O presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu o discurso contrário ao uso de GLO - Garantia da Lei e da Ordem - e teve de recorrer aos militares para reforçar a segurança pública e o combate ao crime organizado no País. O anúncio da medida, nesta quarta, 01, causou desconforto entre alguns petistas que atribuíram ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a “culpa” por ter que fazer o governo recorrer aos militares.
Entre os críticos, a reclamação foi de que, na expectativa de ser indicado ao Supremo Tribunal Federal e na ânsia de fazer seu sucessor na pasta, Dino escalou o secretário-executivo, Ricardo Cappelli, para ficar falando de segurança pública e colocou a crise no colo do governo Lula. Mas, sem um plano efetivo para o setor, o jeito foi apelar às Forças Armadas.
A medida vai na contramão do que o próprio presidente Lula havia falado e pedido desde o início de sua gestão. No primeiro semestre, por exemplo, o governo chegou a discutir com representantes das Forças Armadas mudanças e até, eventualmente, o fim do uso de GLO.
As conversas envolveram, entre outras pessoas, o próprio Dino. Uma das ideias, rechaçada entre representantes do Exército, por exemplo, conforme apurou a Coluna, envolvia dar autorização para a GLO ser determinada por ministros.
Em outra frente para contrariar os militares, Lula pediu ao Congresso a retirada do projeto de lei, apresentado na gestão Bolsonaro, que previa isentar militares e policiais de punição em ações durante operações de garantia da lei e da ordem.
Com a constatação de que a área mais impopular do governo é a da segurança, houve até a tentativa de lançar um plano nacional às pressas. Mas, como era mais anúncio que medida real, o jeito foi abandonar o discurso contra o apoio de militares e recorrer à GLO.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que costuma dar o tom do discurso da ala mais à esquerda do partido, foi às redes sociais defender as medidas anunciadas, mas sem citar o reforço militar na operação. “Segurança pública e combate ao crime é compromisso que Lula está cumprindo com iniciativas fortes, sem pirotecnia”, afirmou.
Flávio Dino nega mudança de postura do governo Lula com uso de GLO
O ministro da Justiça, Flávio Dino, negou que o governo Lula esteja mudando de postura, com o argumento de que a GLO será usada em áreas federais e não em locais onde atua a segurança pública estadual. https://www.estadao.com.br/politica/nao-quero-forcas-armadas-nas-favelas-brigando-com-bandido-diz-lula-sobre-acao-militar-no-rio/
“Essa GLO está incidindo sobre áreas federais e, portanto, o presidente da República, quando falou reiteradas vezes, inclusive na semana passada, se referia a GLOs em bairros, ruas, comunidades. Isso não está ocorrendo agora. Essa GLO incide sobre áreas que já são federais”, disse Dino na entrevista de anúncio das medidas.
O presidente Lula deixou a coletiva antes de responder perguntas dos jornalistas.
Na semana passada, Lula afirmou que não enviaria as Forças Armadas para intervir na crise de segurança pública do Rio de Janeiro. Não foi só: avisou que, enquanto ocupar o Palácio do Planalto, não haveria decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
“Eu não quero as Forças Armadas nas favelas brigando com bandido. Não é esse o papel das Forças Armadas e, enquanto eu for presidente, não tem GLO. Eu fui eleito para governar esse País e vou governar”, disse Lula em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto.
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