Em um clima descrito como “descontraído” e “muito positivo”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promoveu na tarde deste sábado, no Palácio da Alvorada, um churrasco para ministros do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF) logo após o desfile cívico-militar de 7 de Setembro, em Brasília. Um dos convidados foi o ministro Alexandre de Moraes, que a cerca de mil quilômetros dali era criticado por bolsonaristas organizados na Avenida Paulista, em São Paulo.
A manifestação virou tema de piadas no churrasco de Lula, à base de costela e feijão tropeiro. “Alexandre, já já começam as suas homenagens”, ironizou um ministro de Estado, arrancando risos dos presentes. Moraes estava de bom humor e, segundo relatos, em nenhum momento demonstrou preocupação com o ato que pedia seu impeachment. Ninguém usou o celular para acompanhar o protesto.
O Supremo estava bem representado no Alvorada. Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Luís Roberto Barroso e até Dias Toffoli, que ainda mantém uma relação tensa com Lula, prestigiaram o almoço. Em 2022, Toffoli pediu perdão ao presidente por tê-lo proibido de deixar a prisão em Curitiba para acompanhar o velório do irmão Vavá, mas a proximidade entre eles nunca mais foi a mesma.
Da parte do governo, estiveram na residência oficial da Presidência da República os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Jader Filho (Cidades), José Múcio Monteiro (Defesa), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e Paulo Pimenta (Apoio ao Rio Grande do Sul). Wellington Dias (Desenvolvimento Social) fez uma rápida passagem.
Apesar de ter representado o Congresso no desfile de 7 de Setembro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não foi ao churrasco. A primeira-dama Janja da Silva, como informou a Coluna do Estadão, está em viagem ao Catar. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ficou em Alagoas para atividades de campanha.
Em momentos de menor descontração, ministros comentaram a mais recente polêmica do governo federal, a demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos por denúncias de assédio sexual. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, seria uma das vítimas. De acordo com relatos, todos os presentes lamentaram o episódio e concordaram que o agora ex-ministro não reunia condições de permanecer no cargo.
O convescote no Alvorada evidencia a aliança entre o STF e Lula, que tem feito desagravos a Moraes, alvo preferencial dos bolsonaristas. Em uma demonstração inequívoca de prestígio por parte do cerimonial da Presidência, o magistrado foi alocado na primeira fileira, ao lado dos chefes de Poder, e aplaudido pela plateia.
Na noite de sexta-feira, 6, o discurso oficial de 7 de setembro, Lula reforçou, embora indiretamente, seu apoio a Moraes no impasse com o bilionário Elon Musk, dono do X. A rede social foi suspensa pelo magistrado, em decisão depois confirmada pela primeira turna do STF, por se negar a designar uma representação legal no Brasil.
“Nenhum país é de fato independente quando tolera ameaças à sua soberania. Seremos sempre intolerantes com qualquer pessoa, tenha a fortuna que tiver, que desafie a legislação brasileira. Nossa soberania não está à venda”, afirmou o presidente, em rede nacional de rádio e televisão.
Dentro do governo, sob reserva, alguns auxiliares palacianos veem excesso na decisão do Supremo, mas entendem que a Corte não teve alternativa diante da intransigência do bilionário sul-africano. A suspensão do X é contestada pela oposição, que vê censura, e pede a volta do antigo Twitter.
Turbinada pelo fim da rede de Musk, a rejeição a Moraes cresceu após a Folha de S.Paulo divulgar mensagens que relevam processos fora do rito durante sua passagem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na próxima segunda-feira, 9, a oposição deve protocolar um processo de impeachment contra o magistrado, mas a pauta não deve prosperar no Senado.
Essa rivalidade entre Moraes e o bolsonarismo ficou explícita neste sábado, na manifestação em São Paulo, menor que protestos anteriores. No carro de som, o ex-presidente Jair Bolsonaro chamou o rival de “ditador” e clamou o Senado a freá-lo. Sob o coro de “Fora, Xandão”, manifestantes evidenciaram o apoio a Musk.
Correções
Após a publicação desta nota, a assessoria de imprensa do STF afirmou à Coluna que o ministro Edson Fachin não compareceu ao churrasco, como informava a primeira versão.
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