Um dia após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto e pavimentar seu retorno ao PT, a ex-senadora Marta Suplicy (sem partido) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) agora articulam um encontro presencial para “testar a liga” entre os dois, condição para que a aliança entre eles seja confirmada. A reunião pode acontecer já nesta semana.
Como revelou a Coluna ainda na manhã de segunda-feira, um dirigente petista vê 99% de chances de Marta ser a vice de Boulos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, faltando apenas ela formalizar sua demissão ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), rival do pré-candidato do PSOL nas eleições municipais. O 1% restante que anularia toda a costura política feita pelo presidente da República seria a falta de química no encontro entre Boulos e Marta, um cenário considerado improvável.
A ex-prefeita é secretária municipal de Relações Internacionais e disse ontem a Lula que precisa conversar com Nunes. Marta está em férias na prefeitura e só retorna na semana que vem, mas o PT cobra um pedido de demissão o mais rapidamente possível, nem que seja por uma carta.
Apesar de ainda não ter sido avisado de nada, o prefeito de São Paulo já calcula os efeitos políticos de ver a secretária trocar de lado na polarização municipal. Como revelou a Coluna, auxiliares de Nunes entendem que ela estará “de mãos atadas”: por ter trabalhado com o prefeito por três anos, não poderá criticar a gestão da capital paulista durante a campanha.
O pré-candidato do PSOL entende que a ex-senadora pode ajudá-lo nos votos na periferia, onde tem recall dos tempos de prefeita (2001-2004), enquanto ela dirá que não tem como permanecer na chapa de Ricardo Nunes após o pedido de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Sem atirar em temas caros a eleições municipais, como a fila no posto de saúde ou o asfalto nas vias públicas, Marta — na análise dos emedebistas — terá de de adotar uma retórica totalmente político-ideológica. Ou seja, a secretária terá um único argumento para criticar Nunes, que é o acordo com Bolsonaro, a quem ela chama de “psicopata”.
Nas fileiras petistas, porém, a aposta é que a disputa municipal deste ano terá exatamente tal caráter político-ideológico e reproduzirá a polarização entre Lula e Bolsonaro.
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