A candidata do PT à prefeitura de Aracaju (SE), Candisse Carvalho, que neste ano se autodeclarou branca à Justiça Eleitoral, passou em concurso público em 2016 nas vagas reservadas à política de cotas raciais. Ao disputar o cargo público na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) — vinculada ao Ministério da Educação (MEC) — à época, ela havia se declarado como parda.
Em nota, Candisse, que não chegou a assumir o cargo, afirmou ter concorrido via política de cotas por uma “visão social”. “A miscigenação, tão comum no Brasil, me fez não perceber a complexidade das questões raciais. Com o tempo e meu envolvimento político, percebi que a política de cotas é mais do que só se identificar; é uma resposta a séculos de injustiça contra a população negra e parda no Brasil”, declarou a candidata do PT.
“Reconhecer que sou branca no ato registro eleitoral é um passo importante para que eu possa estar nas trincheiras contra o preconceito. Saber onde estou na sociedade me ajuda a ser uma aliada na luta por justiça racial”, acrescentou Candisse. Ela é casada com o senador Rogério Carvalho (PT-SE) e disputa o seu primeiro cargo eletivo.
Como mostrou a Coluna do Estadão, a candidatura de Candisse à prefeitura de Aracaju causou um racha no PT de Sergipe. Enquanto Rogério Carvalho negociava a indicação da esposa, o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) defendia apoio a Luiz Roberto (PDT). Carvalho e Macêdo são desafetos políticos.
Veja, abaixo, a nota de Candisse:
“Quando me inscrevi no concurso da Ebserh há 8 anos, como parda, fiz isso por causa de uma visão social que sempre esteve presente na minha vida. Foram várias gerações sem uma compreensão específica da própria autodeterminação. A miscigenação, tão comum no Brasil, me fez não perceber a complexidade das questões raciais.
Com o tempo e meu envolvimento político, percebi que a política de cotas é mais do que só se identificar; é uma resposta a séculos de injustiça contra a população negra e parda no Brasil. Essa política busca corrigir desigualdades que ainda existem e que afetam o acesso à educação, ao trabalho e a outros espaços de tomada de decisão. Reconhecer que sou branca no ato registro eleitoral é um passo importante para que eu possa estar nas trincheiras contra o preconceito. Saber onde estou na sociedade me ajuda a ser uma aliada na luta por justiça racial.
A verdadeira solidariedade exige que eu reconheça meus privilégios e use essa consciência para questionar as injustiças. É importante que a gente continue discutindo e entendendo a nossa identidade racial e suas consequências, levar a consciência para as escolas, especialmente aqui em Aracaju.”
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