A CPMI do 8 de janeiro aprovou a quebra de sigilo fiscal do Instituto Sagres - Política e Gestão Estratégica Aplicadas, consultoria de militares da reserva que recebeu mais de R$ 720 mil em contratos com o governo federal. A entidade é presidida pelo coronel da reserva Raul Sturari, e tem entre seus diretores os generais da reserva Ridauto Lúcio Fernandes e Luiz Eduardo Rocha Paiva. Os três também foram alvo de pedidos de quebra de sigilo, apresentados pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA), e já aprovados.
O principal alvo nessa ofensiva é Ridauto, diretor de Segurança e Defesa do Sagres, que aparece em imagens nos atos golpistas. Ele foi diretor de Logística do Ministério da Saúde durante a gestão do general Eduardo Pazuello e, durante a pandemia, defendeu adoção de medidas como “intervenção federal” e “Estado de Defesa ou de Sítio”.
Em nota, o instituto Sagres afirmou que seus integrantes “sempre pautaram suas ações pela legalidade e pelo rigoroso cumprimento de toda normativa que rege o trato financeiro, nada tendo a temer”. “Estamos convictos que quaisquer suspeitas serão completamente afastadas e que restará sobejamente demonstrado que nunca houve - e nem há - quaisquer ligações financeiras entre as pessoas citadas (físicas e jurídica) e os atos investigados pela CPMI”, completa a nota.
A estratégia da CPMI vem no mesmo momento em que o presidente da comissão, Arthur Maia (União-BA), vem sendo cauteloso com relação ao avanço sobre militares. Como revelou a Coluna, ele se encontrou no último dia 23 com a cúpula do Exército. O comandante da Força, o general Tomás Paiva, chegou a afirmar no Dia do Soldado que “desvios de conduta” serão “repudiados e corrigidos”.
Verba federal e defesa do golpe
De acordo com o Portal da Transparência, o Sagres recebeu R$ 720.856,84 em recursos do governo federal entre 2014 e 2021, sendo R$ 200 mil durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2021, a entidade recebeu R$ 161.500 da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) entre as despesas com o Fórum do Desenvolvimento do Semiárido 2020.
Em 2014, durante o governo Dilma Rousseff (PT), o Sagres recebeu R$ 445 mil em contratos firmados pela Amazônia Azul Tecnologia de Defesa S.A (Amazul), estatal criada em 2013 para desenvolver tecnologias do Programa Nuclear da Marinha (PNM) e do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).
Entre os posicionamentos públicos do Sagres, está a classificação do golpe militar de 1964 como um “movimento cívico militar” e a participação na elaboração do “Projeto de Nação”, documento lançado em maio de 2022 junto ao Instituto General Villas Boas e o Instituto Federalista. Nele, os militares traçaram um plano que previa a manutenção do bolsonarismo no poder até 2035.
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