A escolha do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, nesta quarta-feira, 27 – no qual anunciou o pacote do corte de gastos –, provocou muitas interpretações no mercado da política. Não sem motivo: geralmente, quem recorre a esse tipo de expediente é o presidente da República.
No diagnóstico de aliados do governo, os holofotes sobre Haddad no horário nobre deixaram evidente que ele é o nome ungido por Lula para ser o seu herdeiro, seja nas eleições de 2026 ou mais adiante.
Ministros do PT dizem, porém, que a escolha foi motivada por uma questão bem mais pragmática: Lula nunca quis dar notícia ruim. Tanto é assim que, apesar das críticas do mercado financeiro, a estratégia de marketing do governo foi encaixar no pacote uma bondade, ou seja, o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, antiga promessa da campanha petista.
Além disso, o anúncio foi embalado por slogans produzidos pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, como “Brasil mais forte – Governo eficiente, país justo”.
Na apresentação das propostas que serão enviadas ao Congresso destacam-se motes como “Estamos no caminho certo: o Brasil vai bem” e “Cuidar da nossa casa: medidas necessárias para fortalecer a nova regra fiscal”.
O termo corte de gastos, por exemplo, é substituído por “economia” para “consolidar” o compromisso com a sustentabilidade fiscal. “Tenham fé de que que seguiremos construindo um país onde todos possam prosperar pela força de seu empenho e trabalho”, afirmou Haddad no pronunciamento.
Lula sempre diz que será candidato a novo mandato, daqui a dois anos. Em uma recente entrevista à CNN Internacional, no entanto, ele observou que vai deixar para pensar a disputa de 2026 somente “em 2026″.
Na prática, todos sabem que não é assim. Lula quer e tentará concorrer a novo mandato, mas sua decisão final depende do cenário político e econômico. Isso quer dizer que ele não vai se arriscar se o governo não estiver bem e caso perceba que corre risco de ser derrotado pela direita.
Sempre que é questionado sobre sua idade, pois terá 81 anos em 2026, o presidente costuma repetir que não é jogador de futebol para pendurar as chuteiras por causa disso.
De qualquer forma, o fator Haddad está posto. Sob reserva, um dirigente de partido aliado do governo lembrou que o ministro da Fazenda sempre foi considerado “o mais tucano dos petistas”. Agora, no entanto, virou “o mais lulista” do PT. E até mesmo quem costuma divergir de suas ideias nas fileiras petistas elogiou as medidas anunciadas para o governo se enquadrar no arcabouço fiscal.
Foi o caso da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que aplaudiu o titular da Fazenda após a exposição feita por ele à bancada do partido na Câmara e no Senado, na noite desta quarta-feira, 27. O marqueteiro Sidônio Palmeira estava presente à reunião, dando uma “força” para Haddad.
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