A advogada Angela Gandra iniciou nesta sexta-feira, 27, o processo de transição para assumir a Secretaria Municipal de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo em janeiro. Marcou as primeiras reuniões com os atuais integrantes da pasta para conhecer os projetos em andamento e, em entrevista exclusiva à Coluna do Estadão, garantiu que não vai desfazer o trabalho desenvolvido por Marta Suplicy (PT). “Negar tudo que foi feito atrás seria imprudência. Não vou negar a base. Quero partir do que já foi feito e fazer mais”, afirmou.
Filha do jurista Ives Gandra e ex-secretária nacional da Família no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, no governo Jair Bolsonaro, Angela costuma ser associada à agenda conservadora e católica. Mas ela descarta interferência da pauta de costumes em sua gestão. “Nem no ministério eu foquei na pauta religiosa. Estou aqui com a mentalidade plural. Sempre dialoguei com todos os partidos. Meu foco é no que nos une. Detesto polêmica”, ressaltou.
A futura secretária da gestão Ricardo Nunes diz que sua marca será “cuidar de cada pessoa”. Para isso, quer dar prioridade à segurança alimentar e atenção também aos imigrantes. “Sei que isso pode esbarrar na ação de outras secretarias, mas nenhum governo pode trabalhar sem transversalidade. Vamos ver o que outros países estão fazendo, quais parcerias podem ser firmadas com o Brasil, e fortalecer as relações com organismos internacionais. Vou ser uma ponte”, pontuou.
Ao anunciar a advogada para o cargo, Nunes destacou que Angela fala sete idiomas e tem uma “relação muito boa com o mundo”. Confira abaixo os principais pontos abordados na entrevista.
Qual deve ser o papel internacional da Prefeitura de São Paulo?
A prefeitura tem condições de estar mais engajada no cenário internacionalmente. São Paulo é uma cidade muito forte, cosmopolita, queremos buscar protagonismo. Acredito no trabalho de Ricardo Nunes. Vamos fortalecer o contato com agências internacionais, participar dos organismos. Vou me debruçar nas possibilidades com o Mercosul, nos impactos também. No México, por exemplo, há muito protagonismo dos distritos. Os municípios é que chegam a cada pessoa. Vamos olhar as experiências. O prefeito destacou, quando anunciou meu nome, que falo sete idiomas. Tenho contatos em vários países, em embaixadas e consulados, e vou procurá-los. Estou empolgada.
A senhora vai fazer pente-fino no trabalho realizado por Marta Suplicy, pretende desfazer o que foi feito na gestão dela?
Não conheço profundamente o trabalho. Não conheço os programas. Ainda tenho a primeira reunião com o atual secretário (Ricardo Gomyde) nesta sexta-feira, 27, para me informar. Negar tudo que foi feito atrás seria imprudência. Não vou negar a base. Quero partir do que já foi feito para fazer mais.
E pretende mudar a equipe que trabalha na pasta?
Não tenho a ideia de tirar as pessoas. Não faria sentido, se já há lá quem o Ricardo Nunes confia. Também não quero cargo político. Mas pretendo levar alguns diplomatas para ajudar no trabalho.
Seu nome é sempre associação à pauta conservadora e católica. Isso vai ser considerado na sua atuação na secretaria?
Meu foco é o cidadão. E quando eu falo de família não é só pauta de valores. É econômica e social. A família organizada trabalha melhor. Nem no ministério (da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos - gestão Bolsonaro) eu foquei na pauta religiosa. Estou aqui com a mentalidade plural. Sempre dialoguei com todos os partidos. Meu foco é no que nos une. Detesto polêmica. A marca da minha gestão será cuidar de cada pessoa.
Em quais projetos pretende focar?
Segurança alimentar é um deles. Na Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, onde é gerente jurídica) montei um departamento internacional com foco na segurança alimentar. Fizemos contato com países da Ásia. Não só a China. Avançamos com a Coreia do Sul. Podemos dar foco nas exportações de pequenos produtores. Vamos fazer acordos internacionais. Isso é uma forma de cuidar das pessoas. Olhar para os países e ver o que está sendo feito. Também olhar os imigrantes, os estrangeiros e naturalizados que estão no Brasil.
Mas isso pode esbarrar na atuação de outras secretarias, como a de Direitos Humanos?
Sei que isso pode esbarrar na ação de outras secretarias, mas nenhum governo pode trabalhar sem transversalidade. Vamos ver o que outros países estão fazendo, quais parcerias podem ser firmadas com o Brasil, e fortalecer as relações com organismos internacionais. Vou ser uma ponte. Por exemplo, um país está oferecendo bolsas. Vamos ver como podemos trazer para beneficiar as pessoas em São Paulo.
Assumir a secretaria é um passo para depois disputar um cargo eletivo?
Falam nessa possibilidade desde a época que eu estava no ministério com a Damares Alves. Primeiro para deputada. Depois para ser vereadora. Mas não me imagino. Papai fala que o cargo é um encargo. É um compromisso para servir. No me vejo no palanque, pedindo votos. Isso é uma missão. Peço a Deus sempre para me pôr onde eu puder servir. Então, não fecho uma porta (sobre disputar eleições).
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