O atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na última quarta-feira (13), vai obrigar Jair Bolsonaro (PL) a buscar mais apoio do centro e se afastar, ainda que por ora, da extrema direita. A avaliação foi feita à Coluna do Estadão por aliados do ex-presidente. Esses interlocutores admitiram temer que o episódio atrapalhe a tentativa de aprovar sua anistia no Congresso para retomar a elegibilidade em 2026.
A aproximação ao grupo político mais moderado não é exatamente nova. Um dos sinais da modulação, apontam, foi o afastamento de Bolsonaro em relação ao deputado Nikolas Ferreira (PL), que recentemente criticou acordos do partido com o centrão. Dentro do PL, há uma leitura de que, embora Bolsonaro também não seja um moderado, o gesto mostra que ele sabe fazer política.
Bolsonaro também estaria em busca de apoio de figuras como Michel Temer (MDB) e Gilberto Kassab (PSD), além de fortalecer relações com Valdemar Costa Neto e Tarcísio de Freitas (Republicanos), vistos pelo ex-presidente como “direita moderada”.
Para o cientista político Antonio Lavareda, o movimento de Bolsonaro é “muito imprevisível” e deve seguir uma abordagem de “atirar para todo lado” no início. “Tentativamente. Depois, escolhe um caminho”, disse ele à Coluna. Lavareda sugere que Bolsonaro deve observar a força do Centrão até 2026 antes de definir seu rumo final.
Vinícius Alves, diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), avalia que, com a inelegibilidade, é esperado que Bolsonaro tente se distanciar de grupos extremistas para viabilizar uma volta. “No entanto, considero difícil que Bolsonaro descole sua imagem da extrema direita, porque isso poderia lhe custar algum potencial de desempenho eleitoral”, pondera.
Alves ainda observa que, embora a direita tenha se fortalecido, ela não se unifica necessariamente em torno de Bolsonaro. Segundo ele, a direita agora inclui uma variedade de líderes e partidos, alguns mais afastados do centro, enquanto outros mais próximos ao extremo.
A professora de ciência política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que Bolsonaro sempre defendeu a violência e adotou posturas desrespeitosas aos pilares da democracia como estratégia política. Ela lembra que houve um deslocamento do espectro ideológico para a direita, onde “a esquerda virou centro-esquerda, o centro virou centro-direita e a direita virou extrema-direita”. Para Mayra, essa dinâmica pode influenciar a escolha de Bolsonaro sobre qual caminho seguir.
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