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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

Conservadores fazem ofensiva contra união homoafetiva na Câmara

Comissão da Câmara dos Deputados votará o Projeto de Lei na terça para proibir casamento gay

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Foto do author Augusto Tenório
Atualização:

A bancada conservadora na Câmara dos Deputados resgatou um projeto de Clodovil Hernandez (1937-2009) e inverteu a ideia do ex-deputado, traçando uma estratégia para avançar contra a união homoafetiva no Congresso. Os conservadores querem rejeitar a proposta original que é favorável à união gay e aprovar um texto proibindo a equiparação de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo ao casamento ou a entidade familiar.

O deputado Fernando Rodolfo (PL-PE) Foto: GIlmar Félix / Câmara dos Deputados

O que dizem os projetos

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O projeto de Clodovil, o PL 580/2007, admite que duas pessoas do mesmo sexo podem constituir união homoafetiva por meio de contrato e prevê que esses casais terão os mesmos direitos que os heterossexuais. Ao texto, foram juntados oito propostas que versam sobre o tema.

No parecer do relator, o deputado Pastor Eurico (PL-PE), todos os textos são rejeitados, menos o PL 5167/2009. Esse projeto determina que “nenhuma relação entre pessoas do mesmo sexo pode equiparar-se ao casamento ou a entidade familiar.”

Eurico tenta justificar: “A Carta Magna brasileira estabelece em seu art. 226 que a família, base da sociedade, com especial proteção do Estado, reconhece a união estável como entidade familiar apenas entre homem e mulher. Nesse diapasão, qualquer lei ou norma que preveja união estável ou casamento homoafetivos representa afronta direta à literalidade do texto constitucional”.

No entanto, em maio de 2011, de forma unânime, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres, reconhecendo, assim, a união homoafetiva como um núcleo familiar. A decisão foi tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132.

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O relator das ações, ministro Ayres Britto (aposentado), ressaltou que a Constituição veda qualquer discriminação em razão de sexo, raça, cor e que garante à família, “base da sociedade”, a proteção especial do Estado. Em seu voto disse que trata-se da família “em seu coloquial ou proverbial significado de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou informalmente constituída, ou se integrada por casais heterossexuais ou por pessoas assumidamente homoafetivas”.

Comissão é dominada por conservadores

Os parlamentares conservadores não acreditam que o texto final prospere no plenário da Câmara, mas afirmam que o objetivo final é criar um fato político para questionar uma jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconhece a união homoafetiva.

Esses projetos serão votados às 10h da próxima terça-feira, 5, na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família (CPASF). A pauta foi confirmada à Coluna pelo presidente do colegiado, o deputado Fernando Rodolfo (PL-PE).

A Comissão é dominada por conservadores. Três bolsonaristas compõem a mesa: Fernando Rodolfo é o presidente; Filipe Martins (PL-TO), primeiro vice-presidente; e Rogéria Santos (Republicanos-BA), segunda vice-presidente.

Além do domínio da mesa e, consequentemente, da pauta, os conservadores também possuem maioria dos votos na comissão. Eles representam pelo menos dez dos 17 titulares da comissão.

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“Quem faz lei no Brasil é o Congresso Nacional, não é o Supremo Tribunal Federal, não pode ser uma jurisprudência. Espero na terça-feira um debate maduro entre a esquerda e a direita, e abriremos o plenário para os movimentos que quiserem acompanhar a reunião”, disse Fernando Rodolfo.

A deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) reagiu e alertou para o retrocesso que está sendo articulado. “Não reconhecer a união homoafetiva, que é uma realidade no Brasil e no mundo, é um retrocesso. Se a matéria for rejeitada, estaremos negando direitos e excluindo as pessoas por causa de suas relações. Todo ser humano deve ser dotado de direitos e garantias fundamentais, e reconhecer a união homoafetiva, no rol de direitos, é essencial para o exercício da cidadania e para trazer dignidade indistintamente”, comentou.

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