O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou cedo nesta sexta-feira, 29, ao almoço anual dos banqueiros, em São Paulo, antes mesmo da cúpula da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O clima no local era reticente, um dia após forte reação negativa do mercado financeiro ao pacote do corte de gastos. Em uma sala VIP, o chefe da equipe econômica ouviu três mensagens: “Que dureza!”, exclamou um dos presentes, segundo relatos. “Siga firme”, orientou outro. “Como podemos ajudar?”, indagou o terceiro.
Os banqueiros ficaram satisfeitos com a disposição do ministro em explicar as medidas de contenção de despesas. Apesar de ter sido coincidência o encontro cair no dia seguinte ao anúncio do pacote, pois já estava marcado, Haddad deixou evidente que estava ali para tirar todas as dúvidas sobre as intenções do governo. A vontade era tanta que, entre fazer um discurso no púlpito e ser sabatinado, ele preferiu a segunda opção, o que surpreendeu. Foi, então, entrevistado pelo presidente da Federação, Isaac Sidney, e pelo diretor de Comunicação da entidade, João Borges.
Além de Haddad, também estavam presentes as ministras Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação) e o futuro presidente do Banco Central e atual diretor de Política Monetária da instituição, Gabriel Galípolo. Os banqueiros viram no comparecimento em massa um esforço da equipe econômica para convencer que o País entrará em uma trajetória fiscal sustentável.
No entanto, Haddad recebeu dos banqueiros a avaliação de que há uma condição para que o corte de gastos seja visto com credibilidade e tenha o apoio do setor: é preciso deixar claro que a antecipação do anúncio sobre a faixa de isenção do Imposto de Renda foi um “erro de comunicação” do Planalto e não uma estratégia deliberada para contaminar o debate e fazer politicagem. O conselho foi para tratar os assuntos de forma separada e deixar claro que foi um equívoco, não populismo político. Ao passar essa imagem, o governo dá outros sinais negativos do que virá pela frente.
Haddad disse que não precisa convencer ninguém sobre sua defesa da responsabilidade fiscal porque acredita mesmo na necessidade de se equilibrar as contas públicas. Quando a pergunta se volta para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contudo, a resposta é diferente: é sempre necessário convencer o chefe a embarcar em medidas de ajuste. Aliado do Planalto, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), presente no almoço, afirmou que ninguém tem dúvidas de que o governo está no caminho certo, mas deu um “puxão de orelha” ao concordar com a avaliação de que o anúncio do IR foi um erro de comunicação.
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