A deputada republicana Maria Elvira Salazar, representante da Flórida na Câmara dos Deputados americana, criticou os líderes de esquerda da América Latina por posicionamentos sobre Israel durante audiência no Congresso dos Estados Unidos e incluiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ter comparado a ação israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto. No momento de citar o brasileiro, no entanto, errou o nome do presidente, chamando-o de Gustavo Lula da Silva.
A deputada ressaltou que Colômbia, Honduras e Chile chamaram de volta seus embaixadores “após Israel ter começado a se defender”. Também destacou que a Bolívia cortou relações diplomáticas com o país. E continuou: “(Na) Colômbia, o presidente Gustavo Petro comparou Israel aos nazistas dizendo que eles tratam Gaza como o gueto de Varsóvia. (...) (No) Brasil, o presidente Gustavo Lula da Silva disse que Israel estava repetindo o holocausto e que os israelenses são os novos nazistas dessa Era”.
A republicana também chamou atenção para a relação política desses líderes com o atual presidente dos Estados Unidos. “É mais preocupante para nós que esses líderes sejam os parceiros favoritos do governo (Joe) Biden no hemisfério ocidental”, disse ela.
Maria Elvira Salazar participava da abertura da sessão realizada pelo Subcomitê de Assuntos do Hemisfério Ocidental, que integra o Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA. Na ocasião, questionava a enviada especial para combate ao antissemitismo do Departamento de Estado dos EUA, Deborah Lipstadt, sobre as consequências para esses países pelas declarações a respeito de Israel. Lipstadt concordou com a republicana sobre a fala de Lula e disse que foi “muito ruim”.
Em fevereiro, Lula abriu uma crise diplomática com Israel ao dizer que “o que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”. O presidente brasileiro tem dito que há um genocídio em curso em Gaza, em crítica à reação de Israel ao ataque do grupo terrorista Hamas realizado em outubro do ano passado.
A deputada criticou o que chamou de “explosão de antissemitismo” na América Latina.
A representante do governo americano não dirigiu inicialmente nenhuma crítica ao Brasil. Sobre o País, ela mencionou números sobre o aumento nos incidentes antissemitas desde outubro. “O Hemisfério Ocidental tem sido um foco fundamental dos nossos esforços para combater o crescente antissemitismo global já há algum tempo”, afirmou.
A deputada perguntou, então: “Quer eles (países da América Latina) gostem de nós ou não, eles precisam de nós. Você é a representante dos EUA (quando viaja aos países da América Latina). Quais as consequências para Petro ou Lula ou Zelaya por estarem insultando Israel, um dos nossos mais importantes aliados no Oriente Médio?”.
“Quando vou a esses países ou quando nos encontramos os representantes deles aqui nós indicamos de forma inequívoca que essas afirmações estão fora de equilíbrio”, disse Deborah Lipstadt.
“Mas como eles respondem pelo que fazem? O que acontece com o Brasil, por exemplo?”, continuou a deputada.
“Quando o presidente Lula fez a afirmação comparando as ações de Israel com as ações de Hitler...“, disse a representante do Departamento de Estado.
A deputada interrompeu: “É muito ruim, não é?”.
“Eu diria que é tão ruim quanto se pode ficar, não consigo imaginar ainda pior”, afirmou Deborah Lipstadt. Na sequência, ela disse que tem informação de que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chamou a atenção de Lula pela declaração, no encontro que os dois tiveram.
Deborah Lipstadt também afirmou durante seu discurso inicial que os EUA estão “desapontados que alguns países latino-americanos, incluindo a Bolívia, optaram por suspender ou cortar relações diplomáticas com Israel desde o conflito Israel-Hamas e que alguns outros, incluindo Honduras, Chile e Colômbia, chamaram de volta seus respectivos embaixadores em Israel para consultas”. “Não acreditamos que a redução dos canais diplomáticos funcione em prol do nosso objetivo de promover uma solução a longo prazo para a crise”, disse a representante da diplomacia americana, sem citar novamente o Brasil.
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