismo entre os petistas, que vão dar nova carga em críticas ao ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto. Afinal, estão de mãos atadas sem ter como criticar o atual chefe da instituição, Gabriel Galípolo, escolhido pelo presidente Lula.
Declaração do novo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), à Coluna do Estadão, sinaliza o tom político que será adotado nesta quarta. “Roberto Campos Neto deixou isso preparado na ata do último Copom. Galípolo não teria alternativa sem criar uma grande crise”, afirmou Lindbergh.
Essa retórica não resultará em melhoria nas contas, mas vai alimentar novamente o discurso governistas de transferir a responsabilidade sobre a economia para a gestão anterior do BC.
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Como mostrou a Coluna, aliados de Lula dizem que uma “tempestade perfeita” se abateu sobre o governo no primeiro mês de 2025. A avaliação surgiu a partir da constatação de que o reajuste no diesel discutido pela Petrobras vem no pior momento possível, quando o Palácio do Planalto ainda tenta contornar dois problemas que afetaram a popularidade presidencial: a “crise do Pix” e a alta nos preços dos alimentos.
Além disso, após o resultado amplamente negativo na pesquisa Quaest para Lula, que pela primeira vez viu sua reprovação superar a aprovação, petistas querem dar impulso a “pautas populares”. O revés na popularidade do chefe do Palácio do Planalto deu ainda mais argumentos para a ala do partido que defende o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil o mais rapidamente possível.
A Coluna também mostrou, em dezembro, que o PT tem duas expectativas principais sobre a chegada de Galípolo ao comando do BC: que ele contenha o câmbio com mais intervenções da autoridade monetária e, em paralelo, “fale bem” do governo a agentes do mercado.