Cercado de bolsonaristas durante um jantar esta semana em Brasília, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez uma previsão: a vida de seu sucessor no cargo, Gabriel Galípolo, será muito mais difícil, apurou a Coluna do Estadão. O argumento foi de que ele tinha, no governo Bolsonaro, o apoio da base aliada, ou seja, não sofria com “fogo amigo”. Já o próximo chefe da autoridade monetária, por essa avaliação, perderá o endosso do PT ao continuar na defesa do aumento de juros, considerado inevitável dado o cenário econômico do País e no exterior. Procurado, Campos Neto não comentou.
A constatação do presidente do BC já encontra respaldo nas redes sociais da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a Selic em um ponto porcentual nesta semana, a 12,25% ao ano, a petista reclamou, como de costume, mas com um adendo: escreveu que a decisão foi “para encerrar o ciclo do terrorismo de Campos Neto, a serviço do mercado”. Pela mensagem de Gleisi, caberá a Galípolo mudar o rumo da taxa de juros, o que é tido como improvável.
O jantar em que Campos Neto previu o futuro de Galípolo foi para comemorar sua posse como membro da Academia Internacional de Direito Econômico e Economia. O convescote reuniu uma lista de nomes do conservadorismo brasileiro. Do núcleo mais próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estavam lá a ex-primeira-dama Michelle, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC).
Também compareceram o ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra Martins Filho, a jurista Angela Gandra, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e a ex-secretária do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) Martha Seillier, que tem um filho com o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ).
“Um dia realmente de muita alegria”, escreveu Damares em publicação nas redes sociais, como legenda de uma foto com Michelle Bolsonaro e Campos Neto. Ives Gandra Filho, por sua vez, definiu o presidente do BC como “nosso Ayrton Senna da Economia”, em referência ao piloto de fórmula 1. “Seu legado à frente do Banco Central é inquestionável”, publicou Caroline de Toni. O jantar ocorreu em Brasília, na casa da presidente da Academia, Samantha Ribeiro Meyer.
Campos Neto termina neste ano seu mandato como presidente do BC. O banqueiro foi duramente criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo dos últimos dois anos enquanto o BC mantinha a taxa de juros elevada. Petistas diziam que ele queria sabotar o governo e lembravam que ele foi votar nas eleições de 2022 com a camiseta da Seleção Brasileira, que havia se tornado símbolo dos movimentos bolsonaristas. No governo anterior, ele costumava participar de churrasco com o ex-presidente Bolsonaro e fazia parte até mesmo de um grupo no WhatsApp com ministros.
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