O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, aceitou se submeter à “entrevista de emprego” com o ex-candidato do PRTB, Pablo Marçal (PRTB), nesta sexta-feira, 25. Atrás nas pesquisas de intenção de voto e decidido a seguir num tudo ou nada para conquistar eleitores na reta final da campanha, Boulos assumiu o risco de enfrentar as pegadinhas do ex-coach. Caiu em algumas delas e só conseguiu do empresário a declaração de que não teria seu voto “jamais”.
“Que Deus tenha piedade de São Paulo. Você já sabe que meu voto você não tem”, afirmou Marçal no encerramento da sabatina com uma hora de duração. Antes disso, já tinha sido mais enfático: “Para ser bem verdadeiro, apesar de eu estar elegante com você na postura de entrevistador, eu não voto na esquerda jamais”.
Mas isso nem de longe representou qualquer apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que não aceitou participar do encontro. “Até agora na minha cabeça, o número cinco não funciona na urna, nem de 15 nem de 50... Acredito que haverá a maior abstenção da história”. O próprio Marçal disse não saber se voltará de Roma, na Itália, onde está a passeio com a família, para votar no próximo domingo.
Tentando adotar uma linguagem que se aproximasse mais dos eleitores de Marçal, Boulos usou incontáveis vezes a expressão “cara”. A cada resposta, e várias vezes até concluir o raciocínio sobre os temas indagados. Ao final da conversa, disse que considerou a condução de Marçal “respeitosa, sem ataques”. Em resposta recebeu um aviso: “Não espere por isso quando a gente estiver no embate político disputando alguma coisa. Você joga de um lado e eu jogo do outro”.
Para Pablo Marçal, os dois serão adversários políticos em muitas disputas futuras, pelos próximos trinta anos, por exemplo numa corrida ao governo do Estado e à Presidência da República.
Um dos momentos mais “perigosos” e com potencial de tirar mais votos de Boulos dentro do público marçalista foi quando o entrevistador citou nomes de políticos e pediu para o candidato falar deles em uma palavra. Considerando que muito dos eleitores da extrema-direita que apoiaram Marçal nem sequer admitem que houve ditadura militar e têm como DNA o antipetismo, Boulos ficou em maus lençóis com as seguintes respostas:
“Bolsonaro foi um péssimo presidente no Brasil”.
“Fernando Henrique não representa as ideias que eu acredito”.
“Dilma Roussef, uma mulher corajosa que enfrentou desde tortura na ditadura militar a depois todos os ataques que sofreu no governo”.
“Tarcísio, um governador ruim para São Paulo”.
Uma certeza é de que o empresário só ajudou a si mesmo, conquistando mais seguidores. Seus “fãs” enviaram várias mensagens elogiosas durante a transmissão ao vivo. Pelas conversas não dava para saber se o psolista conseguiu, de fato, virar algum voto, mas ficava clara a atuação de sua “claque” no chat, repetindo seu número na urna insistentemente.
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