Em menos de 24 horas, o alto escalão do governo federal ampliou seu desgaste frente à opinião pública com declarações e atos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. O petista cometeu mais uma gafe com uma fala considerada capacitista: “Vocês não vão me ver de andador, muleta, vão me ver sempre bonito”, disse ao comentar sua cirurgia no fêmur. Reincidência: ele já havia dito que pessoas com transtornos mentais têm “desequilíbrio de parafuso”.
Já a ministra apontou que não aceita questionamentos sobre suas ações. “É inacreditável que uma ministra seja questionada por ir fazer o seu trabalho de combate ao racismo e cumprir o seu dever”, disse ao ser criticada por usar avião da FAB para ir a São Paulo, um voo que pode custar até 70 vezes mais que a passagem numa companhia aérea. A lei permite a viagem. Mas as indagações sobre a responsabilidade fiscal e, principalmente sobre a rejeição aos questionamentos foram imediatas.
No caso de Lula, a reprimenda em tom mais elevado veio da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), tetraplégica desde os 26 anos. “Lamentável a fala capacitista do presidente. Que visão distorcida e equivocada sobre as pessoas com deficiência. Caminhar, seja com andador, muleta ou cadeira de rodas não enfeia ninguém, tampouco subtrai o potencial do ser humano... Passou da hora de o presidente estudar mais sobre o universo das deficiências e enaltecer a diversidade humana, ao invés de diminuir as diferenças. Isso sim seria bonito”, concluiu.
Na base governista, os episódios preocupam, principalmente os que envolvem o presidente Lula. As frases desastradas reforçam a leitura de que o petista não tem travas no discurso, portanto, os próximos anos podem ser tensos. Desgaste público significa presidente fraco. E presidente sem apoio popular fica refém do Congresso.
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